
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE) divulgou nesta sexta-feira (7) o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que apresentou variação positiva de 0,2% no quarto trimestre de 2024 (em relação ao terceiro). Ele encerrou o ano com crescimento de 3,4%, totalizando R$ 11,7 trilhões, a maior taxa de 2021.
O crescimento do PIB no Brasil foi impulsionado pelas áreas de Serviços e Indústria, que registraram altas de 3,7% e 3,3%, respectivamente, em comparação com 2023. Por outro lado, a Agropecuária enfrentou uma retração de 3,2% no mesmo período.
O PIB per capita atingiu R$ 55.247,45 — um avanço real de 3,0% em relação ao ano anterior. As informações foram divulgadas pelo IBGE por meio do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais.
Em entrevista ao Portal iG, Juliana Trece, economista do FGV Ibre e pesquisadora responsável pelo Monitor do PIB, conta que a composição do crescimento em 2024 é diferente do ano anterior, apesar da margem parecida. Segundo ela, em 2023 o PIB ficou muito concentrado em agropecuária exportada, com investimento caindo, com maiores dificuldades nos outros segmentos.
"Em 2024, apesar da queda da agropecuária — que nem foi uma queda tão grande, principalmente tendo visto o crescimento que a gente teve tão forte em 2023 —, no restante dos setores, tanto da parte da produção quanto da parte da demanda a gente vê crescimentos fortes", pontua. Para ela, a principal característica desse desempenho de 2024 é ser disseminado, mostrando um crescimento robusto da economia.
Destaques

Os principais destaques do crescimento do PIB nas atividades econômicas foram as categorias Outras atividades de serviços (5,3%), Indústria de transformação (3,8%) e Comércio (3,8%), de acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
No setor industrial, a atividade de Construção registrou alta de 4,3% em 2024 graças ao crescimento da ocupação na atividade, da produção de insumos e da expansão do crédito. Os setores de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos tiveram aumento de 3,6%.
A Agropecuária teve redução de 3,2% em relação ao ano anterior, causado pelos efeitos climáticos que impactaram nas lavouras. As principais quedas foram da soja (-4,6%) e do milho (-12,5%).
A economista Juliana Trece vê uma expectativa de crescimento da Agropecuária neste ano, em torno de 7%. "Varia muito ao longo do ano, porque depende das questões climáticas, se vai ter quebra de safra. Todo o setor é muito sensível a qualquer coisa que possa acontecer, principalmente no clima. Mas a expectativa é de crescimento", argumenta.
A agropecuária deve desempenhar um papel crucial para sustentar o crescimento da economia em 2025, com expectativas positivas, especialmente no primeiro trimestre do ano. Esse desempenho está diretamente relacionado às colheitas de soja e milho, que são mais concentradas no primeiro semestre.
Consumo das famílias
No recorte de demanda, a Despesa de Consumo das Famílias contribuiu para o PIB, com uma alta de 4,8% em relação a 2023. Palis explica que o país teve união de fatores positivos, como "os programas de transferência de renda do governo, a continuação da melhoria do mercado de trabalho e os juros que foram, em média, mais baixos que em 2023".
Outro destaque foi o investimento Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede quanto as empresas aumentaram seus bens para produção, com 7,3%. Apesar de ter crescido mais, tem peso menor que o consumo das famílias.
Impactos
Para a economista, o resultado do PIB divulgado mostra o crescimento forte da economia, mesmo com a desaceleração no quarto trimestre. Apesar disso, o resultado anual não deve se manter em alta para este ano.
"2024 foi um ano de forte crescimento, mas o quarto trimestre já indicou sinais de enfraquecimento. O consumo das famílias caiu, e, apesar de alguns setores ainda crescerem, como a formação bruta de capital fixo, a indústria e os serviços tiveram crescimento mais baixo. Isso indica que o ritmo de crescimento observado em 2024 não deve se repetir em 2025", pontua Juliana.
A pressão inflacionária é um desafio significativo para a economia brasileira em 2025. A especialista explica que o Banco Central tem tomado medidas para conter a inflação, principalmente com o aumento da taxa de juros. Embora os efeitos dessas ações não sejam imediatos, já é possível notar sinais de desaceleração a partir do quarto trimestre deste ano.
Em 2025, espera-se que esses desafios se intensifiquem, o que pode impactar negativamente o crescimento econômico. Com juros mais elevados, o custo de contratação de trabalhadores e de investimentos tende a aumentar, o que pode prejudicar o mercado de trabalho.
Estabilidade
“No quarto trimestre de 2024 o que chama atenção é que o PIB ficou praticamente estável, com crescimento nos investimentos, mas com queda no consumo das famílias", explica Rebeca.
Segundo ela houve pouca aceleração da inflação no período, principalmente nos alimentos. Houve estabilidade para Atividades imobiliárias (0,1%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,0%) e Outras atividades de serviços (-0,1%).
O IBGE registrou leve crescimento em Transporte, armazenagem e correio (0,4%) e Comércio (0,3%), e leve queda em tividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,3%) e Informação e comunicação (-0,4%).