O Banco Central (BC) reiterou, em sua Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (25), que não há perspectivas iminentes de redução da taxa básica de juros, em meio a um cenário econômico desafiador caracterizado por inflação elevada e uma atividade econômica mais robusta.
Segundo o documento, a política monetária precisa permanecer contracionista por um período suficiente para consolidar não apenas a desinflação, mas também para ancorar as expectativas em torno das metas estabelecidas.
No documento, o BC diz que "a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".
"O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", continua a ata, como no comunicado.
A meta de inflação para este ano é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. As projeções oficiais do BC para 2024 estão em 4,0%, enquanto para 2025 é de 3,4%. O cenário base prevê que a inflação se mantenha próxima ao centro da meta no próximo ano, estimada em 3,1%, caso a Selic permaneça estável até o fim de 2025.
“Em sua conclusão, o Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada. Observou surpresas benignas no período recente, mas também elevação das projeções de prazos mais curtos, envolvendo preços livres. Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária."
Em uma decisão unânime na semana passada, o Copom manteve a Taxa Selic em 10,5% ao ano, encerrando um ciclo de cortes consecutivos iniciado anteriormente. A decisão foi fundamentada pela incerteza tanto no cenário global, principalmente em relação às políticas monetárias dos Estados Unidos, quanto no cenário doméstico, onde a atividade econômica está mais aquecida do que o previsto, impactando as expectativas inflacionárias.
O BC destacou a importância de uma política fiscal crível para complementar a política monetária, enfatizando que a sincronia entre ambas contribui para estabilizar os preços e reduzir os prêmios de risco dos ativos financeiros.
"O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", afirmou o BC na ata.
A instituição também revisou a taxa de juros real neutra para 4,75%, indicando a necessidade de uma taxa Selic mais elevada do que anteriormente esperado para controlar a inflação.
"O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países", diz o comunicado. Por isso, diz o BC, "a incerteza global sugere maior cautela na condução da política monetária doméstica."
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, reiterou que a autoridade monetária está comprometida em cumprir suas metas de inflação e garantir a estabilidade econômica do país.
Segundo o documento, a alta do consumo das famílias, impulsionada pelo mercado de trabalho vigoroso, benefícios sociais e pagamentos de precatórios, além dos investimentos, surpreenderam os analistas. Essa dinâmica contrasta com as expectativas anteriores de desaceleração da demanda.
Além disso, o Copom reconheceu a incerteza sobre os efeitos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul, mas revisou suas projeções de atividade econômica, que agora indicam um desempenho mais forte para o ano. Esta atividade econômica vigorosa tende a exercer pressão adicional sobre a inflação, levando o BC a avaliar que a economia está operando sem folga, em contraste com a visão anterior de subutilização de capacidade.
A sincronia entre as políticas fiscal e monetária foi enfatizada como crucial para assegurar a estabilidade de preços. O BC destacou que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui significativamente para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os prêmios de risco dos ativos financeiros.
"Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego", completou o BC na ata.
Após a divulgação da ata do Copom, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, questionou a consideração dos efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul na formulação da política monetária, argumentando que os impactos seriam de curto prazo e não deveriam influenciar significativamente as decisões do BC.
Atualmente, o Boletim Focus projeta que o IPCA deve encerrar o ano em 3,98%, com expectativas de 3,85% para 2025 e 3,60% para 2026, todas acima da meta de 3,0%. O Copom reafirmou seu compromisso com o controle da inflação e destacou que ajustes futuros na taxa de juros serão determinados pela necessidade de convergência da inflação à meta estabelecida.
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