O preço do combustível no Brasil também aumentará
Ivonete Dainese
O preço do combustível no Brasil também aumentará


Muita gente tem me perguntado em que medida a guerra que se avizinha entre  Israel e os grupos terroristas Hamas e Hezbollah pode afetar uma possível recuperação da economia brasileira. Particularmente, entendo que ainda seja cedo para fazer qualquer previsão mais acurada, mesmo porque não sabemos ainda quanto tempo esse conflito poderá durar e onde acabará.

Mas, de toda forma, é possível esclarecer quais seriam os mecanismos de transmissão dos efeitos da guerra para a nossa economia . Em primeiro lugar, o efeito mais direto já tem sido percebido com a elevação do preço do barril do petróleo no mercado internacional.

Com isso, o preço do combustível no  Brasil (que está atrelado ao preço internacional) também aumentará, refletindo-se sobre os custos e preços de diversos produtos em toda a economia. Em última instância, o consumidor final será direta e indiretamente afetado.

O segundo efeito tem muito a ver com o aumento da percepção de risco no  mundo todo. Com isso, os investidores tenderão a correr para ativos de menor risco, tais como os títulos do tesouro americano. Isso, em particular, poderá implicar uma saída de recursos (dólares) do país, o que, por sua vez, provocará uma depreciação cambial, ou seja, o Real perderá ainda mais seu valor. Consequentemente, poderemos ter dois vetores em sentidos opostos.

Por um lado, como uma parte do nosso consumo é direcionado a produtos importados e o preço de determinados bens é cotado em dólar (principalmente porque algumas empresas têm seus custos definidos em dólares, como o caso do setor aéreo), o consumidor brasileiro será mais uma vez afetado negativamente com a elevação dos preços.

Por outro lado, a depreciação cambial pode tornar nossos produtos mais competitivos no mercado internacional, elevando as exportações e gerando mais renda para alguns setores específicos, principalmente, no caso de commodities, como alguns minerais e produtos agrícolas.

Note-se que o efeito líquido desses vetores é de difícil previsão. De toda forma, o suposto benefício do aumento das exportações ainda pode ser limitado por dois outros fatores.

O primeiro deles é que, se o produto exportado também for consumido por brasileiros, o redirecionamento de sua oferta para o mercado internacional provocará uma elevação de preços para o mercado doméstico.

Já o segundo fator tem relação mais direta com o próprio efeito do conflito no Oriente Médio . Se ele perdurar e se estender para outras áreas ou, mesmo, se elevar a sensação de incerteza e insegurança no mundo, o fluxo de comércio internacional poderá se reduzir. Isso porque tanto empresários como empregados tenderão a ser mais conservadores em suas respectivas decisões de investir e consumir.


É bom lembrar, ainda, que estamos com uma guerra em andamento na Europa (a da Ucrânia ) e uma economia chinesa em crise (em grande medida associada aos problemas vivenciados no seu setor imobiliário).

Por outro lado, é verdade que os  EUA têm dado sinais de que sua economia continua aquecida, o que poderia eventualmente estimular, em parte, o fluxo de comércio internacional. Mas, como a inflação por lá ainda está elevada, a tendência é que o FED (banco central americano) tenha que manter os juros elevados por mais tempo, revertendo a situação atual.

Ademais, dado o estoque da dívida pública americana, é de se esperar que, em breve, o “governo americano de plantão” seja obrigado a adotar uma política fiscal contracionista (cortar gastos público), o que ajudará a desaquecer a economia americana, com impacto negativo também sobre suas importações, inclusive sobre aquelas direcionadas a produtos brasileiros.

No fundo, o conjunto da obra no mundo mostra um cenário, no mínimo, muito desafiador para a economia brasileira, ainda mais se lembrarmos que o problema das nossas contas públicas está longe de ser solucionado.

Nesse contexto, o  conflito no Oriente Médio é só mais um ingrediente que reforça que tanto as expectativas inflacionárias como a própria inflação poderão não cair nos próximos meses (ou até mesmo voltar a subir), dificultando a continuação da queda da taxa Selic pelo Banco Central Brasileiro (BACEN).

Mais do que isso, como o atual governo reluta em fazer os tão necessários cortes nos gastos públicos, a tendência é que esse ciclo vicioso se perpetue, impedindo uma recuperação efetivamente sólida e contínua da nossa economia.

Fato é que, infelizmente, parece que o  presidente Lula ainda não entendeu que, ao contrário dos seus dois primeiros governos (2003-2011), tanto o cenário internacional quanto o doméstico se mostram muito piores, exigindo de sua parte atitudes mais responsáveis.

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