O Ministério da Agricultura foi informado por representantes da Embaixada da França no Brasil que o CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, fará uma retratação pública sobre suas declarações em relação à carne brasileira . De acordo com informações obtidas pelo jornal Folha de São Paulo, a carta de retratação já estaria redigida e será divulgada em breve.
A polêmica teve início na última quarta-feira (20), quando Bompard publicou um comunicado nas redes sociais anunciando que as lojas francesas do Carrefour deixariam de comprar carne proveniente do Mercosul, citando o "risco de inundar o mercado francês com uma produção de carne que não respeita suas exigências e normas".
A posição, que ocorre em meio às negociações do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, gerou um forte protesto por parte de produtores brasileiros.
A reação no Brasil foi imediata, com a suspensão do fornecimento de carne para as lojas do Carrefour por parte de vários frigoríficos. A medida, que tem apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), ganhou força com a visita do embaixador francês, Emmanuel Lenain, à sede do ministério, nesta segunda-feira (25), para interceder na situação.
Em resposta, o Carrefour Brasil afirmou não ter informações sobre a carta de desculpas do CEO. A Embaixada do Brasil em Paris também criticou as declarações de Bompard, dizendo que "Tal posição não pode justificar uma campanha pública baseada na disseminação generalizada de desinformação sobre os produtos brasileiros."
Boicote de Frigoríficos
Até o momento, 23 frigoríficos brasileiros, incluindo grandes nomes como JBS, Marfrig e Masterboi, aderiram à suspensão do fornecimento de carne. Fontes do setor informam que o desabastecimento já afeta mais de 150 lojas do Carrefour em todo o Brasil. Em São Paulo, consumidores já relatam escassez de produtos nas prateleiras, com 34 dos 60 clientes entrevistados em três unidades da rede nesta segunda-feira (25) indicando falta de itens específicos.
Em nota, o Carrefour Brasil lamentou a situação e reiterou seu compromisso com o agronegócio nacional, destacando que a suspensão no fornecimento de carne impacta diretamente seus clientes.
"Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade", afirmou a empresa.
Preocupação
O Carrefour Brasil, que é líder no varejo alimentar no país e a segunda maior operação do grupo francês no mundo, após a França, entrou em contato com o Ministério da Agricultura, expressando surpresa com as declarações feitas por Bompard.
A diretoria da rede no Brasil demonstrou preocupação com as possíveis consequências da crise com o governo brasileiro e os reflexos negativos no mercado. Fontes do alto escalão do governo indicam que os acionistas do Carrefour no Brasil se comprometeram a cobrar uma postura diferente da matriz francesa sobre o assunto.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que a União Europeia foi responsável por 3% das exportações de carne bovina brasileira entre janeiro e outubro de 2024, totalizando 67 mil toneladas.
Em contraste, a França representou apenas 0,02% das exportações, com a compra de 314 toneladas de carne brasileira. A China, principal destino das exportações de carne brasileira, adquiriu 1 milhão de toneladas, respondendo por quase 50% das vendas externas do produto.
O que aconteceu
A decisão do CEO global do Carrefour , Alexandre Bompard , de suspender a compra de carnes do Mercosul e questionar a qualidade do produto desencadeou uma série de reações no Brasil .
Frigoríficos , associações agropecuárias e até o governo federal se posicionaram contra as declarações, alertando para possíveis impactos no mercado e no abastecimento das lojas da rede varejista no país.
Na última quarta-feira (20), Bompard anunciou que as lojas do Carrefour na França deixariam de comercializar carne da América Latina, justificando a medida como solidariedade aos produtores franceses, que têm protestado contra o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
A mensagem do CEO foi endereçada a Arnaud Rousseau , presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França ( FNSEA ), foi publicada no Instagram, X (antigo Twitter ) e LinkedIn de Bompard.
“Em resposta a essa preocupação, o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul. Assumimos hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul”, afirmou o executivo.
Segundo Bompard, a carne sul-americana não atenderia às normas sanitárias e ambientais do bloco europeu, o que causou indignação no Brasil.
A decisão foi vista como protecionista e gerou retaliações rápidas . Frigoríficos brasileiros como JBS e Masterboi interromperam o fornecimento de carne às lojas do Carrefour no Brasil, o que representa um desafio para a rede, já que a Friboi, da JBS, responde por 80% das carnes vendidas no país.
O que diz o Carrefour Brasil
O Carrefour Brasil tentou se distanciar das declarações de Bompard, mas sem sucesso: o francês detém 60% da participação na franquia. Em nota, o grupo varejista afirmou que ainda não há desabastecimento nas unidades brasileiras e lamentou a decisão tomada pelos frigoríficos.
“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade.”, comentou em nota o grupo varejista.
Impactos no consumidor
Apesar do Carrefour Brasil afirmar que, até o momento, não há falta de carne em suas lojas, especialistas alertam que a interrupção no fornecimento pode gerar desabastecimento em breve. Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, explicou que a carne in natura é reabastecida diariamente e que a falta de produtos será perceptível nos próximos dias.
"Muito provavelmente unidades do Carrefour serão impactadas pela falta de carne, ainda que busquem alternativas emergenciais com outros distribuidores”, disse à CNN.
Embora a França seja um mercado de pequeno impacto para a carne brasileira, representando apenas 0,04% das exportações, especialistas alertam que declarações como a de Bompard podem prejudicar a reputação do Brasil em outros mercados.
Felippe Serigatti, do Centro de Agronegócios da FGV Agro, minimizou os efeitos na balança comercial, mas ressaltou a importância de proteger a imagem da carne brasileira:
"O mercado de exportação brasileiro está aquecido, com alta demanda global. Porém, ataques infundados como esse podem afetar nossa credibilidade”, disse.
Além do possível desabastecimento no Carrefour, a polêmica pode aumentar os custos de reposição de produtos e gerar reflexos nos preços da carne, pressionando ainda mais o orçamento dos consumidores.
Enquanto as negociações avançam entre o Carrefour e os fornecedores, a crise destaca como questões comerciais e políticas podem impactar diretamente o mercado interno, afetando tanto a cadeia produtiva quanto a população.
Reação do governo e associações
O Ministério da Agricultura, liderado por Carlos Fávaro, condenou as declarações de Bompard e apoiou a suspensão do fornecimento como forma de resposta. O ministro destacou que o Brasil sempre cumpriu as exigências sanitárias da União Europeia e que o ataque à qualidade da carne brasileira é injustificável.
Além disso, 44 associações agropecuárias publicaram uma carta aberta repudiando a posição do Carrefour:
"Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional”.
O governo brasileiro cobrou uma retratação formal do Carrefour em resposta às declarações do CEO global da companhia, Alexandre Bompard, que anunciou a suspensão da compra de carnes originárias do Mercosul , incluindo o Brasil.
Em comunicado divulgado na semana passada, Bompard questionou a qualidade e o cumprimento de normas sanitárias da carne sul-americana, provocando reações imediatas de autoridades e produtores brasileiros.