Por que oposição no Senado votou a favor da PEC Eleitoral, que dá ‘cheque em branco’ para Bolsonaro
Ricardo Stuckert
Por que oposição no Senado votou a favor da PEC Eleitoral, que dá ‘cheque em branco’ para Bolsonaro

O Senado aprovou nesta quinta-feira (30), em dois turnos, a proposta de emenda à Constituição (PEC) Eleitoral , que institui até o fim do ano um estado de emergência no Brasil. O objetivo é viabilizar a criação e a ampliação de uma série de benefícios sociais a três meses das eleições.

A aprovação dessa PEC em tramitação acelerada, segundo juristas, abre um precedente perigoso e irreversível, pois pode permitir que qualquer pretexto seja usado tanto para driblar a lei eleitoral como para afrontar a Constituição, criando um “vale-tudo eleitoral”. Além disso, a medida provoca um impacto bilionário nas contas públicas. 

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Senadores da oposição admitem os riscos da PEC e que ela dá um "cheque em branco" para Bolsonaro em plena corrida eleitoral. O presidente está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto e aposta nos gastos públicos para tentar superar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança. Mesmo assim, praticamente todos os senadores da oposição votaram a favor da PEC.

No primeiro turno, a PEC foi aprovada por 72 votos a favor e 1 contrário. No segundo turno, por 67 votos a favor e 1 contrário. Até mesmo a senadora Simonte Tebet (MDB-MS), pré-candidata à Presidência da República, votou a favor, apesar de criticar o texto da PEC como feito "na coxa".

Tasso Jereissati (PSDB-CE), cotado para ser vice de Tebet, também votou a favor. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos mais aguerridos oposicionistas, votou a favor no primeiro turno e ausentou-se no segundo.  O único voto contra foi o do senador José Serra (PSDB-SP).

Em uma rede social, Serra justificou o voto, afirmando que a PEC é uma bomba fiscal. “Essa PEC viola a Lei de Responsabilidade Fiscal e fura o teto de gastos”, escreveu. “O pretexto foi defender quem mais precisa, mas isso deveria ser feito de outra forma”, acrescentou. 

O "pretexto" citado por Serra, a ampliação de programas sociais, acabou funcionando como uma armadilha para a oposição, como observaram os colunistas do GLOBO Míriam Leitão e Álvaro Gribel. Os senadores oposicionistas preferiram ceder à decretação de um estado de emergência previsto na PEC do que figurar entre parlamentares que barraram aumento de benefícios.

"O governo está constrangendo senadores. Quem é o senador que vai ficar contra esses benefícios num país que tem milhões passando fome?", avaliou a advogada Juliana Vieira dos Santos, mestre em Direito pela Harvard Law School e doutora em Teoria do Estado pela USP, em entrevista ao GLOBO ontem, antes da votação.

Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e por duas vezes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro aposentado Carlos Velloso considerou a PEC "inconstitucional". Em entrevista ao GLOBO, afirmou que a proposta é uma "afronta à democracia" por ameaçar os princípios de isonomia nas eleições:

"É preocupante que o Legislativo brasileiro assuma a responsabilidade, o ônus, de aprovar uma PEC que pode ter consequências tão graves."

Impacto bilionário nas contas públicas

O texto segue agora à análise da Câmara, onde se espera que seja votado na próxima semana. Durante a votação, o custo das medidas subiu de R$ 38,7 bilhões para R$ 41,2 bilhões, com a inclusão de um benefício mensal de R$ 200 para taxistas e ampliação do programa Alimenta Brasil.

Os benefícios que somam R$ 41,2 bilhões, aprovados só até o fim do ano e pagos fora das regras fiscais incluem aumentar o valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, além de mecanismo para zera fila do programa, ampliação do vale-gás, que passa a ser equivalente a um botijão de 13kg a cada dois meses, criação do vale-caminhoneiro no valor de R$ 1 mil por mês, gratuidade do transporte público para maiores de 65 anos, subsídios para o etanol, criação de benefício mensal de R$ 200 para taxistas e ampliação do programa Alimenta Brasil.

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