O escritor e filósofo CássioPantaleoni apresentou, nesta quinta-feira (16), uma reflexão sobre os impactos éticos e conceituais da inteligência artificial (IA) durante o AI Bank Summit 2025, evento organizado pela 4U EdTech e pelo Cursos Edgar Abreu.
Com formação em Filosofia pela PUC-RS e trajetória profissional na área de tecnologia desde 1983, Pantaleoni, que é vencedor do Prêmio Jabuti, abordou o papel da IA como fenômeno presente e inevitável, além de discutir as implicações humanas diante de novas formas de poder tecnológico.
Segundo o palestrante, a inteligência artificial já integra o cotidiano em diferentes níveis.
“A IA não é um futuro, ela já é um presente. Estamos extremamente associados a ela de diversas formas. O Google, por exemplo, é um grande algoritmo de inteligência artificial. O Waze também” , afirmou.
Ele observou que a tecnologia vem sendo aperfeiçoada há 75 anos e destacou que “o ser humano dificilmente abandona uma tecnologia” .
Durante a apresentação, Pantaleoni exibiu uma linha do tempo intitulada Avanços Tecnológicos ao Longo do Tempo, na qual relacionou invenções e descobertas que marcaram a história — das ferramentas de pedra e do fogo na pré-história à escrita, ao moinho de água, à pólvora, à imprensa, à máquina a vapor, ao telégrafo, aos plásticos, ao avião, ao transistor, à energia de fissão, aos voos espaciais, à internet e à tecnologia móvel.
Com base nesse panorama, o palestrante observou que o desenvolvimento tecnológico é contínuo e transformador.
“O fogo, no risco de se alastrar, vira uma vela. Depois a gente transforma o fogo em lampião, depois ele passa por várias transformações e vira uma lâmpada. A tecnologia nunca nos abandona, nós sempre estamos pensando em um poder artificial que daremos aos seres humanos, que é muito tecnológico” , explicou.
Pantaleoni também abordou os efeitos da IA sobre o comportamento humano e a percepção da realidade.
“A inteligência artificial está fora da ordem porque nos traz um paradigma de como nós nos comunicamos, nos comportamos e nos dirigimos um com o outro. O mundo virou uma fábula. Não existe um mundo concreto, podemos sempre estar trazendo um mundo que nos interessa ou que interessa os outros. Os números contam uma história e eles podem ser escolhidos ao invés de serem recolhidos, isso pode ser um viés” , afirmou.
Entre os temas tratados, o escritor apresentou a ideia de que “os problemas resolvem as pessoas” , explicando que os desafios e obstáculos têm papel formador na experiência humana.
Segundo ele, as dificuldades revelam potencial não reconhecido, moldam o caráter, forçam o crescimento e ajudam a estruturar a identidade individual.
Ao discutir os limites éticos do uso da IA, Pantaleoni apontou riscos ligados à adulteração da realidade e à criação de talentos artificiais.
“Quando queremos desbloquear nossa criatividade, a IA vem para algo positivo. Mas é negativo quando queremos criar uma realidade que não é real. A IA nos permite criar talentos, isso é positivo porque me dá maior envergadura ao mundo na hora de me comunicar. No entanto, pode ser perigoso, porque me dá talentos que não tenho” , disse.
O palestrante também mencionou três correntes de pensamento que buscam interpretar o papel da tecnologia no futuro humano. O trans-humanismo propõe que a relevância das pessoas estará nos dados que produzem.
O pós-humanismo projeta uma realidade em que o valor do indivíduo se mede pela capacidade tecnológica.
Já o ergo-humanismo busca recolocar o ser humano no centro das transformações digitais, defendendo uma abordagem que prioriza a ética e o sentido da existência diante das novas ferramentas.
Na parte final da exposição, Pantaleoni apresentou um quadro comparativo com as competências predominantes da inteligência artificial — automação de processos, cálculos complexos e análise de grandes volumes de dados — e as características essencialmente humanas, como pensamento crítico, criatividade, empatia, inteligência emocional e capacidade de liderança.
AI Bank Summit 2025
O AI Bank Summit, que conta com transmissões diárias às 19h e cobertura do Portal iG, reúne especialistas para discutir o impacto da inteligência artificial no sistema financeiro.
A programação segue até sexta-feira (17) com debates sobre ética, inovação, regulação e educação financeira.
Segundo o organizador Edgar Abreu, o objetivo do evento é preparar o mercado para uma nova estrutura impulsionada pela tecnologia.
“A IA não é apenas uma ferramenta de produtividade, é um novo paradigma para bancos, fintechs e investidores”, afirmou.