Um dia após Luiz Inácio Lula da Silva repetir que acabará com o teto de gastos, o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles disse que ainda não debateu política econômica com o candidato do PT à Presidência da República.
Neoaliado do petista, Meirelles foi responsável por instituir a regra que limita o crescimento de gastos ao percentual da inflação do ano anterior. Ele afirma que conversará sobre o assunto com Lula "no devido momento", ou seja, após as eleições, para que a âncora fiscal seja preservada.
Meirelles declarou apoio a Lula na semana passada e tem sido visto por agentes econômicos como possível fiador da política econômica de um eventual governo do PT. O programa econômico do PT não detalha como pretende substituir o teto de gastos, que é a principal âncora fiscal do país.
"Eu não estou entrando em estratégia política. Fui convidado para ir lá expressar a minha opinião. Fui, falei tudo que fizemos de positivo no governo dele e ponto. Ele tem a campanha dele e a estratégia política dele. Agora, no devido momento, vou dar a minha opinião. Se vai seguir ou não, aí é uma questão de desdobramento da realidade. Eu acho que o caminho é esse (preservar o teto de gastos). Você não só precisa fazer investimento social, mas tem que crescer, gerar emprego", disse Meirelles.
Em ato no Rio de Janeiro, no domingo, Lula fez questão de dizer que, quando retornar ao poder, "acabou o teto". A declaração foi dada em ato na quadra da Portela, Zona Norte do Rio, ao lado do prefeito Eduardo Paes (PSD). Para Meirelles, seria possível liberar investimentos sem prejuízo ao equilíbrio fiscal.
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"Nós não conversamos sobre política econômica, ficamos de conversar depois da eleição. E aí vamos ter uma oportunidade de endereçar todos esses assuntos. Eu pretendo mostrar a ele e à sociedade que é possível, sim, manter o Auxílio Brasil a R$ 600, fazer os investimentos sociais mantendo o teto. Para isso, é preciso fazer uma reforma administrativa bem feita", acrescentou o ex-presidente do Banco Central.
Integrantes do PT afirmam que a regra que irá substituir o teto precisa ser anticíclica (que não trave gastos em momentos de recessão e nem crie muitas despesas em épocas de crescimento), flexível, que priorize investimentos, e que garanta credibilidade. Uma das propostas estudadas consiste em estabelecer uma trajetória de crescimento real para o gasto, ou seja, acima da inflação, mas previsível.
Já se discutiu também metas específicas para crescimento do gasto com investimento, com saúde, com educação, com folha de pagamentos, entre outros itens. Existe um certo consenso de que, seja qual for a regra de curto prazo, é recomendável que ela considere cenários de longo prazo para evolução da dívida líquida e bruta.
Para Meirelles, tudo dependerá de conversas no momento da transição entre governos.
"É uma questão de diálogo. Eu entendo a preocupação dele com a questão do investimento social, a questão do auxílio. Agora, por outro lado, pela minha experiência, sei que é possível manter o teto de gastos e fazer investimento social com a reforma administrativa. Isso tem uma vantagem enorme porque dá estabilidade, ancora a economia e permite que o país cresça. E a melhor política social, a gente sabe disso, é o emprego", disse.