O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos elabora a aplicação de uma espécie de "Enem" para concursos públicos , que funcionaria da mesma forma que o Exame Nacional do Ensino Médio, mas a finalidade seria assumir vagas na administração federal. Para especialistas, trata-se de uma boa oportunidade para quem vem tentando um emprego há tempos.
O Concurso Nacional Unificado , como é chamado oficialmente, deve ser realizado, ao mesmo tempo, em 179 cidades, para escolher os candidatos para as mais de 8 mil vagas abertas em ministérios, agências e institutos.
Para a seleção dos municípios, foram consideradas a densidade populacional, o raio de influência microrregional de cidades médias e grandes e as facilidades de acesso entre elas.
O concurso será dividido por regiões, sendo que a Nordeste deverá conter o maior número de cidades em que serão realizadas as provas (50), seguida por Sudeste (49), Norte (39), Sul (23) e Centro-Oeste (18).
"Com essa estratégia, nós pretendemos atrair pessoas que jamais teriam, em outras condições, oportunidade de concorrer a uma vaga no setor público", disse o secretário de Gestão de Pessoal do ministério, José Celso Cardoso Jr, em live que divulgou o projeto inicialmente.
“É uma ideia de fato inovadora e que parte do fato de haver muitas vagas sendo oferecidas simultaneamente. Esse conjunto de vagas perpassa mais de 100 órgãos da Administração Pública Federal, porque quando os servidores estiverem inseridos no local de trabalho eles vão cobrir várias áreas de atuação do Estado. Isso é muito importante no trabalho de reconstrução da capacidade do governo de oferecer políticas públicas com maiores e melhores condições para a população. É disso que estamos tratando”, completou.
Todos os concursos serão obrigatoriamente juntos?
Representantes do MGI e dos órgãos com certames abertos vão se unir para definir critérios para a prova, que deve ser aplicada em 25 de fevereiro de 2024. A adesão ao novo processo unificado é optativa para cada órgão. O edital do Concurso Nacional Unificado deve sair em dezembro deste ano.
Cada órgão tem até o dia 29 de setembro para optar por aderir, ou não, ao certame unificado. “Ainda não temos o desenho completo de tudo isso porque depende dos órgãos que vão aderir para trazerem à comissão organizadora esses detalhes, se vão querer agregar pontos relativos à titulação ou experiência profissional e em que magnitude isso se dará”, explicou José Celso.
Confira o cronograma:
- Até 20/set - ato normativo do Ministério da Gestão criando comitê organizador;
- Até 29/set - adesão dos Ministérios ao Concurso Nacional Unificado;
- Até 20/dez - publicação do edital do Concurso Nacional Unificado;
- Data indicativa inicial de 25/fev - realização da prova em dia único.
O ministério prevê que os resultados do certame sejam divulgados em abril do próximo ano para as admissões começarem entre junho e julho.
Vantagens e desvantagens
Fernando Mesquita, especialista em aprendizagem acelerada e diretor do programa de mentoria e coaching do Gran compara a novidade ao surgimento do Enem, que enfrentou dificuldades no princípio, mas depois se aprimorou e se consolidou.
“Essa unificação representa a democratização do acesso ao serviço público, porque o Brasil é muito plural, então é interessante ter gente do Norte, Nordeste, Sudeste, na administração federal, porque essas pessoas vão ser as gestoras”, comenta.
Ele adiciona que as principais vantagens não estão associadas aos concurseiros em si, mas sim para o Estado, isso porque, ao todo, são dez mil vagas autorizadas para concursos, o que demandaria muito tempo e dinheiro para realização de provas separadas.
“Sob o aspecto da administração, encontrou-se uma saída muito elegante, muito interessante, porque assim você pega um grupo com especialização em concursos, realiza uma prova unificada e dá numa tacada só o provimento de todos esses cargos”, afirma.
“Você paga uma taxa de inscrição só e tem menos custo de deslocamento, já que as provas serão aplicadas em 179 cidades”, completa.
Como pontos negativos, ele critica, primeiramente, o curto prazo entre a divulgação do edital e a realização da prova, que, segundo cronograma, será de pouco mais de 2 meses. Mesmo assim, ele ressalta que não há motivo para desespero. A dica é estudar os conteúdos do edital anterior de cada órgão almejado.
Além disso, ele pontua que, com o CNU, acaba a possibilidade de realizar várias provas para várias áreas do governo.
Do ponto de vista de quem pretende se candidatar às vagas, a concorrência deve ser maior, mas, segundo Mesquita, não há motivo para preocupação.
“A maioria dos que estudam para concurso, estuda errado, então aprender a estudar, usar bons materiais e ter um bom processo de estudos já diferencia o candidato de 99,9% dos demais”, diz.
Vagas
A estimativa inicial é de que sejam ofertadas 7.826 vagas, para as mais diversas áreas, como administração e finanças; infraestrutura e regulação; agricultura, meio ambiente e desenvolvimento agrário; educação, ciência, tecnologia e inovação; políticas sociais, justiça e saúde; trabalho e previdência; dados, tecnologia e informação pública; e nível intermediário.
O exame terá duas etapas, sendo uma objetiva que será igual para todos os candidatos, e outra dissertativa de acordo com a área escolhida para o candidato.
Após a primeira fase poderão ser agregadas, a critério dos órgãos ou por determinação legal de carreiras específicas, pontuações relativas à titulação acadêmica, experiência profissional, apresentação de memoriais, provas práticas e etc.
O especialista Fernando Mesquita orienta os concurseiros a manterem o foco e continuarem estudando os conteúdos que foram classicamente cobrados para as provas anteriores
Cotas
A ministra da pasta, Esther Dweck, garantiu que aplicará as cotas "da maneira mais correta".
"Precisamos renovar a lei que vence no ano que vem. Mas renovar de uma maneira melhor. […] Fizemos um guia referencial para concursos públicos, reforçando muito a necessidade de promover o ‘ethos’ público, a realidade brasileira, a inclusão, a diversidade e os direitos humanos como princípios básicos nessa seleção de pessoas para trabalhar no setor público”, disse a ministra.
Para Dweck, a maneira como a legislação estava sendo aplicada acabava não assegurando as cotas mínimas de 20%. “Ou a cota de 20% tinha virado um teto, e não um piso que é como tem que ser”.
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