A IEA (Agência Internacional de Energia), principal órgão que assessora os governos dos países desenvolvidos em suas políticas energéticas, divulgou em seu último relatório uma projeção de queda na demanda de petróleo a partir de 2030. Segundo a agência, o pico na busca do combustível fóssil deve acontecer até 2029, quando perderá espaço para outras alternativas mais limpas que já estão recebendo investimentos pesados de diversas nações.
As informações da IEA trazem uma importante reflexão nesta semana em que a Petrobras anunciou que recebeu autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para iniciar as perfurações exploratórias de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, localizada na Margem Equatorial brasileira . Nesta primeira fase, que deve durar cerca de 5 meses, os poços serão estudados. Se forem viáveis, deverão ser comercializados daqui a cerca de dez anos. Ou seja: quando, segundo a IEA, a demanda pelo óleo estará em queda livre.
A agência internacional previu ainda que o mercado mundial de petróleo enfrentará um superávit em 2026 de até 4 milhões de barris por dia, com um aumento considerável da produção. Na visão da IEA, a oferta está crescendo muito mais rápido do que a demanda.
BRASIL TEM RESERVAS ATÉ 2030
Tem mais um dado que coloca ainda mais dúvidas sobre a real necessidade de exploração de petróleo em uma área ecologicamente sensível, com tantos riscos ambientais e para as comunidades: o governo brasileiro estima que a Margem Equatorial teria reservas que permitiriam explorar 1,1 milhão de barris de petróleo diariamente. Porém, o Brasil já tem uma reserva comprovada de 16,8 bilhões de barris - o que seria suficiente para manter a demanda interna sem precisar comprar petróleo de outros países até 2030. Aliás, o país já não usa boa parte do combustível que produz – no ano passado, metade da produção foi exportada.
Esta é uma visão que contraria boa parte de especialistas em óleo e gás . A Petrobras afirmou que a exploração no Amazonas será importante para "garantir uma segurança energética do país e os recursos necessários para a transição energética justa". Já a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) acredita no crescimento do mercado de petróleo - contrariando os esforços mundiais de redução da emissão de fontes de gases de efeito estufa. A China, por exemplo, que sempre foi a líder no consumo de petróleo, está investindo com força na eletrificação de sua frota.
“O uso de petróleo permanecerá contido no restante de 2025 e em 2026, resultando em ganhos anuais previstos em torno de 700 mil barris por dia em ambos os anos. Isso está bem abaixo da tendência histórica, já que um clima macroeconômico mais severo e a eletrificação do transporte contribuem para uma forte desaceleração no crescimento do consumo de petróleo”, previu a Agência Internacional de Energia em seu relatório mensal.
Ninguém nega que os combustíveis fósseis ainda serão necessários por alguns bons anos até que haja uma transição energética completa. Mas a demanda está despencando. Com estes números, a decisão brasileira de explorar petróleo na Foz do Amazonas justamente às vésperas da COP 30 é, no mínimo, controversa. E nada estratégica.