Até agora considerado um destino ao alcance de poucos, o Japão atrai um número recorde de turistas estrangeiros que, encorajados pela desvalorização do iene em relação ao dólar ou ao euro, não hesitam em gastar o seu dinheiro em quimonos, facas ou jantares luxuosos.
"Comprei três pares de sapatos, algo que normalmente nunca faço", disse a francesa Katia Lelievre, de 36 anos, na movimentada região de Asakusa, em Tóquio, famosa por seu templo budista e lojas de souvenirs.
São calçados das marcas Converse, Nike e Adidas, que ela poderia ter encontrado na Europa, mas devido à desvalorização da moeda japonesa "valeu muito a pena" comprar lá, explicou.
A experiência é semelhante para Dominique Stabile, uma italiana de 31 anos que já havia visitado o país "há cinco ou seis anos".
"Lembro que os preços eram com certeza mais elevados que agora, especialmente dos cosméticos e das roupas", disse ela.
A desvalorização do iene, que atingiu a menor cotação em décadas em relação ao dólar e ao euro na segunda-feira, incentiva o consumo turístico para a alegria dos comerciantes locais.
- Um 'ramen' muito razoável -
Em março, o Japão recebeu pela primeira vez mais de 3 milhões de turistas estrangeiros em um mês. É 11,6% a mais que em março de 2019, antes da covid-19 atingir o turismo.
Além disso, o gasto 'per capita' destes visitantes aumentou 52% nos primeiros três meses do ano em comparação com 2019.
O fenômeno é difícil de explicar sem a variação do câmbio: em 2019, um dólar comprava 112 ienes. Na quarta-feira eram quase 158 ienes, o preço mais barato em 34 anos.
Um prato de macarrão 'ramen' custa cerca de 1.000 ienes, ou 6,3 dólares. Em 2019, custava 8,9 dólares. Um relógio de luxo ou uma bolsa de marca por 700 mil ienes custa agora 4.430 dólares, longe dos 6.250 dólares de cinco anos atrás.
Muitas lojas isentam os turistas do imposto sobre vendas de 10%, caso apresentem passaporte.
Os que mais gastam 'per capita' são os australianos, seguidos pelos britânicos e espanhóis, segundo uma agência de turismo japonesa.
A desvalorização do iene é parcialmente atribuída à política do Banco do Japão de manter as taxas de juros muito baixas, ao contrário de outros bancos centrais que aumentaram as taxas.
Favorável aos turistas, esta medida penaliza o consumo interno, que está em queda desde março de 2023 devido à inflação. A desvalorização do iene torna as importações mais caras e prejudica o poder de compra.
Além disso, a "invasão" de turistas que saturam lojas e restaurantes gera desconforto em parte da população local.