O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que a reforma do Imposto de Renda
deve enfrentar resistência, mas será feita com debate e cautela.
"Mas nós vamos divulgar os dados", afirma ele. "Como um país com tanta desigualdade isenta de imposto de renda o 1% mais rico da população?", questiona.
Para Haddad, a primeira fase da reforma, que unifica os tributos do sistema brasileiro, pode ser comparada ao "Plano Real" do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele admite, porém, que ainda há muito a fazer para alcançar o déficit projetado pelo Tesouro Nacional, que é de R$ 162,4 bilhões.
O governo definiu como meta zerar o déficit primário no próximo ano. Para isso, Haddad defende "corrigir distorções absurdas do sistema tributário". Aponta como exemplo "escândalo patrimonialista dos mais execráveis" em regras que beneficiavam empresas no julgamento de suas dívidas com a Receita Federal.
"Estamos promovendo a republicanização do estado brasileiro", afirma o ministro.
O ministro disse ainda que realizará debates sobre a inclusão da cobrança na distribuição de lucros e dividendos e prega cautela quando o assunto é incidência do imposto sobre a classe média.
"No Brasil, a classe dominante sempre resistiu à formação de uma classe dirigente distante de interesses particulares de setores e grupos específicos, como ocorre em países ricos e desenvolvidos", declarou.
Haddad disse que o governo está tentando "achar uma linha fina" entre ações que beneficiem a população e o mercado financeiro.
"Acabar com o teto de gastos é uma reforma pró-mercado? Fazer uma reforma tributária ansiada há 30 anos é pró-mercado?", questionou
"Tem coisas que são boas para todo mundo, inclusive para o mercado. Nosso desafio é recuperar a tese que vigorou nos mandatos anteriores do presidente Lula, de que os de baixo ganharem um pouco mais não significa os de cima perderem. Significa caminhar na direção de uma sociedade mais equilibrada", completou.
O ministro também criticou o Banco Central por manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, mas disse que "ele [o BC], um dia, acorda".