
São Paulo ensina os paulistanos a simplesmente esquecerem seus rios. Diga a verdade: ao passar de carro pela avenida 9 de Julho, você imagina que tem um rio enterrado ali, bem debaixo do asfalto? E quando você está na avenida Sumaré, preso no engarrafamento, dá para lembrar que tem um rio embaixo? O mesmo acontece na avenida dos Bandeirantes e em tantas outras da capital paulista.
Existem 800 rios e córregos subterrâneos na cidade de São Paulo, que somam quase 4 mil quilômetros. A maior parte deles foram aterrados, canalizados ou retificados. Foi pensando nestes organismos vivos que tanto nos fazem falta, que o artista Tadeu Jungle dirigiu e roteirizou o curta-metragem “Rios Invisíveis VR”, disponível para acesso gratuito aqui.
Jungle utiliza realidade virtual para mostrar como paisagens da cidade conhecidas pelos paulistanos seriam se as águas de seus rios não estivessem sido soterradas. O mar de concreto do Vale do Anhangabaú, por exemplo, ficaria arborizado e com um delicioso corredor de água, que poderia ser utilizado para lazer.
“Repensar as cidades é também trazer pelo menos parte de seus rios de volta. São Paulo foi tapando seus rios, sufocando um por um. Eles foram enterrados vivos”, diz Jungle, no filme.
Avenidas para carros passarem
Os rios começaram a ser escondidos e soterrados de vez a partir da década de 1930, quando a ideia era modernizar a cidade - o que significou a chegada de muitos automóveis. Avenidas foram construídas por cima dos rios, que foram sumindo aos poucos da paisagem para dar lugar às autovias.
As consequências desses aterramentos são quase óbvias: com chuvas mais intensas e frequentes devido às mudanças climáticas, o fluxo de água aumenta e os rios transbordam. Ou seja: as enchentes são o resultado direto de uma forma de urbanização que não levou em conta a sustentabilidade.
Portanto, mesmo que a cidade não os veja, os rios mostram o tempo todo que estão lá e sobrevivem. Apesar de tudo.
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