O mês de fevereiro não foi nada bom para os investidores da Bolsa de Valores brasileira. Após alta de 3,37% em janeiro , o índice Bovespa, que mede o movimento das ações brasileiras, tombou 7,49% no mês seguinte, operando a 104.932 pontos, totalizando queda de 4,37% nos dois meses do ano.
O dólar, por sua vez, andou praticamente de lado, recuando de R$ 5,28 no fechamento de 2022 para R$ 5,2369 no fim de fevereiro, representando queda de 0,81%.
Anderson Domingos, professor de gestão/inovação na pós FGV e Consultor de Investimentos na Favos Invest, diz que o dólar tem oscilado pouco por questões externas.
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"O Banco Central americano não se posiciona para fortalecer a moeda. Eles estão com uma inflação absurda, mas sem aumentar os juros como deveriam, além da questão do emprego, que vêm acelerando acima do esperado. Com isso, o dólar fica esperando alguma definição e oscila pouco", diz.
Segundo especialistas do mercado financeiro, ruídos políticos têm interferido diretamente na economia brasileira. Sejam declarações do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou da equipe econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda). Com isso, os principais papéis que vem sofrendo são o das estatais.
Além disso, nesse mês, houveram vários balanços empresariais que vieram abaixo das expectativas do mercado, fazendo com que a confiança nos ativos diminuísse.
As ações ordinárias da Petrobras, por exemplo, fecharam em queda de 4,38%, e as preferenciais recuaram 3,47% depois do anúncio de corte de 3,9% no preço da gasolina em suas refinarias. A medida seria para compensar o retorno dos impostos federais sobre o combustível.
Outro comentário que têm causado variação nos papéis do mercado é o de possível alteração na “Lei das Estatais” - Lei nº 13.303/16. O ponto de divergência do governo em relação ao dispositivo é em relação à indicação dos gestores das estatais, quefoi alterada em dezembro do ano passado, possibilitando assim a indicação de Aloísio Mercadante para o BNDES e Jean Paul Prates para a Petrobras, ambos ligados ao PT.
Investidores temem redução dos lucros das estatais para utilização em programas do governo, além de aumentar o risco de desvios e corrupção interna nas empresas para fins pessoais ou eleitorais. Para Lucas Sharau, especialista em mercados financeiros e assessor na iHUB Investimentos, uma possível alteração na lei causaria interferências diretas no valor dos papéis da empresa:
“Existe um medo no mercado sobre as consequências do uso dos lucros das estatais para fomento de atividades do Estado, em detrimento da distribuição dos dividendos. Uma vez que, ao não pagar dividendos sob essa alegação, além de criar insegurança sobre seus pagamentos futuros, haverá um grande impacto negativo no interesse do mercado sobre essas empresas, causando o efeito de derrubada de seu preço”, comenta.
A possibilidade do governo “secar a fonte” dos dividendos das estatais preocupa o mercado, que já precifica a possibilidade de isso acontecer, principalmente após o governo confirmar que a Petrobras pode atuar para compensar o aumento do combustível por conta da reoneração dos tributos federais.
“Neste caso, podemos ter como consequência o afugentamento do capital privado e consequente depreciação no valor das empresas sob este tipo de ingerência, por não haver a “premiação” dos dividendos àqueles que emprestam dinheiro a essas empresas. Mas o maior medo do investidor, além do “sequestro” dos dividendos, está na possibilidade de interferência política nas decisões estratégicas da empresa, resultando em maus negócios, corrupção e maiores prejuízos a toda a companhia por períodos mais longos de tempo”, diz o assessor de investimentos.
Outro ponto que tem afastado investidores da Bolsa brasileira é a Selic alta, no patamar atual de 13,75%. Segundo Anderson Domingos, isso faz com que a renda fixa se torne mais atrativa.
"A gente está errando na mão com essa taxa de juros, com isso a Bolsa fica consolidada e o brasileiro fica com essa estigma rentista e deixa de colocar o dinheiro onde tem um pouco mais de risco e acaba colocando no CDI e no Tesouro Direto", afirma.
O que esperar para março
Segundo os especialistas, nada deve mudar significativamente no próximo mês, já que a Bolsa brasileira segue um movimento de consolidação nos últimos quatro anos.
"O preço da Bolsa está encaixotado há 4 anos. A região de cem mil pontos é considerada o suporte, o piso, e é bem vista pelos investidores. É a região em que os grandes players costumam aportar bastante", diz Domingos, da Favos Invest.
Ele alerta, no entanto, que o cenário macroeconômico interno segue no radar, assim como o cenário externo, que segue de alto risco com a continuidade da Guerra da Ucrânia e com tensões entre China e Taiwan.