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PEDRO LADEIRA
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Após sete cortes consecutivos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu nesta quarta-feira (19) i nterromper o ciclo de reduções da taxa básica de juros, a Selic . Assim, o Copom manteve os juros inalterados em 10,50% ao ano. A decisão, aguardada pelo mercado, indica uma mudança nas perspectivas para 2024, com previsão de juros mais altos comparado ao início do ano.

O destaque não foi apenas a decisão em si, mas também sua unanimidade: todos os diretores do Copom e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, votaram pela manutenção da Selic, em meio a críticas do presidente Lula.

Na reunião anterior, em 8 de maio, houve divisão de votos: diretores antigos propuseram um corte de 0,25 ponto percentual, enquanto os novos indicados por Lula preferiram um corte maior, de 0,50 ponto. O voto decisivo foi de Campos Neto, resultando no corte de 0,25 ponto.

O mercado estava preocupado com a possibilidade de uma política monetária mais flexível com a entrada dos novos diretores, alinhados às expectativas do governo. Por isso, a decisão unânime e mais conservadora do Copom trouxe alívio aos investidores.

Em nota, o banco Itaú elogiou a decisão, classificando-a como "esperada". "Em nossa visão, esta decisão e comunicado de livro-texto, apoiadas de forma unânime por membros do Copom, deverão ajudar a restaurar a confiança no compromisso do comitê com a meta de inflação, que, certo ou errado, tinha aparentemente sido prejudicada pelo dissenso anterior", diz o documento. 

Marcelo Bolzan, CGA, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, ressaltou que as falas do presidente Lula contra o Banco Central e o presidente da autoridade monetária, Campos Neto, deixaram o mercado ainda mais preocupado com a decisão desta quarta-feira (29), no entanto, a unanimidade da decisão deve acalmar os ânimos do mercado.

"Depois dos ruídos causados na última reunião pela decisão dividida, dessa vez o colegiado chegou num consenso. Os 9 diretores votaram de forma igual. Acredito que isso foi muito importante para reforçar que as decisões foram tomadas de forma técnica e não com interferência política e assim eliminar qualquer dúvida sobre a credibilidade da política monetária.", afirmou.

Em entrevista à Rádio CBN na terça-feira (18), Lula disse que o Banco Central é a "única coisa desajustada" no Brasil e que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, "trabalha para prejudicar o país".

"Na minha opinião, o mercado vai receber bem a decisão e o comunicado. Amanhã devemos observar queda no dólar e nos juros futuros, enquanto que a bolsa deve abrir em alta refletindo maior otimismo com a política monetária", diz Bolzan.

Setor produtivo ficou desapontado

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano tem gerado controvérsias, especialmente entre os setores produtivos representados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a CNI, a manutenção da Selic nesse patamar é excessivamente conservadora e inadequada diante do cenário econômico atual. 

“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação” defende o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Com a Selic mantida em 10,5%, a taxa de juros real no Brasil fica significativamente acima da taxa neutra estimada pelo Banco Central, o que indica uma postura contracionista que pode prejudicar a atividade econômica. Atualmente, a taxa de juros real brasileira é a segunda mais alta do mundo, o que reforça as preocupações com o impacto sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Previsões apontam que o crescimento econômico para 2024 será modesto, com expectativas de desempenho abaixo da média dos países em desenvolvimento, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Apesar da recente aceleração da inflação, que alcançou 3,9% em maio de 2024, as análises indicam que esses movimentos ainda não configuram uma mudança estrutural duradoura nos preços. Setores como alimentos têm sido responsáveis por parte dessa variação, enquanto as expectativas de inflação para o ano continuam dentro da meta estabelecida pelo governo. A CNI argumenta que uma política monetária menos restritiva poderia ser mais eficaz para estimular a economia sem comprometer a estabilidade de preços, refletindo uma visão divergente em relação à decisão recente do Copom.

Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, a manutenção da Selic em níveis elevados, apesar da inflação anual estar abaixo de 4%, é irracional e prejudica tanto o governo na tentativa de recuperar a economia quanto os consumidores e empresas, especialmente os micro e pequenos negócios. Ele critica a política do Banco Central, afirmando que a taxa de juros elevada beneficia principalmente os rentistas, tornando o crédito mais caro e dificultando o acesso ao financiamento para metade das pequenas empresas, cuja taxa média de juros chega a 40%.

Em resposta à falta de acessibilidade ao crédito, o Sebrae tem atuado em parceria com o governo federal no programa Acredita, que já concedeu R$ 1 bilhão em crédito por meio do Fundo de Aval para Micro e Pequena Empresa (Fampe). Este fundo, com aporte significativo do Sebrae, visa viabilizar até R$ 30 bilhões em crédito nos próximos três anos, beneficiando milhares de empreendedores e fortalecendo o setor de micro e pequenas empresas no Brasil.

A decisão preocupa a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), segundo a entidade Em linha com os demais setores produtivos do País, a CNC entende que esse é um movimento equivocado, já que ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 ponto nesta reunião.

A Confederação acredita que, com essa postura mais conservadora do Banco Central, nas próximas janelas de decisão seja aberto espaço para uma nova temporada de redução nos juros básicos da economia brasileira.

Por que a Selic não continuou caindo?

Em comunicado após sua decisão, o Copom destacou os fatores de risco tanto para a alta quanto para a baixa da inflação. Entre os fatores de risco de alta estão a persistência das pressões inflacionárias globais e a resiliência maior do que o previsto na inflação de serviços, devido a um hiato de produto mais estreito. Por outro lado, os riscos de baixa incluem uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica global e os possíveis efeitos mais fortes do que o esperado do aperto monetário global sobre a desinflação.

O Copom enfatizou que a conjuntura doméstica e internacional continua incerta, exigindo uma abordagem cautelosa na condução da política monetária. Especialistas observam que o ambiente fiscal brasileiro também se deteriorou, influenciado pela mudança na meta fiscal para 2025, a substituição da presidência da Petrobras e as incertezas sobre a capacidade do governo em equilibrar as contas públicas.

No que diz respeito ao futuro da taxa Selic, o Copom sinalizou que o cenário atual já aponta para uma desinflação mais lenta e uma ampliação das expectativas de inflação desancoradas, em um contexto global desafiador. Diante disso, o colegiado optou, de forma unânime, por interromper o ciclo de cortes de juros, sublinhando a necessidade de serenidade e moderação na condução da política monetária para consolidar a desinflação e ancorar as expectativas em torno das metas estabelecidas.

Os diretores reforçaram o compromisso de ajustar a taxa de juros conforme necessário para assegurar a convergência da inflação à meta.

"A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", afirmaram os diretores.

O Comitê ainda reforçou que se manterá vigilante e relembrou que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".

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