(Arquivo) Sede do Banco Central do Brasil (BCB) em Brasília, em 29 de maio de 2012
PEDRO LADEIRA
(Arquivo) Sede do Banco Central do Brasil (BCB) em Brasília, em 29 de maio de 2012
PEDRO LADEIRA

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve, nesta quarta-feira (31), sua taxa básica de juros inalterada em 10,5%, ao optar pela "cautela" diante de um cenário internacional "adverso" e projeções de inflação em alta no país.

O anúncio, amplamente antecipado pelo mercado financeiro, é uma má notícia para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem pressionado pela redução dos juros desde que assumiu seu terceiro mandato em janeiro de 2023, para impulsionar o crescimento econômico.

A decisão pela manutenção da Selic foi tomada de maneira unânime, "destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela", informou o comitê em comunicado.

A inflação foi de 4,23% em 12 meses em junho, fora da meta, mas dentro da margem de tolerância (+/- 1,5 ponto percentual).

Segundo o último boletim Focus do Banco Central, publicado esta semana, o mercado espera uma inflação de 4,10% para este ano e de 4,0% para 2025.

Esta é a segunda reunião consecutiva que termina com a decisão de deixar a taxa básica de juros inalterada.

Em sua reunião anterior, em junho, o Copom interrompeu um ciclo de sete cortes consecutivos e decidiu manter a Selic em 10,5%.

Antes do ciclo de cortes, a taxa básica permaneceu inalterada em 13,75% por um ano, até agosto de 2023.

A desconfiança do mercado sobre a capacidade do governo Lula de cumprir a meta fiscal também teve influência sobre a decisão.

"O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", diz o comunicado do Copom.

"Uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", acrescenta.

- 'Tom mais agressivo' -

A política de juros altos implementada para frear o aumento dos preços encarece o crédito e desestimula o consumo e os investimentos.

Lula tem sido um crítico feroz do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e chegou a dizer que ele "trabalha muito mais para prejudicar [...] do que para ajudar o país".

O Ministério da Fazenda prevê um crescimento de 2,5% do PIB este ano, enquanto as projeções do mercado indicam uma expansão de 2,19%.

"Nada disso é uma grande surpresa", estimou Jason Turvey, economista-chefe adjunto de mercados emergentes da Capital Economics.

Para ele, esta conjuntura de aumento da inflação, piora da situação fiscal e depreciação do real levaram o Copom a "adotar um tom mais agressivo" em seu comunicado.

Turvey estima que os juros permanecerão inalterados no restante deste ano, e sugere que, eventualmente, também em 2025.

A decisão do Copom coincide com a do Federal Reserve (Fed, banco central americano) sobre a taxa de juros de referência nos Estados Unidos, que também manteve inalterada nesta quarta, na faixa entre 5,25% e 5,50%, embora tenha deixado as portas abertas para uma redução em setembro.

    AFP

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