Vale a pena investir o FGTS na Eletrobras?
Ganho foi alto em operações similares: aplicação na Vale rendeu 2.233% desde 2002. Na conta, a valorização pela correção do fundo foi de 136%
O governo vai autorizar que trabalhadores usem parte do saldo de suas contas do FGTS para comprar ações na operação de capitalização com a qual pretende privatizar a Eletrobras.
O investimento em ações da Eletrobras com recursos do FGTS será feito por meio de fundos mútuos de privatização (FMP), replicando o modelo adotado nas vendas de ações de Petrobras e Vale. Diante da oportunidade, o trabalhador pode se perguntar se vale a pena usar parte dos seus recursos na operação.
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O saldo do FGTS rende 3% ao ano, conforme previsão legal. Nos últimos anos, porém, os trabalhadores receberam parte dos ganhos do Fundo, o que melhorou um pouco o resultado. Em 2020, o rendimento foi de 4,52%. Ainda assim, o valor é considerado baixo diante de outras alternativas de aplicação.
Segundo especialistas, o perfil do investidor deve ser levado em conta na hora de decidir se vale a pena. Embora a rentabilidade seja baixa, a aplicação no Fundo oferece menos riscos do que os altos e baixos do mercado acionário. Mas simulação feita pela head de análise da plataforma de fundos da XP, Carolina Oliveira, mostra que o rendimento de quem optou pelos fundos mútuos de privatização de Vale e Petrobras superou em larga escala o de quem deixou o dinheiro no Fundo.
Planejamento para aplicar
A simulação leva em conta o período de janeiro de 2002 a 13 de maio último. Quem deixou os recursos retidos no FGTS teve retorno de 136,09% neste intervalo. Para o investidor que colocou recursos em um fundo mútuo de participação da Vale, uma das opções oferecidas rendeu 2.235,13%. No caso da Petrobras, o rendimento foi de 649,36% no período.
O coordenador do MBA de Finanças e Mercado de Capitais do Ibmec, Gustavo Moreira, ressalta que os trabalhadores têm o incentivo em sacar os recursos do Fundo pela baixa rentabilidade, mas devem fazê-lo com planejamento.
"O que tem que ficar claro é que, quando o trabalhador tira o dinheiro do FGTS para comprar ações, ele está virando acionista da empresa. Ele estará sujeito tanto aos sucessos quanto aos insucessos da empresa quanto aos rumores de mercado", disse Moreira, que comentou a simulação: "Estávamos falando de companhias completamente diferentes da Eletrobras. O fato de ter dado certo em uma empresa no passado, não significa que vai dar certo na outra."
A aplicação do FGTS nos fundos de ações da Eletrobras será realizada por meio de instituições que atuarão como administradoras de FMP. Dessa forma, o trabalhador precisará escolher uma administradora e autorizá-la a aplicar os recursos.
Taxa mais baixa
O investidor poderá consultar o aplicativo do FGTS para saber qual valor tem disponível para aplicação em FMP e autorizar a administradora escolhida a consultar o saldo e solicitar a reserva do saldo para a aplicação.
"Talvez o principal ponto deva ser buscar um fundo que tenha taxa de administração mais baixa", disse Moreira.
Para o coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, o trabalhador interessado deve levar em conta não só o histórico da empresa, como também o setor em que ela atua e o momento da compra.
"No momento que você tira o recurso e coloca em ações, primeiro temos que ver como vai ser o processo, por quanto você conseguiria comprar essas ações da Eletrobras e o que vai acontecer com elas depois."
O analista de investimentos da Finacap, Felipe Moura, destaca que o mercado enxerga a privatização como positiva pela capacidade de destravar valor da empresa e fazer com que ela gere maior retorno aos investidores, já que o governo deixará de ser o acionista majoritário.
O setor elétrico, do qual a empresa faz parte costuma ser avaliado como defensivo pelos analistas de mercado, já que apresenta receitas mais previsíveis, principalmente entre as transmissoras.
"Normalmente, todo o setor é regido por ativos contratuais, dando maior previsibilidade para os resultados. Mas todo o investimento em renda variável tem seus riscos. Quanto mais inclinado ao risco for o investidor e quanto menos ele precisar daquela parcela do recurso, mais recomendável será o investimento em ações", disse Moura.