O risco do bitcoin, moeda legal em El Salvador, é um "elemento-chave" das negociações entre o FMI e esse país sobre um programa de crédito iniciado há três anos, afirmou uma porta-voz da organização financeira nesta quinta-feira (4).
As autoridades salvadorenhas negociam com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo de cerca de US$ 1,3 bilhão (R$ 6,5 bilhões) desde 2021, sem chegar a um acordo.
"As discussões estão centradas em políticas para fortalecer a sustentabilidade fiscal e externa, impulsionar o crescimento da produtividade e fortalecer a governança econômica", declarou Julie Kozack, diretora de comunicações da organização, em coletiva de imprensa em Washington.
"Lidar com os riscos decorrentes do bitcoin é um elemento-chave de nossas discussões", acrescentou.
Em 2021, por iniciativa do presidente Nayib Bukele, El Salvador, que tem uma economia dolarizada, se tornou o primeiro país do mundo a legalizar a circulação do bitcoin lado a lado com o dólar americano.
No entanto, cerca de 88% dos salvadorenhos não utilizaram a criptomoeda em 2023, segundo uma pesquisa da Universidade Centro-Americana (UCA).
Bukele é o presidente mais popular da América Latina, principalmente devido à repressão das gangues, que transformou o que era um dos países mais violentos do mundo em um lugar muito mais seguro. E esse cenário tem repercussões na economia.
"O crescimento real do PIB se fortaleceu em 2023 impulsionado pelo turismo e pela construção, e isso aconteceu devido à solidez das remessas e a uma situação de segurança muito melhor", reconheceu Kozack.
Segundo o Banco Central de Reserva, a economia salvadorenha cresceu 3,5% no ano passado. Também houve queda na inflação e no déficit em conta corrente, acrescentou a porta-voz do FMI.
Mas as negociações entre o Fundo e El Salvador sobre um plano de crédito não parecem estar progredindo.
Em fevereiro, o economista independente César Villalona explicou à AFP que a estagnação se deve em parte à tentativa de Bukele de contornar as condições do organismo, que incluem cortes nos gastos públicos, subsídios e subir os impostos sobre o consumo, "porque isso tem um custo político".
Sua reeleição em fevereiro com 84,65% dos votos poderia facilitar as negociações.