A herança de R$ 300 milhões deixada pelo engenheiro Renato Roberto Cuoco se tornou alvo de uma disputa judicial familiar. As informações são do jornal O Globo.
Renato faleceu em 2021, aos 77 anos, após enfrentar dois cânceres. O ex-vice presidente de operações da área de tecnologia da informação do banco Itaú foi um dos fundadores da Enciclopédia Itaú Cultural e Cultura Brasileira.
Com isso, acumulou um patrimônio milionário em imóveis e investimentos financeiros, que agora é disputado por três sobrinhos.
Disputa entre sobrinhos
Os irmãos Aberto Renato Cuoco e Felipe Renato Cuoco, sobrinhos diretos do executivo, receberam toda a herança após a morte do tio. Eles são filhos do irmão do engenheiro, que faleceu quando ainda eram crianças.
Já Andrea Costa Motta Salino, de 49 anos, é sobrinha por parte da ex-esposa de Renato, Letizia Cuoco, que faleceu em 2013. Desde 2022, Andrea solicita o reconhecimento de paternidade socioafetiva com o engenheiro à Justiça, para também ser incluída entre seus herdeiros.
A última decisão judicial, de 2023, negou o pedido da mulher. De acordo com a juíza, não foi possível comprovar relação de parentesco além da de tio e sobrinha.
"Eu não passava o Natal com o meu pai (biológico), passava com ele", disse Andrea. A mulher contou que, durante sua infância, dividia o tempo entre a casa dos pais e a casa dos tios.
De acordo com Giovanna Barros de Carvalho, advogada de Andrea, ela tinha uma relação "conturbada" com o pai biológico e, por isso, "encontrava segurança" na presença dos tios. "Viajava com eles praticamente todos os finais de semana", afirma a advogada.
"Ela comprava presente de Dia dos Pais para o Renato e tem diversas fotos dele dançando como se fosse o avô das filhas dela nas festas de 15 anos das meninas", diz a defesa.
Toda a educação de Andrea foi custeada pelo casal de tios, desde a escola até a faculdade de direito. Além disso, ela também trabalhou no Itaú por um período.
Mãe de três filhos, ela conta que passou a ter a vida financeira custeada pelo tio após dar a luz ao seu segundo filho, no início dos anos 2000.
Andrea se refere ao tio como sua "base emocional e também financeira". Segundo ela, o executivo também ajudou a pagar o ensino superior dos filhos no curso de medicina.
A defesa atesta, no processo judicial, que Renato bancava Andrea em diferentes quesitos: convênio médico, IPVA de automóveis, duas empregadas domésticas e motorista particular, por exemplo. Além disso, o engenheiro depositava mensalmente uma quantia de até R$ 100 mil para a sobrinha pagar o cartão de crédito.
"O que mais sinto falta é desse cara que podia ligar e conversar com ele sobre tudo. Depois da morte do meu tio, minha vida virou de ponta cabeça. Dispensei funcionários, cortei convênio, e o meu marido, que é médico, triplicou o trabalho para pagar as faculdades dos nossos filhos", afirmou Andrea.
Sobrinha diz que primos se aproveitaram do estado de saúde de Renato
De acordo com Andrea, os outros sobrinhos de Renato se aproximaram dele durante a pandemia, quando passaram a cuidar da saúde do executivo para ter acesso às suas finanças.
"Ele começou a ficar doente em 2019, quando teve câncer de próstata. Na pandemia, fiquei no Guarujá e o Alberto começou a ficar na casa do meu tio, a se oferecer para ajudá-lo. Em 2021, sofreu uma queda e foi parar no hospital. Foi aí que ele (Alberto) me contou que o tio estava com câncer novamente, com metástase cerebral", disse Andrea.
Ela afirma que Felipe e Alberto picotaram os documentos que estavam no apartamento do tio em Perdizes. Do outro lado, a defesa dos sobrinhos afirma que os documentos picotados não eram relevantes, apenas "papelada acumulada ao longo dos anos".
A polícia instaurou um inquérito para investigar uma suposta fraude na troca de beneficiários de previdência privada e aplicações financeiras deixadas pelo engenheiro em fundos de investimento.
Entretanto, o banco Itaú informou à investigação que não foram identificados indícios de fraude nas operações financeiras sob a titularidade de Renato. Com isso, o inquérito foi arquivado.
Outro lado
A defesa de Alberto e Felipe não se manifestou sobre o processo, que corre em segredo de Justiça.
Nos autos do processo, a defesa da dupla atesta que eles eram próximos de Renato desde que perderam o pai, quando ainda eram crianças. Desde então, Alberto e Felipe tinham uma relação de "afeto, apoio emocional e também material" com Renato.
Após a morte do tio, os sobrinhos procuraram por um testamento, que não foi encontrado. Com isso,a dupla assumiu as responsabilidade para a divisão do patrimônio.
A defesa também rejeita a relação paterna entre Andrea e Renato, sob o argumento de que a mulher não era a única pessoa a receber ajuda financeira do executivo, que também ajudava cerca de 18 pessoas entre amigos e familiares.
Ainda assim, os montantes mais significativos eram para a sobrinha, que recebeu um seguro que estava no nome de Renato, no valor de R$ 3 milhões, segundo o processo judicial.
"Andrea jamais morou com os tios, sequer foi por eles criada, educada ou tratada como filha [...] (Renato) tratava-se de um homem culto, com pleno acesso à informação, inclusive, para elaborar um testamento. Se não o fez, foi porque quis, porque desejou que seu patrimônio fosse para seus legítimos herdeiros, seus sobrinhos consanguíneos ", diz a defesa da dupla.
Reconhecimento de paternidade socioafetiva
Em setembro de 2023, Andrea teve o pedido de reconhecimento de paternidade socioafetiva negado pela Justiça por falta de provas.
A Juíza também indica que o pedido de Andrea tem "enfoque quase exclusivamente patrimonial" e que ao longo do processo ela "pleiteou reiteradamente que fossem bloqueados os bens que pertenciam ao falecido, mas nunca formulou pedido para que se alterasse seu registro civil em decorrência da suposta relação de filiação".
A defesa da sobrinha recorreu e pediu a anulação da sentença e pede a realização de um estudo psicossocial para estabelecer um laudo da dinâmica familiar entre tia e sobrinho. O caso aguarda a nova decisão da Justiça.
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