O governo do presidente Jair Bolsonaro e lideranças do Congresso Nacional esperam que o novo presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade — cujo nome foi confirmado nesta segunda-feira (27)
pelo Conselho de Administração da empresa — atue para evitar novos aumentos nos preços dos combustíveis pelo menos até as eleições, em outubro.
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Andrade já ouviu pedidos dentro do governo também para avaliar se seria possível reduzir os valores cobrados da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha.
Para tentar manter um discurso liberal e de respeito ao mercado, integrantes do governo argumentam que a empresa poderia segurar os reajustes por conta da volatilidade no mercado causada pela guerra na Ucrânia. Também citam o que chamam de “função social” da empresa e aderência à agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, sustentabilidade e governança).
A política de preços da Petrobras hoje é baseada numa paridade com o dólar e o barril de petróleo.
Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, disse que a política de preços é uma decisão da empresa, mas pediu para a Petrobras olhar a agenda ESG:
"Se eu puder dar uma sugestão, é uma sugestão, nós temos no mundo hoje uma agenda ESG, a agenda de governança, social e ambiental. Os países do mundo ocidental dão mundo valor à agenda ESG. Acho que cabe à Petrobras valorizar essa agenda porque é uma empresa que está listada em Bolsa".
Paes de Andrade assumiu a empresa no lugar de José Mauro Ferreira Coelho, que renunciou na semana passada após reajustar os preços da gasolina e diesel e o governo federal elevar o tom da pressão contra o executivo.
Nos últimos meses, Andrade se aproximou de Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Também se tornou mais próximo de políticos do Centrão, o grupo de partidos que dá sustentação ao presidente no Congresso.
O nome de Andrade já era preferido desde que Joaquim Silva e Luna foi demitido do cargo, em março. Naquele momento, o então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque insistiu que Andrade não era um bom nome por conta da sua inexperiência no setor de petróleo, e emplacou o seu ex-assessor Ferreira Coelho para a presidência da empresa.
Em maio, Bolsonaro demitiu Albuquerque e colocou Sachsida no seu lugar. Logo em seguida, Coelho foi trocado por Andrade, mas a mudança só foi efetivada agora.
Para respaldar o novo presidente, o governo também pretende trocar os diretores da empresa por um grupo mais alinhado ao Planalto, algo que depende de aval do Conselho de Administração da companhia, hoje ainda composto por executivos mais ligados aos mercados financeiro e de petróleo.
Andrade já indicou novos conselheiros para a estatal, mas essa troca só será efetivada após a realização de uma assembleia de acionistas, que ainda não tem data para ocorrer. Essa lista é formada majoritariamente por ocupantes de cargos no governo Bolsonaro e bastante alinhados ao Palácio do Planalto, como o número dois da Casa Civil, Jonathas Assunção.
Bolsonaro tem tentado emplacar diretores mais alinhados ao Palácio do Planalto desde a gestão do ex-presidente da estatal Roberto Castello Branco. Até agora, ele não teve sucesso.
O discurso do governo é de que Andrade poderá preparar a empresa para uma eventual privatização, o que o próprio presidente Bolsonaro já disse que demoraria anos.
Bolsonaro tenta segurar novos reajustes nos combustíveis desde o ano passado, depois que o preço da gasolina e do diesel se tornou uma das principais dores de cabeça para a sua campanha à reeleição. Até agora, ele não tem conseguido impedir a estatal de fazer reajustes.
Dias antes da empresa anunciar uma alta de 14,26% no diesel e de 5,18% na gasolina, no início deste mês, o governo chegou a pedir, sem sucesso, para que não houvesse reajuste. Também cogitou editar uma medida provisória (MP) às pressas para mudar a Lei das Estatais e intervir efetivamente na empresa.