Uma série de quatro episódios da Netflix virou assunto de várias conversas que tive nos últimos dias. Trata-se de “Como viver até os 100 anos: os segredos das zonas azuis”, com o jornalista e escritor Dan Buettner. Autor de best-sellers sobre longevidade, Buettner começou a estudar esse tema em 2020, quando mapeou algumas comunidades ao redor do mundo que tinham mais cidadãos centenários do que a média internacional. Uma dessas localidades, na Sardenha, foi fruto do estudo de um médico local que ia fazendo marcas com a caneta azul em um mapa improvisado. Quando havia uma concentração de marcas, formava-se um borrão azul maior – daí veio a ideia de chamar essas regiões de zonas azuis.
No documentário, são descortinadas cinco dessas localidades: Okinawa, no Japão; Sardenha, na Itália; Icária, na Grécia; Nicoya, na Costa Rica; e Loma Linda, na Califórnia, Estados Unidos. Chama atenção de que três, dos cinco locais, sejam ilhas – mas isso não interfere, necessariamente, na longevidade de seus habitantes, tanto é que existem milhares de territórios insulares pelo mundo e nem todos possuem tanta gente que passou da marca dos cem anos.
O que essas regiões têm em comum?
São quatro características principais, cada uma se manifestando de uma forma diferente nestes cinco lugares: alimentação adequada, senso de comunidade, exercício moderado e espiritualidade. Essa combinação provocaria inevitavelmente a longevidade dos habitantes das zonas azuis. Mas há outros fatores que podemos adotar em nossas vidas mesmo sem viver em uma região que favoreça naturalmente a vida longa.
+ “Não sinta raiva”: é o que diz uma entrevistada em Okinawa (diga-se de passagem, uma localidade que contribuiu com boa parte da imigração japonesa que aportou em São Paulo no início do Século 20). A raiva, de fato, é um sentimento negativo, que nos corrói por dentro e é absolutamente inútil. Afinal, somos tomados por um ódio absoluto, mas a pessoa que provocou isso geralmente nem lembra de nossa existência ou daquilo que fez para nos irritar.
+ “Propósito”: normalmente, dedicamos a nossa vida ao trabalho. E, quando envelhecemos e nos aposentamos, ficamos sem propósito, sem um norte para nossas existências. O que é possível observar nos personagens exibidos na série é um forte senso de objetivos para a vida. Com isso, a existência mantém um sentido e ganhamos motivação diária.
+ “Hara hachi bu”: isso quer dizer, em japonês, “coma até sentir 80% do estômago cheio”. Ao moderar a alimentação, nos mantemos magros e saudáveis. Nas demais regiões, há também uma preferência por alimentos vegetais, com baixo consumo de proteína animal.
+ “Exercício natural”: essas zonas são regiões rurais, com exceção de Loma Linda. Mas em todos os locais analisados pelo documentário os habitantes fazem exercícios diários em sua rotina, seja através de caminhadas ou esforços relacionados ao dia a dia, como buscar suprimentos a pé. Ninguém vai à academia. Mas, em compensação, não há sedentários, pois todos estão andando praticamente o tempo todo.
+ “Diversão”: pessoas longevas estão sempre em comunidades, seja com amigos ou com a família. E sempre buscando se divertir. Em nenhuma dessas regiões, por sinal, há casas de asilo. Os velhos são acolhidos pelas famílias ou vivem por conta própria.
Alguns anos atrás, um casal de amigos disse que tinha escolhido um local para passar a velhice: uma casa de repouso. Tomaram essa decisão para tirá-la dos ombros da filha única. Isso me impressionou por dois motivos. O primeiro foi o pragmatismo desse casal. O segundo foi a escolha por uma instituição, algo que sempre me pareceu ser uma opção deprimente (embora, com certeza, deve haver várias casas muito boas atuando neste ramo).
Essa história ficou na minha cabeça até que, alguns meses atrás, começamos a discutir com alguns amigos uma ideia que começou como brincadeira e, depois, ficou séria: construir uma casa para que passemos a nossa velhice rodeados de outros velhinhos batutas. Como um asilo, só que gerenciada por nós mesmos. Assim, conseguiríamos juntar uma comunidade de idosos descolados e divertidos. Agora, depois de assistir o seriado das zonas azuis, vamos incorporar essas receitas de longevidade em nosso empreendimento.
Ainda há vagas. Alguém mais se habilita?