O Relatório Focus , o acompanhamento semanal que o Banco Central do Brasil faz com diversas instituições e cujas projeções são, em geral, apresentadas como as “expectativas do mercado”, mostrou na sua última leitura uma taxa de crescimento projetada para o PIB (frente ao ano anterior) de 2,1%. Por um lado, não configura um número assim de encher os olhos, dado o estágio de desenvolvimento do país. Por outro, também é verdade que desde que registramos um crescimento de 0,5% em 2014, não tivemos mais um período com quatro anos consecutivos de crescimento do PIB, uma vez que a economia brasileira (assim como a mundial) foi assolada pela maior pandemia em um século.
Estimulado pela discussão com alguns colegas sobre os erros nas projeções do Focus, decidi olhar os dados e verificar como tem sido a performance do relatório em dois momentos desde (a amostra começa no ano 2000): em dezembro do ano anterior e em julho do ano corrente. O gráfico abaixo apresenta a dispersão entre a taxa de crescimento anual observada e aquela que fora projetada em dezembro (ambas em pontos percentuais). Nele, eu introduzi uma linha vermelha que representa o que aconteceria se as projeções coincidissem com o observado. Portanto, para um dado valor de projeção (no eixo horizontal), valores acima da linha representam um crescimento que surpreendeu positivamente, ao passo que os valores abaixo dela indicam uma surpresa negativa.
Podemos inferir (e uma análise da distribuição dos erros corrobora com essa hipótese) que ora o mercado superestima o crescimento, ora subestima. Nada surpreendente até o momento. Fiz um exercício análogo para julho do ano corrente (ou seja, o mesmo ano para o qual as projeções foram realizadas). O resultado (reproduzido no gráfico a seguir) mostra algo semelhante, mas (como era de se esperar) com uma amplitude menor dos erros (diferença entre o projetado e o observado).
De posse dos dados observados e das projeções nos dois momentos, analisei a distribuição acumulada dos erros das projeções do. Esse resultado sim parece interessante. Quando consideramos as projeções feitas em dezembro do ano anterior, temos algo como 50% delas no campo negativo. Mas e as projeções feitas em julho? Por mais que em termos absolutos o erro seja menor, 75% (!) delas se encontra no campo negativo. Ou seja, em três a cada quatro vezes, o “mercado” é surpreendido com um crescimento econômico maior do que o projetado no meio do ano.
Vale ressaltar que a amostra de projeções anuais ainda é pequena e todo cuidado deve ser tomado ao analisarmos (e extrapolarmos) esses resultados. Além disso, existem outras variáveis macroeconômicas que devem ser consideradas. Por exemplo, será que temos um resultado parecido ao considerarmos a taxa de inflação anual? Bom, esse será o tema da minha próxima coluna, espero vocês na semana que vem para dar a resposta!