A Rússia conseguiu evitar um calote a poucos dias do fim do prazo de carência, surpreendendo o mercado. Duas dívidas que, juntas, somavam mais de US$ 600 milhões haviam vencido em 4 de abril, e o governo russo não havia conseguido honrá-las. O país só poderia ser oficialmente declarado inadimplente, porém, 30 dias depois.
Na última sexta-feira (29), faltando apenas cinco dias para o fim da carência, o ministro de finanças russo, Anton Siluanov, anunciou que as dívidas com credores estrangeiros haviam sido pagas, em dólares.
São duas dívidas: uma no valor de US$ 564,8 milhões, referentes a bônus com vencimento em 2022, e outra de juros de US$ 84,4 milhões, referentes a títulos da dívida com vencimento em 2024.
No início de abril, as obrigações financeiras não haviam sido cumpridas porque o governo americano tinha ampliado o bloqueio às reservas internacionais russas, como parte da intensificação das sanções do Ocidente impostas à Rússia, após a invasão da Ucrânia.
Licença temporária
O país, então, tentou fazer o pagamento em rublos, mas a moeda russa não podia ser aceita de acordo com os termos firmados com os credores.
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Diante disso, a agência de classificação de risco S&P cortou a nota de crédito da Rússia para "calote seletivo" na ocasião, configurando o que seria o primeiro calote externo do país desde a Revolução de 1917, quando os bolcheviques não reconheceram a dívida do período czarista.
Com o pagamento da sexta-feira passada, o calote foi evitado. Agora, o país terá pela frente vencimentos de título da dívida externa de US$ 2 bilhões até o fim deste ano. As atenções dos investidores vão se voltar para duas datas neste mês.
Desde que a guerra da Ucrânia começou, no fim de fevereiro, as transações entre americanos, o ministro das finanças russo, o banco central ou o fundo soberano russo só são permitidas sob uma licença temporária emitida pelo governo dos EUA.
Essa licença expira em 25 de maio, e o Tesouro americano não fez qualquer comentário até agora sobre se vai estendê-la ou não.
No próximo dia 27 de maio, vencem os juros de títulos denominados em dólar e em euros. Com metade das mais de US$ 600 bilhões em reservas internacionais bloqueadas e sem expectativa de um fim próximo do conflito, há dúvidas se a Rússia conseguirá escapar do calote de novo.