Inflação nos mercados sobe 1,33% em junho; em 12 meses, alta é de 20%
Inflação desacelera pelo segundo mês consecutivo, mas dado inédito revela que brasileiro ainda tem consumido menos carne bovina
O IPS (Índice de Preços dos Supermercados) calculado pela APAS/Fipe, registrou alta de 1,33% em junho e de 20,01% nos últimos 12 meses . A desaceleração do índice de inflação foi verificada por conta da deflação de alguns produtos com peso relevante no consumo das famílias, muito em virtude da maior oferta desses itens nas gôndolas, decorrência do baixo consumo nacional e dificuldades de exportação.
Semielaborados (efeito substituição)
Um dos efeitos da desaceleração dos preços dos alimentos está no comportamento dos consumidores, que tem substituído itens do consumo da proteína animal. Dados coletados pela Boltis, empresa de inteligência que analisa as informações coletadas por meio dos cupons fiscais processados pelos supermercados, na comparação entre o primeiro quadrimestre de 2022 e o mesmo período do ano passado, a carne bovina apresentou retração de consumo de 7% em 2022, muito em decorrência do aumento de preço em 9% no período estudado. Assim, para manter o consumo de proteína animal, a carne bovina tem sido substituída pela suína, que apresentou queda de 14% no preço em comparação ao primeiro quadrimestre de 2021. Dados da Boltis revelam que a carne suína, por sua vez, teve aumento de 26% no consumo no mesmo período.
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Até junho deste ano, a carne suína apresentou deflação de 7,76% nos últimos 12 meses e, no acumulado entre janeiro e junho, queda de 8,06%. A redução no consumo da carne bovina provocou redução em seu preço, também impulsionada pelo aumento de animais abatidos (5,48% em relação ao primeiro trimestre de 2021) e redução nas exportações, elevando a oferta interna do produto nas prateleiras brasileiras, causando em junho o primeiro registro de deflação do item.
As exportações de carne bovina caíram 15,08% neste primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com dados do Ministério da Indústria e Comércio, favorecendo o consumo nacional.
O aumento nos abates e a redução das exportações, somadas à menor procura pelo produto devido ao alto custo, produziram a queda nos preços percebida em junho, refletida em 12 de 14 cortes bovinos acompanhados pelo IPS.
Os insumos também apresentaram alguma redução, diminuindo os custos dos produtores. A cotação da soja diminuiu nesse período, produzindo menos impacto no preço final, uma vez que a commodity responde por cerca de 70% na composição das rações animais. Mesmo com este pano de fundo, a carne suína ainda possui um preço mais atraente porque acumula deflação de 8,06% no ano e o Brasil tem exportado menos o produto para a China, que tem recuperado seu rebanho, e para a Rússia, em detrimento da guerra no leste europeu.
Já com as aves vem acontecendo o movimento contrário, pois a China aumentou as importações de frango do Brasil, depois de cancelar as dos Estados Unidos e da Europa por conta de um surto de gripe aviária (H5N1), movimentando os preços para cima no mercado interno. As exportações acabam por produzir um aumento nos preços do item, apesar de um crescimento de 3% na oferta de carne de frango. Aliado à demanda internacional, o preço do produto também é puxado para cima por conta dos custos logísticos. No ponto de venda, o preço subiu 23,10% nos últimos 12 meses.
Produtos industrializados (lácteos)
Os produtos industrializados vêm sofrendo todo o impacto dos aumentos no custo da energia elétrica e da subida generalizada nas matérias-primas e logística. Em alguns casos, como o leite, também sofrem por conta das condições climáticas (a redução das pastagens por conta da estiagem força os produtores a alimentarem o rebanho com ração). Em junho, o leite subiu 9,12% e, no acumulado do ano, 41,45%.
Além disso, a redução da oferta dos produtores impacta diretamente a indústria alimentícia, que precisa disputar o produto com a indústria, aumentando o custo da produção atingindo diretamente a indústria láctea e consequentemente os supermercados e, por fim, os consumidores. Nos últimos 12 meses, segundo o IBGE, houve uma elevação de 30,69% no custo de produção da indústria alimentícia, sendo que em maio o aumento do custo foi de 2,74%.
Hortifrutigranjeiros
Os hortifrútis também apresentaram deflação em junho, com redução de preços de 1,54% no mês, mas, mesmo assim, a inflação é de 3,94% no acumulado de 12 meses. No grupo, as verduras foram as que apresentaram maior queda: 2,05% e inflação de 53,13% nos 12 meses. Já as frutas tiveram alta de 2,05% e acumulam aumento de 31,89% em 12 meses.
A alta nos preços se deve ao comprometimento de várias safras em 2021 em decorrência das condições climáticas e, neste ano, foram fortemente influenciadas pelo aumento dos preços das commodities e dos fertilizantes importados.
Bebidas
As bebidas alcoólicas apresentam alta de 0,49% em junho, com inflação acumulada de 7,89% nos últimos 12 meses, com destaque para a cerveja, que apresenta o maior peso na composição do grupo (o preço do item subiu 0,58% por conta dos reajustes repassados pela indústria, refletindo o impacto da elevação dos preços do malte por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia). Ao contrário de 2021, neste ano a indústria promoveu o repasse do aumento dos custos logísticos nos fretes marítimos, impactados pelos recordes na cotação do barril de petróleo.
Já as bebidas não alcoólicas apresentam inflação de 0,65% em junho e de 12,23% nos últimos 12 meses, com destaque para a água mineral (2,18% em junho e 19,71% no acumulado de 12 meses), impactadas pela alta nos custos logísticos.
Limpeza, Higiene e Beleza
O sabão em pó, dentro de Produtos de Limpeza, teve inflação de 1,91% em junho, puxando para cima os preços deste grupo, que no total teve 2,09% de alta no mês e acumulado de 21,72% nos últimos 12 meses. E os artigos de Higiene e Beleza tiveram inflação de 2,02% em junho, com 16,36% em 12 meses. No grupo, o item Sabonete teve alta de 4,78% (39,26% nos últimos 12 meses.
Desafio futuro
Para o segundo semestre de 2022, espera-se um desaquecimento global da economia por conta da elevação das taxas de juros em todo o mundo para conter a inflação generalizada. O Brasil deve sofrer impacto significativo no período, por conta da migração de capital para os países de economia mais avançada, apesar da taxa de juros alta no país (13,25%).
Nos Estados Unidos, o Fed (Banco Central norte-americano) projeta uma elevação de 3,5% em sua taxa básica de juros até o fim deste ano, enquanto o Banco Central Europeu decidiu elevar também sua taxa básica de juros, pela primeira vez desde 2011, pressionando ainda mais as economias emergentes, como o Brasil.
Para a economia brasileira, o segundo semestre deve ser desafiador, pois a tendência é a da taxa básica de juros nacional seguir na casa dos 13%, com expectativa de necessidade de intervenção no câmbio brasileiro para amenizar as pressões nos preços internos. As commodities deverão ter papel de destaque na composição dos preços em toda a cadeia logística brasileira, mas espera-se que algumas culturas, como soja e milho, apresentem maior oferta que a média histórica, reduzindo alguns preços para o consumidor final.
Porém, o consumo das famílias deve seguir estimulado pelo aumento de renda disponível na economia, impulsionado pelo assistencialismo e também pelo setor de serviços que segue em alta na geração de emprego. Segundo estimativa do Banco Central, a renda nacional cresceu 6,4% no primeiro quadrimestre de 2022, em relação ao mesmo período em 2021, apesar da perda de valor aquisitivo dos salários por conta da inflação.