Grande ideia, cultura da empresa e sistemas de tomada de decisão: estes são os principais fatores para se criar uma empresa inovadora, na visão de Mitch Lowe, co-fundador da Netflix e atual CEO da MoviePass, um serviço que oferece acesso livre a cinemas dos Estados Unidos por meio de uma assinatura mensal. Ele participou do quarto dia da Campus Party 2017, em São Paulo, e compartilhou algumas experiências vividas nas empresas em que trabalhou.
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Lowe trabalhou na Netflix durante 1998 e 2003, quando o serviço ainda não funcionava como streaming. A companhia se destacou por apresentar uma nova maneira de alugar filmes. A ideia era permitir que, com o pagamento de uma taxa fixa, os clientes pudessem receber filmes alugados pelo correio sem data de devolução e multas por atraso. De acordo com o palestrante, a ideia por si não seria suficiente para levar a empresa ao patamar atual. Eles também precisaram das pessoas certas.
“Você deve ter um lugar em que as pessoas desejam trabalhar. Pessoas que sentem que farão uma contribuição para o sucesso, que não pensem que são apenas pessoas sentadas em uma cadeira, mas que realmente estão contribuindo para o futuro”, analisa. Na opinião de Lowe, para estimular os funcionários se engajarem com um projeto, é necessário dar liberdade e flexibilidade.
“É por isso que, nos Estados Unidos, a Netflix é conhecida por ter uma política de férias ilimitadas. Como um funcionário da Netflix, você pode tirar quanto tempo de férias você quiser. O interessante é que as pessoas passaram a ter menos tempo de férias porque estavam focadas em uma missão”.
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Além disso, um processo de escolhas correto ajudou a empresa a evoluir. Em 2005, dois anos após a saída de Lowe, a companhia passou a investir também na distribuição digital. A escolha permitiu um crescimento significativo: a base de usuários passou de 4,5 milhões para 16 milhões de pessoas em cinco anos.
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Atentos à concorrência de outros serviços de streaming, como Zulu e Amazon Prime, a Netflix tomou outra decisão importante e, em 2013, lançou sua primeira série original: House of Cards. Naquele momento, a plataforma já contava com mais 44 milhões de usuários no mundo, mas continuou crescendo. No terceiro trimestre de 2016, eram 86 milhões de pessoas com assinaturas do serviço.
De volta para o futuro
Lowe se desligou da Netflix em 2003 e passou a trabalhar no McDonald’s. Naquele momento, a rede de restaurantes fast-food passava por uma crise e buscava formas de atrair os clientes de volta. O executivo apostou, então, na Redbox, uma espécie de loja de conveniência automatizada que vendia itens de mercearia e alugava filmes nos estacionamentos das unidades do McDonald’s.
Rapidamente, o aluguel de DVDs se tornou o carro-chefe e a Redbox passou a apostar somente nesse mercado, alugando discos por apenas US$ 1 por dia no momento em que especialistas apostavam apenas na distribuição digital. A ideia de reinventar a antiga forma de alugar filmes teve êxito, mas foi descontinuada pelo McDonald’s. Lowe afirma que a companhia errou ao ouvir analistas que leem sobre pessoas bem-sucedidas e acreditam que só há uma maneira de vencer.
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“Vocês leem sobre pessoas que tiveram sucesso, mas há muitas startups no mundo que fazem exatamente a mesma coisa que as pessoas bem-sucedidas, mas falham. Quando você lê livros sobre administração ou ouve pessoas como eu, lembre-se de dizer para você mesmo: ‘OK, vou aproveitar um pouco disso, mas preciso de mais informações’. Não acredite sempre nos experts. E foi isso o que o McDonald’s fez”, lamenta.
A Redbox seguiu no mercado mesmo depois da decisão da rede de restaurantes. Agora, por conta própria e com crescimento significativo. “Nós construimos a cultura correta, contratamos as pessoas corretas e construímos um sistema de tomada de decisão correto”, explica Lowe, que continuou no projeto até 2009, após se tornar presidente da empresa. Atualmente, a Redbox conta com máquinas em lojas de conveniência, restaurantes fast food, mercearias e farmácias, e tem receita anual de cerca de US$ 2 bilhões.
Netflix dos cinemas?
Nos anos seguintes, Lowe passou por outras empresas até ser nomeado CEO da MoviePass, em 2016, considerada a Netflix para os cinemas. Com apenas nove funcionários, o serviço pretende mudar a forma como consumimos cinema. “Espero que tenha o mesmo impacto [que a Netflix] para fazer as pessoas irem aos cinemas”, afirma Lowe. Ao assinar o serviço, o usuário recebe o cartão do MoviePass que funciona como um cartão de crédito e pode ter acesso ilimitado aos principais cinemas dos Estados Unidos.
Durante a palestra, Lowe admitiu que, mesmo tendo sucesso em empresas como a Netflix e a Redbox, prefere participar de processos de expansão de startups. “A parte mais interessante da minha vida é quando eu ainda não descobri, quando estamos tentando resolver questões básicas, como qual o serviço correto, quanto eu devo cobrar, quem são os clientes corretos. Para mim, isso é o mais divertido”.