Sindicatos de trabalhadores da indústria de oleaginosas na Argentina decidiram, nesta terça-feira (11), parar a atividade em todos os portos exportadores de grãos e derivados e nas plantas de moagem do país, em repúdio à desregulamentação econômica impulsionada pelo presidente Javier Milei.
A medida, anunciada pela Federação de Trabalhadores do Complexo Industrial Oleaginoso, indústria que registra o maior aporte de divisas para a Argentina, será "por tempo indeterminado" a partir da meia-noite de quarta-feira, disse à AFP seu líder, Daniel Yofra.
"O principal motivo é a reforma trabalhista impulsionada pelo governo, que chama de modernização, mas é uma forma de precarização", explicou o dirigente sindical.
A greve contra a "Lei Bases" promete paralisar as atividades das indústrias localizadas na periferia da cidade argentina de Rosário (Santa Fé, centro), que constituem o terceiro 'hub' portuário agroexportador mais importante do mundo.
O Senado argentino vai debater na quarta-feira uma versão reduzida do projeto de reformas de Milei, que cumpre esta semana seu primeiro semestre no governo sem ter conseguido aprovar leis no Congresso, onde seu partido, A Liberdade Avança, é minoritário.
Se os senadores aprovarem a norma, que em abril recebeu luz verde dos deputados, o pacote com mais de 200 artigos voltará à Câmara dos Deputados para sua sanção definitiva.
O projeto delega faculdades do Legislativo ao Executivo, inclui um polêmico regime de incentivo aos grandes investidores e determina uma dezena de empresas públicas sujeitas à privatização, entre outras medidas controversas.
Também se discute uma reforma fiscal, que inclui o chamado imposto sobre o lucro para taxar os salários e as pensões em escalas que implicam aumentar sua base de alcance.
Yofra destacou que, para os trabalhadores que representa, a restituição deste imposto "significa uma redução salarial".
Para o líder dos operários da indústria oleaginosa, "não há nenhum artigo na lei Bases que beneficie os trabalhadores".
Além da greve, a Federação convocou uma manifestação para esta quarta-feira em frente ao Congresso em Buenos Aires, junto às principais centrais operárias do país, organizações sociais, partidos de esquerda e membros da sociedade civil.
A paralisação ocorre em um contexto de tensão entre o setor agroexportador e o governo de Milei motivada pela cotação do dólar, que as empresas consideram baixa e pouco atraente para liquidar as divisas de suas vendas ao exterior.