Planos de saúde
Sophia Bernardes
Planos de saúde

Os  planos de saúde, ameaçados por uma CPI, estabeleceram um acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para suspender o cancelamento de contratos de crianças com autismo, paralisia cerebral e outras doenças. No entanto, mães relataram ao UOL que o acordo não foi efetivo e os cancelamentos continuam.

Werica Gonçalves de Farias, mãe de Daniel Antonio Rosa Farias, 3 anos, foi informada na semana passada que a promessa feita aos deputados não impediu o rompimento do contrato de seu filho. Daniel sofre de AME tipo 1, uma doença que afeta os neurônios e demanda o uso de respirador e outros equipamentos para manter o menino vivo. Mesmo com a intervenção da polícia, Werica afirmou que não entregará os equipamentos essenciais para a sobrevivência de seu filho, preferindo até mesmo ir para a prisão por ele.

A empresa responsável pelo leilão do plano de saúde informou que o cancelamento do contrato de Daniel está programado para o dia 19 de junho. Entretanto, Werica afirmou não ter recebido nenhuma comunicação oficial sobre a suspensão do cancelamento, apesar da promessa feita pelos planos aos parlamentares.

O acordo entre os planos de saúde e o presidente da Câmara foi firmado em 28 de maio, mas a Supermed, administradora do plano de saúde, se eximiu da decisão de cancelamentos quando procurada para comentar sobre o assunto.

 "A empresa esclarece que, na qualidade de administradora de benefícios, não tem responsabilidade no que tange cancelamentos de contratos, sendo uma decisão tomada unilateralmente pelas operadoras de planos de saúde", disse em nota ao UOL.

A Unimed Ferj, operadora do plano, relatou não ter se reunido com os deputados. A empresa enviou nota com o seguinte trecho: "A Unimed Ferj esclarece que o mencionado acordo foi firmado entre instituições de representatividade de operadoras de planos de saúde das quais a Unimed Ferj não está incluída."

A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) assegura que suas associadas estão cumprindo o compromisso estabelecido com Lira. A associação citou um anúncio feito por Lira em suas redes sociais: "'Acordamos que eles (os planos de saúde) suspenderão os cancelamentos recentes relacionadas a algumas doenças e transtornos'".

A presidente da associação de mães Nenhum Direito a Menos, Fabiane Simão, denunciou uma ação para expulsar crianças doentes dos planos de saúde. Segundo ela, para as operadoras, o lucro está acima da vida. Fabiane apresentará casos de planos cancelados à CPI dos planos de saúde da Assembleia Legislativa do Rio nesta quarta-feira.

Mães que entraram em contato com o UOL relataram que os cancelamentos continuam, apesar do acordo com a Câmara dos Deputados. Elas expressam preocupação com a possibilidade de regressão ou morte das crianças devido à interrupção das terapias.

Amanda Souza, 6 anos, por exemplo, sentiu falta dos terapeutas na semana passada, depois que o plano de saúde foi cancelado em 1º de junho. A mãe, Andressa Souza, precisou explicar à filha que os terapeutas não poderiam comparecer naquele dia.

José Miguel Damasceno, 4 anos, também enfrenta a ameaça de cancelamento do plano de saúde, que está programado para 19 de junho. Sua mãe, Ivone Alves, está preocupada com a regressão do filho, que ficou um mês sem terapia no ano passado e teve sua capacidade social comprometida.

"A gente já paga mais caro e mesmo assim eles te descartam porque meu filho é uma porta de saída. Se for eu, me aceitam porque dou lucro para eles."

A professora Suelen Peres, 39 anos, obteve amparo da Justiça através de uma liminar para garantir o atendimento de seu filho Matheus Peres, de 5 anos. No entanto, o plano de saúde se recusou a restabelecer o contrato e manteve a suspensão do serviço até o último domingo (9).

Suelen criticou o tratamento oferecido pela empresa, relatando que a atendente sequer chamou a professora pelo nome correto durante a conversa sobre o cancelamento. "Roberta, de fato não foi emitido boleto para o mês 06/2024", escreveu a funcionária.

Mesmo acionando a Justiça novamente, até o momento não houve manifestação sobre o caso.

Procurados pelo UOL, os planos de saúde reconheceram que restabeleceram os serviços de três clientes após serem contatados pelo veículo de imprensa. As mães acreditam que essa mudança de posicionamento ocorreu devido à repercussão do caso na mídia.

Werica, no entanto, foi informada pela reportagem sobre a continuidade da terapia de seu filho e ainda não recebeu uma confirmação oficial.

Suelen foi notificada de que a liminar seria cumprida um dia após a administradora Supermed ter sido procurada pelo UOL.

Andressa soube que a filha poderia retomar a terapia quando o aplicativo da Amil voltou a funcionar. O aplicativo estava inacessível até que a operadora fosse contatada pela reportagem. Desconfiada, a mãe de Amanda relatou que a menina ficou uma semana sem os cuidados especializados e que só acreditará na retomada do contrato quando os atendimentos efetivamente ocorrerem.

A Amil informou que o plano de Amanda está ativo e ressaltou que não houve cancelamentos devido a uma doença específica ou perfil do cliente.

A presidente da associação Nenhum Direito a Menos destacou que a reativação dos contratos de quem aparece em reportagens se espalhou nos grupos, e as mães estão pedindo contatos para falar com os repórteres.

"As mães atípicas estão desesperadas para falar com a imprensa para ter seu plano religado".

“Esta é a realidade de quem não foi procurado pela imprensa. Enquanto isso, centenas de mães estão com planos sendo cancelados", disse Fabiane Simão, da associação de mães Nenhum Direito a Menos.

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