A sociedade brasileira parece ter enlouquecida de vez. Economistas opinando sobre possibilidades de quarentenas e infectologistas querendo parar o Brasil por meses. Quem esta certo e quem está errado.

Vamos lá: em primeiro lugar, como economista e cientista social, busco, na medida do possível, não intervir nas opiniões de experts infectologistas e médicos sobre o que fazer em meio à essa onda pandêmica do corona vírus.

Mas assumindo estarmos em uma situação em que os mais instruídos sobre ciências médicas nos recomendam a ficar em casa, eis que surgem economistas, empresários e empreendedores de toda sorte, dizendo que talvez não seja bem assim. Ora, nunca permiti que um médico ou infectologista influenciasse sobremaneira minhas perspectivas quanto ao crescimento econômico, preço de ativos, ações, bonds, etc. Obvio que toda a opinião é bem vinda em ciências. Não obstante, cabe sempre aos experts negligenciarem ou não tais opiniões ou pitacos egoístas. Mas é os que clamam por maior produção, menores restrições à produção e gritam pela volta da vida normal.

Obviamente, até agora esses não encontram coro junto aos epidemiologistas. Mas por um momento vamos aceitar os clames trabalhistas do tipo “o Brasil não pode parar” e “deixa que eu cuido do meu avô ou avó”.

Primeiro: De onde tiraram que seria melhor ou menor pior aceitar um número maior de mortes de idosos para fazer o país crescer? Alguns mais abastados dizem que em casa, isolamos nossa mãe, avó ou avô e a vida segue normalmente. Pausa para exclamação dupla.

Mesmo que essa pessoa ou esse operário padrão consiga isolar por completo seu ente “não tão querido assim”, o que dirá de grande parte das famílias, que moram em apartamentos ou casas de menos de 50 m², onde o isolamento se torna quase impossível? Precisamos crescer, gerar empregos e fazer o Brasil produzir mais grita o patriota solidário. Menos com os membros da sua própria família.

Ora, urge ressaltar o seguinte, independente de credo religião, seita ou partido político, o Covid-19 mata, assim como o desemprego também mata. Se a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os infectologistas estão pedindo para que todos fiquem em casa, de onde os economistas tiraram tal expertise para confrontá-los? Mas infelizmente esse é o tipo de debate que tem se transformado entre os “nós contra eles”. Proselitismo fajuto que em nada contribui para a nação.

Você viu?

Mas e se fizermos apenas a quarentena “horizontal”, ficando em casa apenas aqueles que estão expostos ao risco de morte por causa da doença advinda do COVID-19? Ora, volte dois parágrafos e responda: Onde colocaremos o seu “ente idoso com mais de 60 anos, que mora junto com você ou que terá contato com outras pessoas com idades abaixo de 60 anos, para se protegerem do COVID-19 ou da “morte”? Perguntas desconfortáveis começam a surgir.

Não existe pergunta desconfortável em saúde pública que não mereça ser tratada ou analisada. Devemos seguir as orientações de quem entende (acalma seu coração, economista, empresário ou empreendedor). A vida sempre em primeiro lugar, mesmo que isso pareça uma retórica vaudevilliana barata.

Então, qual a saída? Primeiro, para mortes à vista, não há nada que a economia possa fazer. Mas, para mortes a prazo, entenda-se aí, maior desemprego e menor renda, a política econômica pode e deve amenizar os efeitos contracionistas. Enquanto mortes à vista são absolutamente inevitáveis, se desrespeitamos as diretrizes dos infectologistas brasileiros e ou da OMS, as mortes a prazo, ou seja, maior desemprego, podem ser amenizadas com políticas fiscais expansionistas contracíclicas. Exatamente o que o governo tem tentado fazer, embora ainda timidamente.

Ao liberar R$ 40 bilhões para financiar a folha de pagamentos de pequenas e médias empresas, que faturam entre R$360 mil e R$10 milhões, até o limite de 2 salários mínimos, o governo acaba atuando como um protagonista da minimização do aumento do desemprego. Esses recursos virão do tesouro, que passarão para o BNDES, para os bancos e irão diretamente para a conta salário de 12 milhões de trabalhadores.

Poder-se-ia dizer, que os bancos poderiam não querer repassar esses recursos, dado que atualmente o problema não é liquidez, mas apetite de risco. Pois, nesse caso, o tesouro assume 85% do risco incorrido pelos bancos. Ou seja, apesar da dívida ser das empresas, se elas não pagarem, o tesouro responde por 85% das potenciais perdas de um empréstimo para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas, com compromisso de não demitirem por 2 anos, a um custo de 3.75% ao ano, com um prazo de 3 anos e 6 meses de carência.

Vivemos momentos de crise. Crise, não, calamidade pública. Se o governo tenta manter os aviões (empresas vivas) na pista de decolagem para estarem prontos para um momento de crescimento econômico, certamente é melhor do que destruir os aviões ou pedir para os empreendedores desmontarem seus protótipos.

Fato: essa é a alternativa preferível em termos sociais e econômicos.

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