As chamadas embalagens flexíveis - aquelas de chocolates, salgadinhos, balas e biscoitos - representam um importante desafio ambiental. Descartadas de qualquer maneira e, geralmente, ignoradas pelos catadores, por seu baixo valor de revenda, são elas que lotam os aterros sanitários, gerando montanhas de lixo sem destino.
E os fabricantes que precisam diminuir sua pegada de carbono, especialmente no pós-consumo, têm que resolver este problema que só aumenta. A Nestlé resolveu sair na frente e lançou uma linha inteira de chocolates KitKat com embalagens 100% recicladas. A iniciativa rendeu à empresa o prêmio ABRE da Embalagem Brasileira 2025, na categoria Estratégica – Sustentabilidade. Concedido pela Associação Brasileira de Embalagem, o Prêmio ABRE valoriza soluções que impulsionam o consumo consciente, com base em critérios como inovação, benefício ambiental e social, eficiência produtiva, superação de desafios e destinação pós-consumo.
A iniciativa faz parte dos esforços da Nestlé para aumentar a reciclagem de resíduos plásticos e minimizar o impacto ambiental de suas embalagens. A companhia tem o compromisso de reduzir em um terço o uso de plástico virgem em suas embalagens até 2025 e ter 100% de suas embalagens desenhadas para reciclagem e/ou reutilização. Atualmente, este número está em 98%.
“As embalagens flexíveis são as mais sensíveis para a reciclagem, pois, além de muito leves, muitas vezes são multi camadas, o que dificulta a separação dos materiais. Porém, não podemos abrir mão delas, pois mantêm a qualidade do produto mesmo quando transportado para longas distâncias e têm um papel importante na acessibilidade do alimento ", disse a esta coluna Taissara Martins, head de ESG da Nestlé. Segundo ela, é importante investir em tecnologias e alternativas para torná-las mais recicláveis.
ANVISA
A reciclagem de embalagens plásticas de alimentos têm ainda uma outra complexidade: por lei, elas não podem ser reaproveitadas infinitas vezes, como o vidro, por exemplo, pois correm o risco de contaminação. A novidade de KitKat chega a partir de uma nova regulamentação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que agora permite a utilização de materiais pós-consumo reciclados (PCR) obtidos por reciclagem avançada para contato direto com alimentos.
A escolha da linha KitKat para liderar este movimento não foi à toa. A marca tem um histórico de sustentabilidade desde o início de sua produção. Desde 2009 faz parte de um programa que atua para melhorar a vida das pessoas que vivem e trabalham nas fazendas e garantir um cacau sustentável. Em 2016, KitKat se tornou a primeira marca de chocolates da Nestlé a utilizar 100% de cacau sustentável e também utiliza energia 100% renovável em sua produção.
A iniciativa da embalagem reciclada é uma importante decisão que, segundo Taissara, pretende inspirar outras marcas a seguir os mesmos passos. Porém, ela diz, as embalagens não representam a principal pegada de carbono dos chocolates. Precisamos olhar para toda a cadeia de produção.
“A embalagem é a menor pegada de carbono de um chocolate. A principal está na produção do cacau e devemos concentrar nossos esforços nesta cadeia, pois a origem do produto tem que ser sustentável. KitKat traz a visibilidade que queremos para o tema e assim vamos gerar demanda. Mas a jornada é longa", diz.