Há duas semanas, o preço da gasolina vem subindo nos postos de todo o Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Isso acontece mesmo sem a Petrobras estabelecer qualquer reajuste, já que a estatal não anuncia correções desde o início de setembro, quando houve queda de 7%
no preço do combustível nas refinarias.
De acordo com cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) divulgados nesta terça-feira (25), o preço da gasolina está em defasagem no Brasil há seis semanas.
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A defasagem acontece quando a Petrobras vende o combustível no Brasil com valor abaixo do Preço de Paridade de Importação (PPI). O PPI é a política de preços da estatal, que reajusta os valores no mercado interno de acordo com os preços internacionais - o que não está acontecendo atualmente.
Segundo o CBIE, se o reajuste fosse aplicado, a gasolina subiria 12,27%, o que representa R$ 0,46 por litro.
O "freio" que a Petrobras impôs sobre os reajustes nos combustíveis se deve, de acordo com reportagem do jornal O Globo, por pressão do governo do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) para que a gasolina e o diesel não fiquem mais caros antes do segundo turno das eleições, que acontecem neste domingo (30).
Por que a gasolina está mais cara?
Mesmo sem os reajustes, a gasolina está mais cara. De acordo com a ANP , no início de setembro, quando o último reajuste da Petrobras foi aplicado, o litro da gasolina custava, em média, R$ 5,17 no Brasil.
Depois disso, o preço foi caindo semana a semana, atingindo R$ 4,79 por litro na primeira semana de outubro. Na semana seguinte, encerrada no dia 15 de outubro, o combustível teve alta de 1,46%, chegando a R$ 4,86. Já na semana encerrada em 22 de outubro, houve outra alta, agora para R$ 4,88 (+0,41%).
Se a Petrobras está segurando os reajustes, por que o preço da gasolina na bomba está subindo? Diversos fatores interferem nesta conta.
Para o economista Igor Lucena, o principal deles é a própria dinâmica dos postos de gasolina, que se antecipam ao reajuste futuro e já começam a repassar o preço para os consumidores. "Mesmo com a Petrobras não alterando o valor da gasolina, já há um movimento dos próprios distribuidores e postos", aponta.
Outro fator, de acordo com Igor, são os ajustes feitos pelos estados no que diz respeito ao corte no ICMS dos combustíveis. O economista cita o exemplo do Ceará, que incorporou aos 18% de teto determinado pelo governo federal mais 2% de imposto referente ao Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) do estado.
Há, ainda, mais em jogo. Apesar da Petrobras não aplicar os reajustes há quase dois meses, refinarias privadas aplicaram. É o caso, por exemplo, da refinaria de Mataripe, responsável por cerca de 12% a 15% da capacidade de refino do Brasil.
Outro fator que pode ser levantado é a alta da demanda: com a queda no preço da gasolina vivenciada nos últimos meses - antes do recente aumento -, cresceu a quantidade de pessoas consumindo o produto, o que poderia pressionar o preço. Igor, porém, discorda dessa visão, já que "a oferta de gasolina no Brasil é muito grande e bastante controlável".
Preço da gasolina vai subir mais?
Independente dos fatores que impulsionam o preço da gasolina no Brasil atualmente, uma questão é inegável: o combustível ficará ainda mais caro.
O reajuste que vem sendo segurado pela Petrobras chegará em algum momento, possivelmente após o segundo turno das eleições. Quando isso acontecer, é provável que a gasolina suba de acordo com o PPI, ou seja, cerca de R$ 0,46 por litro, segundo cálculos do CBIE.