
A cidade do Rio de Janeiro receberá nos dias 6 e 7 de julho a reunião da cúpula do BRICS, grupo formado por economias emergentes do Sul Global. Neste ano, a presidência rotativa do grupo está com o Brasil, que pretende colocar em pauta temas como comércio, mudanças do clima e cooperação em saúde global.
Sigla formada pelos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o agrupamento é considerado um foro relevante de articulação político-diplomática. As reuniões são espaços para cooperação dos países emergentes com o objetivo de dialogar sobre temas da agenda internacional.
O que é o BRICS?
Em 2001, o economista britânico Jim O’Neill criou o termo “BRIC” para se referir às economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China. Ele recomendou que investidores apostassem nesses países, vistos como o futuro da economia global, em um relatório da Goldman Sachs Assets Management , um serviço especializado de gestão de ativos.
O nome pegou e, em 2006, os quatro países realizaram sua primeira reunião conjunta de chanceleres durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Após a crise financeira de 2008, o grupo passou a atuar de forma mais coordenada no G20, no FMI e no Banco Mundial, defendendo reformas na governança econômica internacional para dar mais voz aos países emergentes. A primeira cúpula de chefes de Estado aconteceu em 2009, em Ecaterimburgo, na Rússia.
Em 2011, a África do Sul entrou no grupo, acrescentando o “S” ao acrônimo e marcando a primeira ampliação do bloco.

Economista Denize Batizelli, com mais de 15 anos de atuação no mercado
Em entrevista ao Portal iG, a economista Denize Batizelli, formada pela Mackenzie e pós graduada em Gestão Pública pela FGV, com mais de 15 anos de atuação, conta que esta aliança econômica tem um propósito de re-equilibrar o poder econômico no mundo.
" O termo surgiu para se referir a esses países que, até então, eram considerados os emergentes, com características semelhantes e com alto potencial de chegarem a 50% do Produto Interno Bruto mundial até o ano de 2050, rivalizando com os países desenvolvidos ", explica.
Não é um bloco econômico
Diferente de blocos econômicos tradicionais, como a União Europeia ou o Mercosul, o BRICS não possui regras fixas nem estruturas institucionais formais. Em vez disso, funciona como um mecanismo de cooperação internacional.
O foco do grupo está em ampliar a influência política e econômica de seus membros no cenário global, promovendo o desenvolvimento conjunto e defendendo reformas na governança internacional, sem a rigidez de um bloco econômico.
Em 2024, seis novos países foram convidados a se juntar ao grupo, totalizando 11 membros. São eles: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Há também os membros associados: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. O aumento na quantidade de países fortalece a economia do grupo, já que representa cerca de metade da população mundial e quase um terço do PIB do planeta.
Objetivo da reunião no Rio de Janeiro
Encontros que acontecem anualmente entre os líderes dos países que compõem o bloco de cooperação econômica, a Cúpula do BRICS em 2025 no Rio de Janeiro tem como objetivo principal, além de fortalecer a cooperação entre os países membros, discutir temas relevantes para o desenvolvimento do Hemisfério Sul.
"Serão debatidos temas como mudanças climáticas, inteligência artificial, mecanismos financeiros de desenvolvimento, saúde e mudança da governança global" , afirma a especialista ao iG.
Para a economia brasileira, o bloco fortalece a cooperação econômica e financeira entre os países membros, oferecendo alternativas aos mecanismos financeiros tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Além disso, o BRICS amplia as oportunidades de comércio, exportações e parcerias em áreas como tecnologia, ciência, desenvolvimento sustentável e combate às mudanças climáticas.
Como país sede, o Brasil adotou o tema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. Batizelli observa que o tema da reunião reforça os dois principais eixos da atuação do país ao longo de 2025: a reforma da governança global e a cooperação entre países do Sul Global.
Impactos políticos na cúpula

A economista explica que a situação política de cada país do BRICS influencia diretamente a dinâmica do grupo. Conflitos internos, como crises políticas ou econômicas, e questões externas, como a guerra envolvendo a Rússia e as sanções internacionais contra o país, podem gerar tensões e dificultar a construção de consensos.
"Ao mesmo tempo, a atuação do grupo pode facilitar o diálogo entre diferentes regiões do mundo, podendo contribuir para a resolução de conflitos e a promoção da paz" , analisa Denize Batizelli.
No último dia 25, o assessor de política externa do governo russo, Yuri Ushakov, disse que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não irá ao Brasil para a cúpula por conta do mandado de prisão emitido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
A corte emitiu o mandado em 2023, pouco mais de um ano após a Rússia iniciar a guerra em larga escala contra a Ucrânia, acusando Putin do crime de guerra de deportar centenas de crianças da Ucrânia.
O líder chinês, Xi Jinping, também não virá ao Brasil para a reunião, alegando problemas na agenda. Além dos dois presidentes dos líderes do grupo, Abdel Fattah al-Sisi, do Egito, também será uma baixa. Todos eles irão enviar representantes.
Para além dessas ausências, a incerteza quanto ao nível de representação de países como Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos mostram a dificuldade do BRICS em se firmar como um polo coeso de liderança global, de acordo com especialistas.