A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, rebateu nesta terça-feira (2) as declarações dada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao jornal O GLOBO, em que ele reclama de ter cíticos à sua gestão dentro do próprio partido. A deputada, por sua vez, reforçou que não discorda de tudo na política econômica, mas teme a "política fiscal contracionista".
"É um direito do partido e até um dever fazer esses alertas e esse debate, isso não tem nada de oposição ao ministro e nem a ninguém. É da nossa tradição", declarou a presidente do PT ao jornal O GLOBO.
Em entrevista ao GLOBO, Haddad comentou, sem citar nomes, sobre ter críticos dentro do PT.
"Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: “A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!” E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver."
O líder da legenda na Câmara, Zeca Dirceu (PR), e o deputado Lindbergh Farias (RJ), também sou contrários à algumas medidas de Haddad na Fazenda, principalmente da austeridade fiscal.
Um documento divulgado pelo Diretório Nacional do PT em dezembro diz que o país precisa se libertar do "austericídio fiscal". Gleisi amenizou o tom do texto e disse que não tem a ver com Haddad.
"Não é verdade que a nossa resolução diz que está tudo errado e tem que mudar tudo. Não tem uma linha que fale isso, muito pelo contrário. Acho que com tanto empenho em negociações com o Congresso sobre a agenda econômica, o ministro Haddad talvez não tenha tido a ocasião de ler integralmente a resolução do Diretório Nacional do PT, de 8 de dezembro", declarou
"É uma resolução que não trata individualmente de nenhum ministro, a gente trata do governo do Lula como um todo, sobre política econômica e social. Destacamos fortemente os indicadores positivos, inclusive da economia, uma economia que o mercado previa que ia crescer 0,9, cresceu três pontos percentuais", completou.
Mesmo assim, ela não deixou de criticar propostas do comandante da economia do país, como o arcabouço fiscal e a meta de déficit zero neste ano.
"A nossa resolução é positiva para o governo, o que nós criticamos foi a política monetária do Banco Central, dizendo que com uma política monetária contracionista, que vai continuar, os juros estão caindo a conta gotas na nossa visão, a gente não pode ter uma política fiscal contracionista", disse.
"Nós colocamos preocupação com esse desafio que temos na política fiscal. O arcabouço somado ao déficit zero vai diminuir muito o papel do Estado no desenvolvimento da economia se continuar assim, essa é a nossa preocupação, foi isso que nós falamos. Jamais criticamos e dissemos que está tudo errado", completou.
Ela declarou que pretende conversar com Haddad sobre o assunto e negou que o partido faça oposição ao ministro.
"Não estou em Brasília e não falei com ele. Quando eu voltar, não tem problema nenhum, é conversando que a gente se entende, inclusive falando as coisas.
Gleisi também declarou que o PT sempre apoiou as iniciativas do governo na economia".
"O PT sempre foi muito solidário ao governo. Votando integralmente com o governo em todas as votações, inclusive nas econômicas, reconhecemos a importância da tributação dos fundos offshore, dos fundos de super rico, o voto de qualidade do Carf, a compensação do ICMS e outras."
Segundo ela, o bom desempenho da economia neste ano pode ser atribuído à PEC de transição, que abriu espaço no Orçamento deste ano, mais uma vez criticando medidas de ajuste fiscal.
"(Na resolução do PT) Falamos da PEC da Transição, a importância que ela teve no papel do Estado de retomar políticas importantes, como o aumento real do salário mínimo, a desoneração da tabela do Imposto de Renda, a reformulação do Bolsa Família, o programa Farmácia Popular, falamos também do Desenrola, que foram programas que colocaram dinheiro na economia brasileira. O aumento do salário tem um impacto imenso quando se olha para os aposentados brasileiros. Isso, junto com o crescimento da agricultura, levou o PIB a 3%, foi muito importante."
Gleisi pontuou ainda que achou precipitado Haddad levantar o debate sobre a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Fazendo afirmou que Lula deve ser candidato à reeleição em 2026, mas apontou que é preciso discutir nomes para as eleições seguintes.
"Acho extemporânea a discussão sobre a sucessão do presidente Lula. Nós precisamos fazer com que tudo dê certo porque é isso que vai garantir a sucessão, inclusive a reeleição de Lula na próxima eleição. Temos que entregar resultados ao povo brasileiro, foi para isso que a gente elegeu o presidente Lula e fizemos o enfrentamento que fizemos ao longo desse tempo", disse Gleisi.