Os magnatas bilionários Elon Musk e Bill Gates
Trevor cokley/US Air Force e US Health and Human Service
Os magnatas bilionários Elon Musk e Bill Gates

Hoje chega às livrarias (físicas e virtuais) a biografia de Elon Musk, escrita pelo jornalista Walter Isaacson, também responsável pelo livro que narra a vida de Steve Jobs, lançado em 2011. A publicação traz uma passagem entre Bill Gates e o biografado, que mostra o abismo que existe entre as duas personalidades.

Antes de mais nada, pode-se acusar Musk de várias coisas – menos de não ser alguém movido a inovação. Em praticamente tudo o que faz, o bilionário sul-africano busca inovar ou sacudir velhas estruturas para buscar novos modelos. Gates, ao contrário, é alguém que desenvolve aquilo que já estava feito – ou busca fazer cópias bem-feitas de algo que fez sucesso. O fundador da Microsoft construiu sua carreira de forma conservadora. Musk tomou o caminho oposto. E, também por isso, se tornou um polemista de mão cheia.

No ano passado, os dois se encontraram (não pela primeira vez) em um evento. Bill Gates tomou a iniciativa de falar com ele. Na época, o fundador da Tesla tinha um fundo de caridade de US$ 5,7 bilhões, criado por razões fiscais. Gates, sabendo disso e patrono de várias iniciativas voltadas ao Terceiro Setor, estava de olho nessa dinheirama. “Olha só, eu iria adorar me encontrar com você e falar sobre filantropia e sobre o clima”, provocou.

O encontro foi marcado na sede da Tesla e a discussão que houve lá não foi das melhores. Para Isaacson, era “provável que eles entrassem em rota de colisão, o que aconteceu a partir do momento em que Musk começou a fazer um passeio guiado pela fábrica". O escritor compara os dois bilionários: “Musk e Gates apresentam algumas semelhanças. Os dois têm mentes analíticas, uma capacidade de concentração imensa e uma confiança intelectual que beira a arrogância. Nenhum dos dois tem paciência com gente tola”.

Gates mostrou seu ponto de vista diametralmente oposto ao de Musk em dois assuntos. Primeiro, afirmou que não haveria como uma bateria prover energia para grandes carretas – e que a energia solar não poderia sozinha resolver os problemas relacionados ao clima. Em seguida, citou estudos que Musk não conhecia para basear seus argumentos. E também não mostrou interesse pela SpaceX. “Não me empolgo com Marte”, disse Gates a Isaacson. “Ele [Musk] está super entusiasmado com Marte. Deixei que ele explicasse a sua opinião sobre isso – e é uma coisa meio estranha. É uma coisa maluca que talvez ocorra uma guerra nuclear na Terra e aí o pessoal em Marte está lá e vai voltar para cá, sabe, sobreviver depois que a gente se matar”.

Depois desse tópico, a conversa migrou para a filantropia. Musk disse que não acreditava muito nesses projetos, pois achava que cada dólar investido gerava um impacto de apenas vinte centavos. Gates, então, apresentou cinco projetos, cada qual precisava de investimentos de US$ 100 milhões.

Antes de falarem sobre essas ideias, porém, havia um assunto que precisava ser debatido: Gates havia vendido um lote enorme de ações da Tesla no mercado futuro a descoberto, pois achava que as cotações iriam cair. Na cabeça do criador da Microsoft, haveria uma superoferta de carros elétricos no mundo – e as vendas da Tesla iriam diminuir. Não foi o que aconteceu. As ações continuaram firmes. E, àquela altura, Gates havia perdido cerca de US$ 1,5 bilhão com essa operação financeira.

Musk estava furioso com a aposta de Bill Gates contra sua empresa. “Como alguém pode dizer que é apaixonado pela luta contra as mudanças climáticas e aí faz algo que reduziria o investimento total na empresa que mais estava fazendo algo nessa direção?”, questiona Musk. “É pura hipocrisia. Por que ganhar dinheiro com o fracasso de uma empresa automotiva de energia sustentável?”.

Desnecessário dizer que não houve nenhuma doação de Musk para os projetos de Gates. Além disso, o novo dono do Twitter (agora chamado de “X.”) passou a cutucar Gates pelas redes sociais – e mandou uma mensagem ácida a Isaacson sobre o colega bilionário. “A essa altura, estou convencido de que ele é categoricamente louco (e um cretino de verdade). Eu realmente queria gostar dele (suspiros)”.

Por trás dessa história, está uma enorme diferença na personalidade dos dois empresários, além da questão que envolve inovação e conservadorismo. Gates é um sujeito racional e raramente se deixa levar pelas emoções. Tive a oportunidade de conhecê-lo rapidamente décadas atrás e me impressionou a sua frieza. Musk, neste particular, é o oposto. Trata-se de alguém apaixonado e impulsivo, disposto a liderar com um chicote na mão, como fazia Steve Jobs.

Para Gates, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Ou seja, ele pode apostar contra a Tesla, diante de uma possibilidade concreta de mudanças neste mercado, e pedir dinheiro para caridade ao dono dessa mesma empresa. O Gates investidor é uma entidade separada do Gates filantropo. Musk, no entanto, vive em um mundo regido pelas emoções. Para ele, tudo está no mesmo balaio. E pedir dinheiro nessas circunstâncias é considerado, para ele, hipocrisia.

Nesta treta, você está do lado de quem?

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