Empresária de sucesso no ramo de joias investe no potencial feminino para setor
Presidente do Mujeres Brillantes, Ali Pastorini criou grupo diante de um paradoxo nas joalherias: "na maioria das vezes, os consumidores finais, na verdade, são consumidoras, mas os líderes do mercado são homens”
Por Denise Kanda | - Brasil Econômico |
“No começo, eu percebia que precisava mostrar cinco ou seis vezes mais a minha capacidade do que um homem que estava na mesma posição profissional que a minha”. Tal declaração diz respeito ao setor empresarial de joalheria e foi dada pela empreendedora Ali Pastorini, da Del Lima Joias. No entanto, não é difícil encaixar essa mesma fala em outras profissões e negócios.
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De acordo com uma pesquisa divulgada em março deste ano pelo IBGE, em 2016, as mulheres ocupavam apenas 37,8% dos cargos gerenciais do País. O levantamento aponta ainda que a participação feminina nesses cargos de chefia e na liderança de negócios era mais considerável entre mulheres de até 29 anos, quando a porcentagem chegava a 43,4%. Além de mulher, Ali tem 35 anos.
Há uma intensa competitividade por ser mulher e jovem, a maioria dos líderes dos negócios são homens com mais de 50 anos
Embora os números evidenciem o quanto a história da empresária é ímpar dentro das estatísticas – e Ali sabe bem disso –, a empreendedora decidiu ir além da conquista individual. Por isso, abriu um grupo destinado exclusivamente às mulheres do setor de joalheria, o Mujeres Brillantes, com o que Ali tem o objetivo de ajudar as colegas de trabalho a ficarem melhor preparadas para atuar na área.
Ela lembra que a iniciativa veio de um descontentamento pessoal. “Era no momento de fechar negócios em reuniões com outros empresários que eu sentia mais dificuldade por ser mulher. Mas os desafios se tornaram maiores em 2015, quando me tornei vice-presidente de uma bolsa de diamantes internacional”, recorda.
Ali relembra que foi nesse instante que ‘caiu a ficha’ da real gravidade do preconceito com a mulher no ramo, já que poucas ocupavam e ainda ocupam cargos de alto escalão no setor. “O que é um paradoxo, porque, na maioria das vezes, os consumidores finais, na verdade, são consumidoras. Mas os líderes do mercado são homens”, explica.
Mujeres Brillantes
Para entender como a empresária tem trabalhado para aumentar aquelas porcentagens citadas lá em cima, é necessário entender o funcionamento do Mujeres Brillantes. Iniciado em 2016, o projeto oferece cursos técnicos da área de joalheria, geologia, empreendedorismo e marketing para mulheres que já atuam na área ou que têm interesse em entrar para o ramo.
A ideia é oferecer mais oportunidades a essas mulheres, um dos fatores mais problemáticos no mercado, segundo Ali. A empresária destaca também que o grupo não luta por cortesias, favores e, muito menos, por imposições à ocupação de cargos de chefia.
Convidamos homens para participar de algumas palestras para entenderem esses desafios da mulher
“No que o Mujeres Brillantes bate é na tecla sobre a oferta de oportunidades iguais e também na conscientização das mulheres da área. Nós [mulheres] sempre questionamos a falta de espaço e, por isso, é importante trabalharmos juntas para nos qualificarmos mais, uma vez que não há interesse nessa mudança por parte dos líderes homens”, declarou a empresária.
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Solidão
Hoje, Ali está consolidada com o seu negócio, a Del Lima, inaugurado em 2012, e confessa que sente menos resistência por parte dos seus colegas na hora deles aceitarem suas ideias nas reuniões.
Entretanto, ela conta que, no começo da sua carreira, era submetida a mostrar cinco ou seis vezes mais a sua capacidade do que um homem que estava sob a mesma posição profissional que a dela.
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“Eu tinha que mostrar que era superinteligente, não bastava ser apenas inteligente. Era necessário eu mostrar por que eu estava ali, por que eu merecia ser vice-presidente de uma bolsa de diamantes internacional”, relembra.
Eu tinha que mostrar que era superinteligente, não bastava ser apenas inteligente
Porém, a resistência por parte dos homens não foi totalmente resolvida hoje. A empresária conta que, por ser mulher, tem uma vida profissional mais solitária e que ainda percebe, de vez em quando, um nível maior de resistência por parte deles com ela do que com outros colegas de profissão.
Quando questionada pela reportagem se já pensou em desistir da área por conta dessas dificuldades veladas e rotineiras, a empresária confessa que não: o resultado foi justamente o contrário.
Movida profissionalmente pelo desafio, Ali Pastorini diz que sempre compreendeu que aquele era um obstáculo pelo qual precisava passar para fazer aquilo que, hoje, ela ama fazer, sem deixar pecar pela arrogância.
Mudança de carreira
Notou o 'hoje' na última frase? Ele aparece porque antes de ser empresária da Del Lima ao lado da sócia Dione Lima, Pastorini atuava em uma área bem diferente.
Especializada em estratégia de negócios e marketing, a empreendedora trabalhava com marketing esportivo, enquanto que a amiga atuava no ramo de arquitetura.
Mas as profissões das empreendedoras mudaram depois de um descontentamento enquanto consumidoras. “Sempre gostamos de usar joias, mas chegou uma época que paramos de encontrar peças com designs que gostávamos”, disse.
Foi então que a dupla começou a desenhar peças para uso próprio, sem nenhuma pretensão de abrir um negócio, até porque estavam bem em suas respectivas carreiras. Entretanto, muitas pessoas conhecidas começaram a elogiar as peças personalizadas pelas sócias e... pronto!
Em meados de 2009 e 2010, as duas mergulharam de cabeça na ideia de transformar o hobbie em empresa e foram estudar o ramo para, em 2012, finalmente abrirem a Del Lima.
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De olho nas produtoras de bijuterias
O mercado de joias não foca em todo o consumidor do País e isso não é novidade. Afinal de contas, segundo o último levantamento do IBGE, a média real habitual de renda do brasileiro está atualmente em R$ 2.186 por mês. Mas quando o assunto é investir, o ‘funil’ pode ser ainda mais restrito à sociedade.
Pensando nisso, o Mujeres Brillantes está desenvolvendo um novo projeto em parceria com o Senai para capacitar mulheres que produzem bijuterias. Segundo a Ali, a nova ideia do grupo está em fase de pesquisa em parceria com comunidades da cidade de São Paulo, ao lado de mulheres que fazem bijuterias artesanalmente para se sustentar ou complementar a renda.
“Quero capacitar e profissionalizar essas mulheres para que elas vendam mais e ajudem suas famílias por meio de seus negócios . Vejo com muita importância essa questão perante a sociedade”, conclui.