O Ministério Público Federal (MPF)
explicou nesta sexta-feira (28) que Miguel Gutierrez
, ex-CEO da Loja Americanas
, tentava não aparecer na troca de e-mails com outros diretores do grupo que estariam envolvidos com a fraude bilionária dos balanços da varejista.
Segundo o órgão, Miguel Gutierrez, que foi preso na cidade de Madri, na Espanha
, pedia para receber os documentos por pen drive, e não por e-mail, com a intenção de se resguardar e evitar ter o nome ligado ao esquema.
"A maior parte dos documentos não era enviada a Miguel Gutierrez por e-mail. Para se resguardar, o CEO pedia que as informações fossem gravadas em pen drive e entregues fisicamente", diz o MPF.
Para chegar a esta conclusão, a investigação se baseia em uma troca de e-mails entre Flávia Carneiro e Carlos Padilha, outros funcionários da Americanas que estariam envolvidos na fraude.
Em setembro de 2019, ao comentar sobre as verbas de propaganda cooperada (VPC), que foram usadas para maquiar as planilhas da varejista, Flávia diz: "Padilha, segue o controle de verba. É o item 4 do índice no kit de fechamento".
Padilha, então, pediu para que o balanço fosse enviado por pen drive ao "MG", iniciais de Miguel Gutierrez. "Flávia, fecha com o Sérgio e Paula e envia pen drive ao MG como solicitado. Posiciona por favor. Obrigado", diz a resposta.
Segundo o MPF, o ex-CEO acompanhava e participava das fraudes da empresa "desde o seu planejamento até a publicação dos resultados".
Gutierrez, que chegou a estar foragido e teve o nome colocado na lista da Interpol, nega qualquer tipo de relação com as fraudes contábeis, que chegaram a R$ 25 bilhões.
Ainda não foi definido se o ex-executivo será enviado ao Brasil ou se ficará preso na Espanha, visto que o país não extradita seus cidadãos.
A fuga
Gutierrez deixou a empresa em dezembro de 2022. Em 29 de junho de 2023, ele embarcou com a esposa do Aeroporto do Galeão rumo a Paris, na França.
O casal comprou passagens on-line , no cartão de crédito, no site da Air France, e embarcaram no dia seguinte. Eles tinham passagens de volta, mas nunca retornaram.
O retorno estava marcado para 8 de julho de 2023 e foi reagendado para o dia 20 de junho de 2024.
Gutierrez tem dupla cidadania, brasileira e espanhola. Ele permaneceu em Madri, capital da Espanha, durante esse tempo. Os bilhetes vencem nesse sábado (29), segundo informações da coluna do Lauro Jardim, do jornal O Globo.
Miguel Gutierrez, ex-CEO das Lojas Americanas, foi preso nesta sexta-feira 28/6 em Madri, na Espanha. Ele é um dos acusados pelo rombo gigantesco na empresa. A prisão foi possível porque, a pedido do Brasil, o nome dele estava na lista vermelha da Interpol, a Polícia Internacional. Reprodução: Flipar
A Polícia Federal começou na quinta-feira (27/6) a Operação Disclosure, para prender não apenas Miguel Gutierrez, mas também Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora. Eles são acusados por uma fraude que causou um rombo de R$ 25 bilhões na empresa. Reprodução: Flipar
Policiais federais também saíram com 15 mandados de busca e apreensão contra ex-executivos do grupo. A Justiça determinou o bloqueio de meio bilhão de reais em bens dos envolvidos. Reprodução: Flipar
Já se sabe que Anna Christina também está no exterior. Com.o nome na Interpol ela está sendo procurada pela polícia de vários países. Reprodução: Flipar
O rombo nas Lojas Americanas causou assombro na época em que foi divulgado, no começo de 2023. A empresa teve que mudar seu quadro de executivos em busca de uma solução. Reprodução: Flipar
O plano de recuperação das Americanas para sair do atoleiro passou a ser conduzido pelo economista Leonardo Coelho, uma das referências em gestão de crise. Depois de trabalhar por 13 anos na subsidiária brasileira da Siemens, ele se tornou especialista em salvar empresas ao atuar no escritório de reestruturações Alvarez e Marsal. Reprodução: Flipar
Os sócios proprietários das Lojas Americanas - Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira - injetaram do próprio bolso R$ 3,5 bilhões para garantir pagamentos num momento em que as vendas no site caíram mais de 80% e as linhas de crédito foram interrompidas por falta de confiança na reestruturação da companhia. Reprodução: Flipar
As Americanas quitaram as dívidas com credores trabalhistas e com pequenos e microempreendedores. Essa primeira etapa de pagamentos totalizou R$ 4 bilhões. “O início da fase de pagamentos destrava a reestruturação financeira, com a retomada de prazo junto aos fornecedores”, afirmou a Americanas numa nota à imprensa na época. Reprodução: Flipar
Em fevereiro de 2024, a Justiça do RJ aceitou proposta de empréstimo à Americanas feita pelo trio de donos - Lemann, Telles e Sicupira - para garantir um capital de giro à empresa. A empresa anunciou, na época, que 130 das 1.700 lojas no Brasil foram fechadas e 800 vagas extintas — entre demissões ou não reposição de funcionários que pediram para sair da empresa. A companhia mantém 35 mil funcionários. Reprodução: Flipar
Na Páscoa de 2024, as Americanas divulgaram que a dívida havia caído de espantosos R$ 43 bilhões para R$ 1,8 bilhão. Ainda muito alta, mas indicando uma recuperação com a nova gestão. A empresa festejou um faturamento de 1 bilhão de reais na Páscoa, mostrando que os esforços para manter a clientela têm sido produtivos. Reprodução: Flipar
