Governo tem chance de privatizar Eletrobras até junho, mas há riscos
Agência Brasil
Governo tem chance de privatizar Eletrobras até junho, mas há riscos

Embora a expectativa do governo de fazer a privatização da Eletrobras no início de junho seja possível, há riscos, segundo especialistas. O cronograma é apertado. Há duas corridas contra o tempo que importam, de acordo com Flavio Conde, head de renda variável da Levante Investimentos: as férias de verão no Hemisfério Norte e as eleições presidenciais brasileiras.

"Tudo tem que ser feito até, no máximo, a primeira semana de julho. Caso contrário, não vão conseguir fazer o road show no exterior (prospectar investidores estrangeiros) porque, nas férias do meio do ano, as pessoas viajam com suas famílias. Isso pode reduzir o número de ofertas. Em agosto, também não é ideal, porque os debates eleitorais estarão a todo vapor."

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Essa incerteza sobre o cronograma fez as ações da Eletrobras fecharem em queda na quarta-feira de 2,16%, a R$ 42,59.

Pesquisadora da FGV, Rosana Santos explica que, uma vez aprovada a privatização no TCU, o próximo passo é o protocolo da operação junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Securities and Exchange Commission (SEC), órgãos reguladores dos mercados de capitais brasileiro e americano:

"Há ainda o road show para saber quem são os eventuais interessados pela oferta, e o momento de precificação das ações. O governo queria aproveitar o que chama de janela de oportunidades, que se encerrou no dia 13 de maio, para usar as demonstrações financeiras do primeiro trimestre como referência, porque entende que conseguiria mais gente (visto que o lucro da empresa cresceu quase 70% e foi a R$ 2,7 bilhões no período)."

O modelo de privatização é interessante, segundo Rosana, ao impedir que haja um acionista controlador e que a Eletrobras seja incorporada por alguma outra grande companhia de energia. O governo deve reduzir sua participação para cerca de 45%, mas nenhum acionista poderá ter mais de 10% dos votos.

Com isso, diz a pesquisadora, a oferta de ações da Eletrobras deve atrair principalmente fundos de pensão e investidores pessoa física, mais do que grandes operadores de energia:

"O governo tem corrido com o cronograma também porque teria recursos para o caixa da União."

Quanto ao valor de mercado, a especialista diz que ficou de fora do cálculo o fato de a Eletrobras ter “ativos verdes” em um momento no qual os investidores preconizam a sustentabilidade:

"As hidrelétricas são 95% dos ativos da Eletrobras, e o valuation não levou isso em conta."

O advogado Bruno Furiati diz que o conceito de “janela de oportunidade” usado pelo governo para pressionar o TCU a aprovar a privatização da estatal está mais ligado ao momento de mercado do que a normas da CVM:

"No primeiro trimestre, o lucro da Eletrobras foi recorde, mas as bases da venda podem mudar se o resultado do segundo trimestre for distinto. Além disso, 15 dias antes da divulgação de resultados de cada trimestre, as companhias entram no chamado período de silêncio e ficam travadas para fazer novas ofertas, até que os balanços sejam publicados."

Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, sugere que a realização do protocolo para a oferta na CVM e na SEC ocorra até o fim deste mês. O road show, na sua visão, seria em até duas semanas após esse prazo, e a realização da oferta, em meados de junho. Ele também diz que o processo deve destravar valor para as ações da companhia:

"A Eletrobras tem mais de 30% da capacidade instalada do país e mais de 40% das linhas de transmissão. Independentemente de o momento não ser o melhor, acredito que haverá demanda tanto de fundos globais quanto de investidores institucionais locais."

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