Como costumavam ser os lanches em seus recreios durante o período escolar? Entre as inúmeras lembranças que podem vir à mente, dizer que “ comidas naturais ” estavam na lancheira é bastante improvável, certo? Embora isso ainda seja difícil de encontrar, a empreendedora Larissa Souza, de 37 anos, faz parte do 'time' que luta para mudar esse padrão nada saudável no País, promovendo a transformação para ao menos 20 mil estudantes brasileiros. E essa história começou com um investimento de apenas R$ 3 mil.
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Em 2016, Souza oficializou, com a ajuda de uma amiga nutricionista, a Snack Saudável , uma empresa do município de Ji-Paraná, em Rondônia, que tem a proposta de vender "kits de lanches saudáveis" para estudantes de dois a 17 anos. E apesar de um investimento inicial tão baixo, o negócio deu certo e faturou R$ 1 milhão no final do ano passado.
Lição de casa
A história teve início há pouco tempo. Larissa Souza conta que preparava a lancheira de sua filha mais velha, de seis anos, todos os dias e, diferente da maioria dos colegas da mesma turma, a garota levava uma fruta, um suco natural e alimentos caseiros para o recreio.
Até que, em novembro de 2015, a então assistente social teve o insight de transformar a 'intervenção' diária na alimentação da filha em uma oportunidade de oferecer às outras crianças a mesma refeição saudável e, de quebra, fazer negócio.
Como parte da análise de mercado, Souza foi até a escola para saber o que as crianças costumavam lanchar. E o resultado das visitas não surpreendeu a empresária: achocolatado, suco de caixinha, nuggets e bolachas recheadas eram alguns dos lanches comuns nos recreios.
Além da pesquisa para o futuro empreendimento, Larissa vivia um momento complicado. Como trabalhava de manhã em um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e à tarde em um abrigo para menores, a empresária praticamente não via as filhas durante o dia, e enxergava, na futura empresa, a chance de poder ficar mais tempo com elas.
Clientela exigente
Ok, Larissa tinha em mãos o ‘motor’ para empreender e a certeza de que as crianças não estavam se alimentando muito bem, mas como convencer essa clientela de que uma fruta, um suco natural e um carboidrato assado são mais interessantes do que biscoitos recheados?
“Normalmente, as crianças são seletivas com alimentos e por causa da vida corrida que os adultos levam, cada vez mais se consome mais produtos industrializados. Isso faz com que muitas crianças tenham dificuldade em comer frutas, beber sucos e consumir alimentos ‘de verdade’”, analisa a empresária.
Por isso, Larissa pensou em apresentar um produto que chamasse a atenção das crianças pelo teor lúdico, como canudos artísticos, frutas cortadas em formatos diferentes e embalagens criativas. Além disso, o kit diário de R$ 10 ou o kit mensal de R$ 170 oferecem praticidade aos adultos responsáveis, já que os lanches são entregues para os estudantes na hora do intervalo.
Segundo a empreendedora, a "alimentação contagiante" também é uma das estratégias do negócio. Afinal, quem nunca 'ficou de olho' no lanche de um amigo da escola com aquela vontade de dar uma bela mordida?
“Ao ver os amigos consumindo as refeições saudáveis, as crianças acabam pedindo [o kit] para os pais, o que acaba estimulando uma melhor alimentação”, conta empresária.
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A empreendedora
Embora a empreendedora tenha um negócio de alimentos saudáveis, Larissa revela que nem sempre teve uma nutrição balanceada, ainda mais quando se lembra dos tempos de escola. Criada em uma família de classe média, a baiana da cidade de Ilhéus, que mais tarde se mudou para Ji-Paraná, conta que sua mãe sempre teve de trabalhar fora para garantir o sustento da casa e que, por isso, não tinha tempo para preparar lanches para os três filhos.
Por isso, salgados fritos, refrigerantes e temperos industrializados sempre fizeram parte da vida da empresária, até que ela se casou e passou a ter um controle maior sobre a alimentação, encontrando o equilíbrio nos alimentos naturais.
Agora, a relação da empresária com o mundo dos negócios é mais antiga. Pode-se dizer que veio ‘de berço’. Isso porque o avô materno teve uma mercearia a vida toda, o pai foi representante de uma empresa de doces por seis anos, o irmão tem uma fábrica e uma loja de pré-moldados de churrasqueiras e pisos há oito anos.
Com toda a família para se inspirar, aos 13 anos de idade, Larissa começou a fabricar e a vender caixas artesanais de presentes para o comércio de Ilhéus. “Fiz isso por um ano e parei para não comprometer os estudos. Mas, depois, voltei para as vendas por meio da comercialização de cosméticos e, posteriormente, óculos”, conta.
E o histórico da empresária de 37 anos não para por aí. Depois que se casou, ficou um período desempregada e decidiu vender trufas para garantir o pagamento das parcelas da primeira casa própria e do carro. Sucesso. Não ficou inadimplente um mês sequer. “Sempre fui muito 'virada'", diz orgulhosa.
‘Virada’ e corajosa
Lembra-se que Larissa investiu apenas R$ 3 mil na Snack Saudável? Quando questionada sobre isso, a empresária é direta e justifica que esta foi a quantia investida porque simplesmente era tudo o que tinha. Como fundou o novo negócio em casa, como MEI, a empresária começou utilizando equipamentos próprios, então teve que direcionar o investimento de modo certeiro, ou seja, somente para embalagens, divulgação e insumos.
Outro risco superado por ela foi em relação aos antigos empregos. “Era um momento de crise, que as pessoas estavam retraídas no mercado, por isso fui corajosa e decidi sair dos dois empregos para encarar a loucura de empreender”, relembra.
Com poucos dias, todo o investimento foi recuperado e, em apenas duas semanas, a Snack Saudável passou a atender 60 clientes fixos.
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E não para por aí: com pouco mais de um ano de negócio e com grande demanda de pessoas interessadas da empresa, Larissa transformou a Snack Saudável em franquia em janeiro de 2017 e já conta com 37 franquias espalhadas pelos estados do Pará, Rondônia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Até dezembro do ano passado, a rede iniciada com um tímido investimento
de R$ 3 mil tinha faturado R$ 1 milhão. Em relação ao futuro, a empreendedora disse que pretende, em breve, atender bebês e crianças de até quatro anos de idade com papinhas fases 1, 2 e 3.
Maternidade e empreendedorismo
Após todas as superações, Larissa faz um balanço sobre a maternidade e encara o esforço vivido como algo que valeu a pena. “Atualmente, costumo ir para casa às 10h30 para me dedicar à vida escolar das minhas filhas e estar presente no almoço delas. Também consigo buscá-las todos os dias na escola e ir com elas para a casa da minha mãe. Foi a maternidade que me impulsionou ao empreendedorismo e hoje considero que consigo administrar o tempo para termos mais qualidade de vida juntas”, finaliza.