O governo brasileiro anunciou nesta sexta-feira (20) uma parceria com a Starlink, de Elon Musk, para a instalação de satélites de monitoramento na Amazônia. A intenção é que a companhia compartilhe dados dos aparelhos para identificar focos de desmatamento e eventualmente conectar escolas em zonas rurais da região.
A iniciativa com a empresa do bilionário americano foi acertada durante um encontro no Hotel Fasano Boa Vista, em Porto Feliz, no interior de São Paulo. Não foram apresentados contratos, divulgados valores para o acordo e não há dados sobre como essa parceria seria viabilizada nem quais contrapartidas exigiria.
Após o evento, que também contou com a participação de empresários, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, explicou que os satélites orbitariam a baixa altitude, a apenas 550 quilômetros da superfície. Trata-se de uma distância inferior aos usuais 36 mil quilômetros dos equipamentos tradicionais. Questionado sobre os riscos à soberania nacional de se permitir a atuação desses aparelhos na Amazônia, o ministro afirmou que os equipamentos já funcionam.
"Quem libera os satélites (para a Starlink) não é o governo brasileiro. Eles já estão lá. Queremos que as informações que eles possuem sejam compartilhadas com o governo brasileiro", diz Faria.
Em janeiro, no entanto, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) atendeu a um pedido da Starlink para permitir a exploração comercial de seus satélites de órbita não estacionária no Brasil.
Segundo Faria, a Starlink já conta com cerca de 2.000 satélites, e terá 40 mil "no futuro", sem precisar datas. Ele diz que satélites da empresa poderiam "ouvir o barulho da motosserra" e que, munido desses dados, o governo brasileiro poderia combater mais efetivamente queimadas e desmatamentos ilegais.
Sob o governo Bolsonaro, os números de desmatamento na região têm crescimento expressivo. A Amazônia Legal teve o maior número de alertas do tipo no primeiro trimestre desde ano.
Faria também declarou que a Base Aérea de Alcântara está disponível para a SpaceX, empresa aeroespacial de Musk, para lançamentos.
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O presidente Jair Bolsonaro disse que a conversa, programada para ocorrer inicialmente em março e adiada devido à Guerra da Ucrânia, é "o início de um namoro que com certeza será um casamento".
Ao lado de Bolsonaro, Musk foi questionado sobre como poderia garantir que suas operações na Amazônia promoveriam a preservação.
"Você pode produzir muitas imagens e vídeos para tentar entender o que está acontecendo. Você precisa dessa conectividade", respondeu.
A tecnologia da Starlink permite somente conexão remota e envio de fotos e vídeos, como qualquer troca de arquivos, por exemplo, via Whatsapp.
Segundo especialistas, apenas um monitoramento – ou seja, uso de sistemas que façam a interpretação das imagens captadas a partir de um profundo conhecimento da área – permite a preservação, afirmam especialistas.
Esse monitoramento, cujos sistemas no Brasil têm enorme respaldo científico internacional, mostra que o desmatamento avança na Amazônia, ao contrário do que o presidente Bolsonaro sugeriu.