Quem dirigiu pelas estradas do país já sofreu com o trânsito lento de uma fila interminável de caminhões. Grandes, pesados, em marcha lenta e desesperando os automóveis mais rápidos. Muito provavelmente também se assustou com esses mesmos caminhões embalados e colados à traseira, em alta velocidade, ladeira abaixo.
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Um caminhão, lento numa subida íngreme (especialmente quando carregado), na descida muda rapidamente esta condição. Essa metáfora pode se encaixar muito bem para o atual momento econômico e as escolhas que muitos investidores devem fazer.
No cenário dos investimentos, a inflação é aquela ladeira íngreme que trava o crescimento da economia. Os juros elevados atuam como um freio motor, que tenta conter a inflação e levar nossa economia para acelerar na descida (queda da inflação). O uso incorreto e a potência deste motor (velocidade e intensidade da elevação dos juros) podem causar efeitos adversos (recessão) ou mesmo de pouca eficácia, como a estagflação.
Aparentemente, os principais bancos centrais foram lentos no aperto monetário, muito dinheiro foi injetado na economia e a inflação disparou. Especialmente aquela ligada ao custo de produção, mais próximo à matéria prima (commodities). No Brasil, nosso Banco Central foi mais rápido e, ao acelerar o aumento da taxa Selic, aparentemente tem sido bem-sucedido na ancoragem das expectativas inflacionárias.
Entre as consequências de taxas de juro elevadas estão a redução do crescimento da economia medida pela variação do PIB, a queda do poder aquisitivo e a inibição na geração de empregos. Além dos perversos efeitos no custo da dívida pública, paga com impostos e o sacrifício dos investimentos em saúde, educação e segurança pública.
Com a taxa Selic em 13,25%, nos parece que a ladeira íngreme começa a suavizar e chegar ao seu final. Bem sabemos: uma vez no topo da curva, passado o ponto mais alto, começa a trajetória descendente – o motorista do caminhão, após embalar seu veículo, desengata o câmbio e com a força da gravidade (inflação declinante), começa a ganhar velocidade.
Se as taxas de juros realmente começarem a estabilizar, e em seguida, caírem, com PIB no sentido contrário, teremos forças agindo na mesma direção. Como elementos que catalisam um movimento de alta por investimentos em renda variável.
O mais importante não é como o mercado reagirá, mas sim acertar na seleção das empresas, observando fatores muito mais fáceis de analisar – aqueles próprios de cada empresa – do que tentar antecipar inflação, juros ou o comportamento do PIB. Grandes bancos e renomados economistas que previam PIB negativo para 2022, já revisaram suas expectativas, e aqueles
que já previam PIB positivo, estão revisando as estimativas para ainda mais acima. O que mudou? Apenas o próprio PIB, que segue seu ritmo, independente de palpites ou adivinhações, ou mesmo torcidas apaixonadas.
Pelo comportamento dos investidores que seguem uma análise macro (o top-down), a queda nas taxas de juros, associada a um maior crescimento no PIB, levaria a um reposicionamento de carteiras para os setores mais sensíveis a tais variáveis. A eventual volta do fluxo para o mercado de renda variável, seguindo principalmente estas variáveis macroeconômicas, poderá privilegiar as empresas small caps, mais sensíveis ao crescimento e aos juros. Para os investidores que utilizam a metodologia do fluxo de caixa descontado, crescimento e taxa de juros ou de desconto a valor presente são fundamentais para determinar o valor das empresas. Na subida “cê” me aperta, na descida “nóis” acerta.
Avaliar empresas e suas dinâmica de negócios, estratégia de longo prazo, qualidade de gestão, competitividade, crescimento mesmo em ambiente negativo e, principalmente, geração de valor ao acionista no longo prazo segue sendo fundamentais.