Operação da Polícia Federal mirou o ex-CEO e membros da diretoria das Lojas Americanas
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Operação da Polícia Federal mirou o ex-CEO e membros da diretoria das Lojas Americanas

A fraude contábil bilionária que se estendeu por pelo menos uma década na  Americanas não seguia uma ordem lógica ou temporal predefinida, conforme revelam as investigações do Ministério Público Federal (MPF). Além de criar comitês fictícios para enganar as empresas de auditoria, a antiga gestão da varejista chegou ao extremo de fabricar emails falsos de fornecedores, como reportado pelo jornal O GLOBO.

Segundo um relatório da Polícia Federal (PF) baseado na delação de Marcelo da Silva Nunes, ex-diretor financeiro da empresa, os emails falsos dos fornecedores eram utilizados para validar cartas fictícias de Verba de Propaganda Cooperada (VPC). "Os fornecedores não tinham conhecimento de que os emails nas cartas de VPC eram manipulados", explicou Marcelo em sua delação, que inclui mais de 300 documentos anexados. O objetivo era enviar essas cartas alteradas às auditorias para aprovação das contas da varejista.

A VPC envolve créditos concedidos pelos fornecedores aos varejistas para diversos fins comerciais, como inclusão de produtos em materiais promocionais ou para gerenciar estoques. Contudo, segundo a PF, a antiga diretoria criava lançamentos contábeis fraudulentos relacionados a VPC inexistentes.

Marcelo descreveu que a manipulação das cartas de VPC envolvia a alteração de datas e valores em cartas reais, mantendo os dados básicos intactos. Ele também mencionou que "o lugar mais fácil de conseguir essas cartas falsas seria com os auditores, como a Price e a KPMG".

Em suas declarações, Marcelo revelou que nas reuniões com as auditorias, todas as medidas eram tomadas para ocultar as fraudes. "O fechamento dos resultados no final do ano era sempre muito tenso devido às várias fraudes necessárias para esconder da auditoria", disse ele.

Consequentemente, de acordo com a PF, o resultado era distorcido através da criação e registro fictício de contratos de VPC, melhorando artificialmente o desempenho da empresa como redutores de custos, mas sem contratos reais com os fornecedores e com impactos principalmente nas contas de fornecedores.

O relatório da PF também identificou uma série de outros esquemas, como a manipulação das despesas geográficas, contabilização indevida de despesas como investimentos, e a omissão do registro de créditos tributários, entre outros. A situação se tornou tão grave, conforme aponta o MPF, que em certo ponto o sistema foi bloqueado para a inclusão de notas de despesas, impedindo que gestores adicionassem despesas no módulo de contas a pagar.

Em alguns momentos, a direção usava a criatividade. “Assim, por exemplo, reclassificavam valores da linha de 'Despesas com pessoal' para linha de 'Despesas com prestadores serviços' ou para 'Outras', com vista a dar uma melhor leitura ao mercado, condizente com a narrativa montada para explicar o resultado", aponta o MPF.

"Algumas das fraudes eram realizadas para inflar artificialmente os lucros da companhia; outras serviam para escamotear o efeito caixa esperado diante do falso lucro e receita declarados, nos balanços bem como outras eram perpetuadas para esconder os crimes das auditorias realizadas sobre a contabilidade das empresas", aponta o MPF.

Segundo a PF, mês a mês, todos recebiam os resultados reais, tomavam conhecimento do refino dos números, elegiam um resultado fictício e tomavam conhecimento do resultado fraudulento. Isso ocorria para não frustrar as expectativas do mercado.

"Havia uma expectativa de mercado para que a cotação das ações chegasse a tal patamar, e esta expectativa era atingida com base nos resultados apresentados pela empresa", diz a PF, destacando que a cultura da varejista era de não ter resultados ruins.

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