As investigações começaram logo depois da divulgação do rombo. Segundo a Polícia Federal a fraude maquiou os resultados financeiros da empresa para indicar um falso aumento de caixa e alavancar as ações das Americanas na Bolsa de Valores. Os executivos ganhavam bônus milionários por desempenho e obtiam lucros na venda de ações infladas. Reprodução: Flipar
Os responsáveis vão responder por manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Em caso de condenação, eles podem pegar até 26 anos de cadeia. Reprodução: Flipar
A força-tarefa montada para investigar a fundo o esquema do golpe teve, além da Polícia Federal, procuradores do Ministério Público Federal e representantes da Comissão de Valores Mobiliários. A administração do Grupo Americanas também contribuiu passando todas as informações disponíveis sobre a situação da empresa. A atual gestão busca o ressarcimento pelos danos e prejuízos. Reprodução: Flipar
O plano de recuperação das Americanas tem quatro fases: estancar a crise Reprodução: Flipar
A fraude nas Americanas foi denunciada pelo ex-executivo da empresa Sérgio Rial em janeiro de 2023. Na ocasião, ele informou que o rombo seria de R$ 20 bilhões e tinha sido descoberto porque o valor referente à contabilidade dos nove primeiros meses de 2022 e de anos anteriores não havia sido registrado de forma correta na corporação. O rombo foi encontrado no setor de fornecedores da empresa. Reprodução: Flipar
A notícia causou espanto, pois a empresa era uma das maiores do país. Em 2015, as Americanas ocupavam a quarta posição no ranking do IBEVAR - Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo Reprodução: Flipar
A surpresa foi tão grande que logo surgiram memes indagando como ninguém percebeu antes um rombo daquele tamanho? Depois, divulgou-se que, na verdade, o rombo era ainda maior. Dívida de mais de R$ 40 bi. Reprodução: Flipar
O impacto foi tão negativo que, na ocasião, a Globo se apressou para substituir as Americanas pelo Mercado Livre como patrocinador do Big Brother Brasil. Reprodução: Flipar
No dia 17/5/2023 foi instalada a CPI das Lojas Americanas na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mas isso causou mais confusão do que efetividade nas investigações. Em setembro, a comissão anunciou que concluiu a apuração e que não tinha provas contra eventuais culpados pela fraude. E a polícia prosseguiu com seu trabalho. Reprodução: Flipar
Na época da divulgação da crise, muitas pessoas ficaram com medo de fazer compras nas Americanas e não receber os produtos. O receio era, principalmente, com negócios pela internet. Mas o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor informou que não havia necessidade de evitar as compras. E que a empresa estava comprometida a fazer as entregas nos prazos corretos. Reprodução: Flipar
As ações das Americanas despencaram por causa da crise. E a empresa entrou com o processo de recuperação judicial, que incluiu, em maio de 2023, o anúncio da venda da Hortifruti Natural da Terra. Reprodução: Flipar
A empresa Americanas S.A. (anteriormente Lojas Americanas S.A. e B2W Digital S.A.) foi fundada em 1929 em Niterói (RJ) pelo austríaco Max Landesmann e os americanos John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger. Reprodução: Flipar
A empresa cresceu de forma impressionante e, na época da fraude, tinha mais de 3.800 estabelecimentos físicos de venda em todo o Brasil, além de quatro e-commerce. O modelo tradicional de Lojas Americanas ocupa uma área média de vendas de 1.500 m² e catálogo de 60 mil itens. Reprodução: Flipar
A empresa também se adaptou ao mercado com lojas de outros tipos. As Americanas Express, por exemplo, passaram a ser compactas, com média de 400 metros quadrados de área de vendas e catálogo de 15 mil itens. Reprodução: Flipar
A empresa também criou a Americanas Local, sistema inaugurado em 2016, num formato de loja de conveniência, com tamanho reduzido e produtos alimentícios selecionados. Reprodução: Flipar
Pela internet, as vendas são feitas no site Americanas.com, e, além de negociar os produtos da própria rede, a companhia também tem parceiros que anunciam as mercadorias por intermédio da companhia. Reprodução: Flipar
A operação
Além dos mandados de prisão, a PF cumpriu buscas e apreensões em 15 endereços ligados aos ex-diretores da varejista no Rio de Janeiro.
Outros investigados são: Anna Christina Soteto, Carlos Eduardo Padilha, Fabien Picavet, Fabio Abrate, Jean Pierre Ferreira, João Guerra Duarte Neto, José Timotheo de Barros, Luiz Augusto Henriques, Marcio Cruz Meirelles, Maria Chirstina Do Nascimento, Murilo dos Santos Correa e Raoni Lapagesse Franco.
A corporação investiga crimes de: Manipulação de Mercado, Uso de Informação Privilegiada, Associação Criminosa e Lavagem de Dinheiro.
O rombo da Americanas deixou a empresa em uma recuperação judicial de R$ 50 bilhões, a maior do Brasil.
A Americanas afirmou que confia nas autoridades que investigam o caso e ressalta que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria.
"A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos", disse, em nota, a empresa, hoje comandada por Sergio Rial, que expôs o rombo bilionário da varejista.