Trabalhador pode usar até 50% do FGTS para comprar ações da Eletrobras
Especialista comenta se realmente vale a pena usar recursos do Fundo para investir na empresa, após aprovação do processo de privatização pelo TCU
Trabalhadores poderão usar até 50% do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para comprar ações da Eletrobras após o processo de privatização da empresa, aprovada nesta quarta-feira (18) pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
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Com a privatização, o governo deixa de ser o sócio majoritário da empresa. A União ficará com 45% das ações, e os novos acionistas, com os 55% restantes.
O valor mínimo para aplicação de recursos do FGTS para a compra de ações da Eletrobras é de R$ 200. Isso significa que é preciso ter pelo menos R$ 400 em conta.
O governo estabeleceu um teto de R$ 6 bilhões para o uso de recursos do Fundo na compra de papéis da companhia.
A compra será feita por meio dos Fundos Mútuos de Privatização ligados ao FGTS (FMP-FGTS), o mesmo dispositivo usado pelo governo para a venda de ações de outras estatais, como a Petrobras em 2000, e a Vale, em 2022.
Os interessados poderão escolher uma administradora de FMP-FGTS, por meio do aplicativo FGTS ou de uma agência da Caixa e autorizá-la a consultar o saldo disponível e solicitar reserva para a compra dos papéis.
Se o trabalhador decidir vendê-los no futuro, os recursos retornarão para a sua conta do Fundo.
Quem ainda tiver recursos do FGTS aplicados em ações da Petrobras e Vale poderá investir valores um pouco menores nos papéis da Eletrobras.
O modelo de venda da Eletrobras não é o clássico via um leilão, no qual o controlador estatal vende a sua participação acionária para um participante. Em uma oferta primária, a companhia vai emitir novas ações e vender simultaneamente no mercado brasileiro e americano. Na secundária, a União venderá ações para atingir a participação de 45%.
Haverá uma oferta prioritária para acionistas minoritários, empregados e aposentados da empresa.
Mesmo com a aprovação pelo TCU, ainda falta o cumprimento de alguns trâmites burocráticos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador americano, para que a oferta de ações da Eletrobras seja lançada no mercado.
Vale a pena usar recursos do FGTS para comprar ações da Eletrobras? Especialista comenta
As ações da Eletrobras apresentam alta na Bolsa de Valores nesta quinta-feira (19), após a aprovação do processo de privatização da empresa pelo TCU. Por volta das 13h05, as ordinárias (ELET3, com direito a voto) subiam 3,97%, cotadas a R$ 44,28, e as preferenciais (ELET6, sem direito a voto), 2,35%, negociadas a R$ 43,12.
No exterior, as ADRs (sigla para American Depositary Receipt), recibos de ações, da companhia subiam 5,18%, negociadas a US$ 8,94 no mercado de Nova York.
Ainda assim, o Professor Anderson Domingos, fundador da Favos Invest, não acredita que seja uma boa hora para comprar ações da Eletrobras.
"Teria que esperar o gráfico da Eletrobras desenhar um movimento de respiro para, aí sim, valer a pena fazer a compra. As pessoas, às vezes, vão no impulso e acabam vendo preço e não vendo valor. Na Bolsa de Valores, é necessário enxergar valor primeiro para depois olhar o preço. O preço é uma variável como outra qualquer. Não é uma das mais importantes no mercado financeiro", diz.
"O que o gráfico está me dizendo aqui é que a Eletrobras, no jargão da Bolsa, está muito esticada no momento. Então, provavelmente, vai ter aí uma correção de preços. Ela vai desenhar essa correção primeiro. Não se sabe exatamente o ponto correto dessa correção, mas, em um curto e médio prazo, não é interessante", continua.
"Para o longo prazo, usar todo o dinheiro do FGTS para comprar ações da Eletrobras também é uma insanidade. Na minha perspectiva, os próximos meses vão ser mais de correção. É o momento de ficar na expectativa, mas não investir pesado. Quem quiser comprar um pouco de Eletrobras para fazer pequenos aportes para anos, tudo bem. Mas não pegar todo o patrimônio e comprar ações. Isso não é algo saudável".
** Gabrielle Gonçalves é jornalista em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Estagiária em Brasil Econômico. No iG desde agosto de 2021, tem experiência em redação e em radiojornalismo, com passagens pela Rádio Unesp FM e Rádio Metropolitana 98.5 FM.