Um funcionário trabalha na fábrica da Aztek Technologies em Santa Catarina, Nuevo Leon, México, em 30 de abril de 2024
ALFREDO ESTRELLA
Um funcionário trabalha na fábrica da Aztek Technologies em Santa Catarina, Nuevo Leon, México, em 30 de abril de 2024
ALFREDO ESTRELLA

As faíscas saltam quando o laser corta uma peça de metal em uma fábrica do México, que se prepara para uma onda de investimentos estrangeiros graças às crescentes tensões entre Estados Unidos e China.

As disputas geopolíticas e os problemas na cadeia de abastecimento durante a pandemia de covid levaram mais empresas a aproximarem suas operações de manufatura da maior economia mundial.

No ano passado, o México substituiu a China como principal fonte das importações americanas, um reflexo de uma tendência conhecida como "nearshoring", a transferência de uma parte da produção para outro local, próximo do consumidor final.

O México vive um "boom" desse fenômeno, de acordo com Humberto Martínez, presidente do Conselho Nacional de Indústrias Gêmeas e Manufatureira de Exportação (INDEX), que mantém reuniões com investidores estrangeiros, alguns da Ásia e Oriente Médio.

Sua organização espera este ano um investimento estrangeiro de cerca de 9 bilhões de dólares (45 bilhões de reais) na indústria manufatureira do México, o que implicaria em "uma nova ordem econômica mundial", assegura.

Mão de obra mais barata, incentivos fiscais e o tratado de livre comércio entre os países da América do Norte, vigente desde 1994 e remodelado em 2020 para se tornar o T-Mec, atraem há anos as empresas para o sul da fronteira americana.

O temor atual de uma "Guerra Fria" entre Estados Unidos e China tornou o México ainda mais atraente.

A dias das eleições presidenciais, o México espera eleger sua primeira presidente mulher em 2 de junho.

As duas principais candidatas, a esquerdista Claudia Sheinbaum e a opositora de centro-direita, Xóchitl Gálvez, promovem os benefícios do "nearshoring".

- "Local privilegiado" -

O norte industrializado do México é o berço das fábricas gêmeas, conhecidas no país como "maquiladoras": fábricas que por décadas processaram e montaram materiais e componentes importados, para depois enviá-los de volta aos Estados Unidos.

"Estamos em um local privilegiado a nível nacional pela proximidade que temos com a fronteira para poder exportar ao principal mercado que é os Estados Unidos, o maior mercado do mundo", disse Juan José Ochoa, diretor-geral da Aztec Technologies, em Monterrey.

"Há aspectos políticos, há aspectos econômicos que motivaram há mais de uma década a migração de muita capacidade produtiva dos Estados Unidos para a Ásia. E, finalmente, por questões de relações internacionais, muita dessa capacidade está voltando à América", acrescentou.

Perto dali, trabalhadores com capacetes e óculos protetores usam máquinas de corte a laser e outros equipamentos de alta tecnologia para processar metal para os clientes da empresa, entre eles os fabricantes americanos de maquinário agrícola John Deere e aeroespacial Honeywell.

"Agora, há muitas empresas se instalando, sim, e sabemos disso porque muitas delas estão batendo à porta para que possamos fornecer peças a elas", explicou Ochoa.

O investimento estrangeiro direto no México alcançou um recorde de 36 bilhões de dólares (180 bilhões de reais) em 2023, 38% deles vindos dos Estados Unidos, segundo o Ministério da Economia.

Juan Pablo García, líder da CAINTRA, uma organização empresarial em Nuevo León que representa milhares de companhias, assegura que falar de um bom do "nearshoring" não é exagero.

"Definitivamente, é uma realidade. Estão chegando a Nuevo León, que é nossa área de influência, investimentos adicionais de diferentes países", assegurou.

- Da Tesla à Lego -

Empresas como a taiwanesa Foxconn, a dinamarquesa Lego e a americana Mattel, fabricante das bonecas Barbie, já anunciaram expansões relacionadas ao "nearshoring" no México.

Monterrey está cercada por um vasto cinturão de parques industriais, e o centro da cidade abriga prédios de escritórios com fachadas de vidro e hotéis de luxo para executivos.

A fabricante de carros elétricos Tesla anunciou no ano passado a construção de uma nova fábrica em um terreno próximo à cidade, embora sua construção tenha atrasado.

É provável que o "nearshoring" seja um processo gradual "que vai levar muitos anos", apontou Elijah Oliveros-Rosen, economista-chefe de mercados emergentes na S&P Global Ratings.

A expansão de parques industriais tem sido a maior parte da atividade vista até o momento, mais que a mudança de grandes empresas manufatureiras para o México, acrescentou.

Mas "isso não é um boom", indicou à AFP.

Empresas que tentam se mudar para o México enfrentam desafios como a insegurança, a falta d'água, demandas trabalhistas e a necessidade de um fornecimento constante de energia, em particular de fontes renováveis, segundo Oliveros-Rosen.

Os habitantes de Monterrey sofreram com racionamentos de água durante semanas em 2022.

Pensando no futuro de sua fábrica, Ochoa também vê muitos desafios, incluindo a necessidade de um desenvolvimento na infraestrutura e na formação de pessoal.

"No final das contas, se um madeireiro chega a uma grande floresta onde há muitas árvores e começa a consumir os recursos dessa floresta, se ele não fizer um processo de sustentabilidade e desenvolvimento de longo prazo (...) Bem, eventualmente ela não será capaz de recuperar ou replantar o que precisa para as próximas décadas", disse ele.

    AFP

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