Werner Roger, colunista do iG
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Werner Roger, colunista do iG

Com as Olimpíadas encerradas, muitas alegrias, decepções e surpresas muitíssimas gratas. Mas, vamos voltar quase 40 anos na Espanha e aprender o que aconteceu no estádio Sarriá, em Barcelona (que acaba de se despedir do grande Messi), e recordar outras “surpresas” nada agradáveis que o futebol nos reservou e ensinou.

Como se diz no jargão popular, “o futebol é uma caixinha de surpresas”. A frase nos faz lembrar da derrota do Brasil para o Uruguai por 2 x 1 na Copa do Mundo de 1950, deixando 200 mil brasileiros atônitos, e da recente (e ainda mais acachapante) para a Alemanha, por 7 x 1, na Copa de 2014 – quando a surpresa nao foi a derrota, mas o placar. Neste dia, em Munique, verificamos in loco a discreta comemoração germânica (que se repetiu depois, quando venceram nossos Hermanos argentinos e ficaram com o título mundial). Mas, para mim, a maior surpresa e a derrota mais sofrida – que me Serviu de grande lição – foi aquela que ficou conhecida como Tragédia do Sarria: a derrota por 3 x 2 para a Itália em 5 de julho de 1982 (para piorar, o empate ainda favorecia o Brasil), colocando fim ao sonho da conquista do tetracampeonato. O time, então comandado pelo excelente e saudoso Telê Santana, chegou a ser comparado a melhor seleção que vi jogar – a do tri
do México, em 1970. Mas o que tinha esse time de tão especial?

Ele simplesmente reuniu três magos do futebol na época: Falcão, o também saudoso Sócrates e Zico. Mas (e me desculpem a palavra) o maledeto Paolo Rossi acabou com nosso dream team. Il Bambino d’Oro, como era chamado, teve sua pena de banimento do futebol reduzida de três anos para dois por fraude na totobola (loteria esportiva italiana), justamente para participar do mundial (foi o nosso “azar”). Após passar em branco nas quatro partidas anteriores, Rossi marcou três vezes, e a desacreditada Azurra despachava para casa o Brasil, favorito absoluto, que encantou os fãs do futebol. A Itália sagrou-se campeã mundial e nem tomou conhecimento, na final, da favorita
Alemanha, sua maior rival, aplicando-lhe sonoros 3 x 0. Nosso carrasco Rossi tornou-se artilheiro da copa, com seis gols anotados (metade deles aplicados a seleção canarinho numa só partida).

Mas por que este gestor nos vem lembrar desta (triste) história futebolística? Ela e sua relação com a “caixinha de surpresas” se aplicam ao mercado acionário neste momento. Reforça nossa tese contraria a prática de market timing e, também, a estrita observância à disciplina, ainda mais
necessária nos momentos de incerteza. Confusão total. Ruídos políticos de toda ordem, CPIs, presidente destemperado em suas palavras, desfile militar em dia de votação a respeito de voto impresso, reforma tributária, inflação e taxa de juros subindo, pandemia ainda assombrando o mundo e variante delta se espalhando rapidamente. Eleições ano que vem. Quantas incertezas.

Diante de tantas surpresas e incertezas (como no futebol) e com a combinação de tantas coincidências (a Itália quase foi eliminada pela Seleção de Camarões na primeira fase), um jogador afastado há dois anos do futebol e de participação pífia nos quatro jogos anteriores detona nossa maravilhosa seleção. Surpresa imensa e maravilhosa foram as medalhas de ouro das nossas meninas na maratona aquática, ginástica, iatismo, bronze que vale ouro no tênis e pratas históricas no estrante skate. No futebol, desta vez a Espanha foi fonte de alegria, derrotada pela bicampeã Seleção Canarinho.

Mais medalhas de ouro na canoagem e boxe completaram o topo do pódio de ouro e recorde em medalhas douradas, com um total de 19 medalhas. Deixemos de lado as decepções, estar em Tóquio já é um prêmio para todos os atletas.

Isso tudo para dizer que temos de ser pragmáticos em nossa estratégia, deixando de mudar de rumo a cada nova “quase certeza”. Como lembrou Benjamin Franklin a seu amigo Jean-Baptiste Le Roy por carta, em 1789, certos nesta vida só podem ser considerados a morte e os impostos (Franklin, aliás, já foi lembrado pelo seu Almanack em nosso livro, a Trigonometria dos Investimentos). Temos de evitar seguir a manada, que aposta sempre no “favorito”, como aconteceu com nosso querido Brasil, em 1950, e no fatídico 5 de julho de 1982 (eu, recém-saído de lua de mel, lembro-me bem do gosto amargo que aquele dia deixou na boca), ou mesmo na tragédia ou na derrota, na certeza de que amanhã tudo será pior.

Mas nos investimentos, como no esporte, as caixinhas de surpresas estão sempre aí para contrariar as certezas. A lição daquela partida foi que o pragmatismo superou a arte, e que a estratégia defensiva superou o ataque.

Algo parecido com isso é o que praticamos no momento: pragmatismo com cautela. O comportamento do câmbio ninguém consegue prever, como estará em uma semana ou em um mês (e menos ainda daqui a um ano).

Para nós, é como o esquema defensivo de Enzo Berzot que nos derrotou em 1982. O dólar é a nossa retranca, se as coisas piorarem de fato, empresas ancoradas em receitas em moeda estrangeira, sairão com a medalha de ouro de rentabilidade e dividendos. Vamos com elas. Também, para enfrentar incertezas, contamos e recomendamos empresas com balanços, fortes, pouco expostas a taxas de juros, e uma trinca de zagueiros (defensores), conhecidos como ESG, evitando gols de contra-ataques, rebote do goleiro, ou bola atrasada.

O ESG é a garantia que as empresas seguem as melhores práticas ambientais, sociais e de governança, e recebam ao final do campeonato, o troféu fair-play, com nenhuma punição de cartão vermelho.

Werner Roger
Sócio cofundador e gestor da Trígono Capital.

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