O emprego deu sinais de excelente saúde em março nos Estados Unidos, com a criação de empregos muito superior ao esperado por um mercado que teme que estes dados levem o Federal Reserve (banco central) a adiar os tão esperados cortes nas taxas de juros.
A maior economia do mundo criou 303 mil empregos em março, um aumento acentuado em relação ao mês anterior, anunciou o Departamento do Trabalho. Este número superou em muito as expectativas do mercado de um aumento de 200 mil empregos, segundo a Briefing.com.
Em fevereiro, a economia dos EUA criou 270.000 empregos.
O índice de desemprego caiu para 3,8% no mês passado, alinhado com as expectativas.
Em comunicado, o presidente americano, Joe Biden, que faz da força da economia um dos seus argumentos de campanha, afirmou que os Estados Unidos enfrentam o período mais longo dos últimos 50 anos com um índice de desemprego inferior a 4%.
"Em março ultrapassamos a barreira dos 15 milhões de empregos criados desde que tomei posse" em 2021, congratulou-se o presidente democrata.
Na quinta-feira, as estatísticas de emprego no setor privado já davam uma tendência para o mês de março, com números também superiores ao esperado.
Dados do Departamento do Trabalho mostram um emprego muito sólido em setores como saúde e construção, um sinal de que o setor imobiliário, pressionado pelas altas taxas de juros, poderá estar se recuperando.
O setor industrial, por outro lado, manteve-se estável, "um sinal das dificuldades" provocadas por um "déficit comercial significativo e taxas de juros que limitam a expansão de uma política industrial", lamentou em comunicado Paul Scott, presidente da associação que reúne as indústrias manufatureiras.
O crescimento salarial foi de 0,3% ao mês em março.
- O que acontece com as taxas? -
Funcionários do Fed têm debatido quando será o momento certo para começar a reduzir as taxas de juros, à medida que procuram levar a inflação para 2% sem prejudicar a economia.
A inflação recorde, que atingiu 9,5% em junho de 2022 nos Estados Unidos, levou o Federal Reserve a aumentar acentuadamente as suas taxas de juros, que passaram de 0% para 5,50% entre março de 2022 e agosto de 2023. Desde então, mantêm-se inalteradas em um intervalo de 5,25%-5,50%.
As taxas altas tornam o crédito mais caro e desencorajam o consumo e o investimento, diminuindo assim as pressões sobre os preços.
A inflação caiu acentuadamente no ano passado, enquanto a economia e os mercados de trabalho permaneceram resilientes. Mas aumentou desde o início deste ano, o que levou alguns responsáveis do banco central a adiar as suas expectativas sobre o início dos cortes.
"Este é um relatório muito bom do ponto de vista do Fed", disse Dan North, economista da Allianz Trade, questionado pela AFP: "É a combinação perfeita entre crescimento robusto e emprego sólido, por um lado, e inflação que diminui, por outro".
O mercado espera e o Banco Central americano manifestou a sua intenção de reduzir as taxas de juros este ano.
No mês passado, no final da sua última reunião de política monetária, os membros do Comitê Monetário do Fed (FOMC) sinalizaram que poderia haver três cortes nas taxas este ano, apesar do pequeno movimento ascendente da inflação.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse em uma conferência na Califórnia, na quarta-feira, que poderia haver consequências negativas para a economia se as taxas de juros forem cortadas muito rapidamente e também se o movimento for muito lento.
"O risco, porém, se agirmos muito rápido, é realmente... a inflação subirá", disse ele. "Seria muito perturbador se (então) tivéssemos que voltar atrás" e aumentar novamente as taxas, refletiu.
Mas se a economia continuar a evoluir como esperado, a maioria dos membros do FOMC considerariam "adequado começar a reduzir a taxa de política (monetária) em algum momento deste ano", concluiu.
Powell falou logo depois que o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, que faz parte do Comitê Monetário, disse na CNBC que acha que poderia haver apenas um corte nas taxas este ano, no último trimestre de 2024.
De acordo com o índice PCE, a medida preferida do Federal Reserve, a inflação acumulada em 12 meses em fevereiro foi de 2,5%, ligeiramente acima da medição de janeiro de 2,4%.