Americanas: CVM abre investigação contra Lemann, Sicupira e Telles

Comissão quer apurar conduta dos controladores da varejista após a descoberta de rombo de R$ 43 bilhões

Americanas informou ter dívidas de até R$ 43 bilhões
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia - 19/01/23
Americanas informou ter dívidas de até R$ 43 bilhões

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) instaurou um inquérito para investigar a conduta dos controladores da Americanas após o anúncio de um rombo encontrado no caixa da empresa. Os empresários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles devem ser questionados sobre as inconsistências encontradas e a CVM quer saber se eles estavam cientes do déficit antes mesmo do anúncio.

A comissão informou que abriu ainda outros processos para investigar a crise na rede varejista. Um dos processos será para investigar a atuação de intermediários em ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários de emissão da companhia.

“Após a investigação e apuração de fatos e eventos, caso venham a ser formalmente caracterizados ilícitos e/ou infrações, cada um dos responsáveis poderá ser devidamente responsabilizado com o rigor da lei e na extensão que lhe for aplicável”, afirmou a CVM.

A CVM ainda promete investigar as agências de classificação de risco por não apontar emissões de notas da Americanas. As apurações são realizadas em conjunto com a Polícia Federal, Ministério Público Federal e a Advocacia-Geral da União.

Recuperação Judicial

A Justiça do Rio de Janeiro aprovou na tarde de quinta-feira (19) o pedido de recuperação judicial da Americanas. A empresa tenta se recuperar do rombo bilionário descoberto na última semana.

Em comunicado, a empresa informou ter R$ 43 bilhões em dívidas, o dobro do estimado inicialmente. Mais cedo, a varejista disse ter apenas R$ 800 milhões em caixa, sendo uma “parcela significativa” bloqueada para movimentações.

Com isso, a Americanas terá as cobranças de dívidas suspensas por 180 dias. Um administrador será o responsável por acompanhar o processo. Se esse prazo não for cumprido ou se os credores não aprovarem o plano de recuperação, a Americanas poderá decretar falência após quase 100 anos de operação.

Na última quarta-feira (11), a Americanas informou a descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões após inconsistências em lançamentos contábeis em exercício anteriores. O caso foi divulgado pela própria empresa em Fato Relevante aos investidores.

A notícia provocou a renúncia do CEO da empresa, Sérgio Rial, dez dias após assumir o cargo. O diretor de Relações com Investidores, André Covre, também foi desligado da Americanas após ser empossado no último dia 2 de janeiro.

Rial deverá colaborar de forma independente com o corpo acionário da empresa e continuará como presidente do Conselho de Administração do Santander.

Em conferência com empresas de investimento, Rial explicou que o rombo estava lançado na linha de fornecedores e não na dívida ativa da empresa. Se ajustar para a linha de endividamento, a situação financeira da Americanas poderá degringolar consideravelmente, apontam analistas.

Ao mercado, Rial previu que os erros na contabilidade são frequentes há pelo menos sete anos. Ele não justificou o motivo das inconsistências, mas o mercado acredita que a empresa não deu conta do crescimento de vendas, principalmente no e-commerce.

A Americanas ressaltou que abrirá uma investigação para averiguar o motivo das inconsistências contábeis e os responsáveis. Um conselho interno deverá tomar as rédeas do caso. Ainda não há prazo para a conclusão das investigações.

A empresa foi fundada em 1929 por empresários austríacos e americanos. A primeira loja se instalou e Niterói, no Rio de Janeiro, e logo no primeiro ano a varejista abriu outras duas lojas no Rio e uma em São Paulo.

Ela foi vendida para os empresários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles em 1982. Em 2021, o valor de mercado da empresa estava estimado em R$ 55,2 bilhões.