O dólar apresentou mais um dia de forte valorização ante o real, chegando a bater os R$ 5,08, enquanto a Bolsa teve forte queda nesta segunda-feira (2). Os ativos domésticos acompanharam o ambiente de aversão ao risco no exterior, refletindo dados mais fracos de atividade econômica na China e a expectativa de alta dos juros americanos.
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Os investidores começaram a semana já no aguardo das decisões de política monetária dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos.
Na cena interna, ainda ganharam destaque a divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de fevereiro pelo Banco Central (BC), conhecido como a "prévia do PIB", e o Boletim Focus, relatório com as projeções do mercado para a economia.
A moeda americana teve alta de 2,60%, negociada a R$ 5,0708, após atingir a máxima de R$ 5,0870.
É a primeira vez que o dólar fecha acima dos R$ 5 desde o pregão de 18 de março, quando terminou cotado a R$ 5,0157.
A cotação de fechamento desta segunda é a maior desde o dia 16 de março, quando a moeda terminou o pregão no patamar de R$ 5,0925.
No ano, o dólar ainda cai 9,04% ante o real.
O Ibovespa caiu 1,15%, aos 106.639 pontos. O principal índice da B3 foi pressionado pelas baixas de papéis ligados a commodities. A melhora do desempenho das bolsas americanas na parte da tarde ajudou a arrefecer as perdas.
O Ibovespa teve o pior desempenho mensal em abril em mais de dois anos. No ano, o índice tem alta de 1,73%.
China e juros americanos preocupam
Na China, foram divulgados dados fracos sobre a indústria. O índice de gerentes de compras da manufatura no país caiu para 47,4 pontos em abril, ante os 49,5 pontos registrados em março, em um segundo mês consecutivo de contração, informou o Departamento Nacional de Estatísticas, no sábado.
Foi a leitura mais baixa desde fevereiro de 2020. O indicador privado medido pela Caixin caiu para 46 em abril ante os 48,1 da leitura anterior. O número abaixo dos 50 pontos indica contração da atividade.
"Estamos acompanhando o cenário externo. Os dados chineses negativos e a expectativa por novas restrições refletem demais nos ativos de risco. Temos Copom, com o mercado muito atento ao comunicado, que pode indicar o fim do ciclo de alta dos juros e, com o Fed pesando a mão, diminui o diferencial de juros e o impacto na relação entre dólar e real é grande", disse o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo.
O gerente da mesa de câmbio da Tullett Prebon, Italo Abucater, ainda destaca o movimento de valorização dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, o que indica busca por proteção por parte dos agentes.
"Sazonalmente o fluxo de comodities diminui no mês de maio. Marco e abril prevalecem as safras de soja com bastante entrada de exportação e esse ciclo já praticamente se encerrou. Esse ingresso se reduzindo e com todo o cenário global, apena potencializa a alta do dólar".
Espaço para correção
Para Bergallo, o patamar de câmbio próximo aos R$ 5 é a nova realidade, após a moeda americana chegar se aproximar da faixa dos R$ 4,60 há poucas semanas.
"A questão da China sempre pesa. Estamos com receios de ter problemas logísticos e a aquele fluxo estrangeiro, que gerou uma valorização do real em um certo momento, estamos perdendo, porque a conjuntura mudou. Depois que o Fed começou a apontar 0,5 ponto percentual de alta para a próxima reunião, veio uma tempestade que penalizou demais o real, e fez com que o fluxo se invertesse".
O especialista ainda pondera que o real teve forte valorização no primeiro trimestre do ano. Dessa forma, em momentos de correção, como o atual, é natural que a nossa moeda sofra perdas mais fortes.
"Se olharmos o repique visto nos últimos dias, só confirmou o padrão de consolidação de longo prazo para a alta da moeda americana, que mantém a atenção e cautela de investidores em operações. (Isso ocorre) por conta da volatilidade ancorada no cenário externos com guerra e China no radar e, internamente, com os motores da eleição binária para presidente sendo aquecido para o segundo semestre", ressalta o Head De Renda Variavel Saron Investiments, Marcus Martins.
Abucater também destaca que o real tem espaço para corrigir, após o forte desempenho no primeiro trimestre. Para o especialista, fatores internos, como os recentes embates entre Poderes ainda não fazem tanta pressão no câmbio.
"Acredito que o político começará a ter efeito nos mercados a partir do segundo semestre com a proximidade das eleições. No momento prevalece o técnico mesmo com uma semana importante", disse Abucater, destacando as reuniões de política monetária dos BCs.
De olho nos juros
A semana dos mercados é marca por importantes decisões sobre os juros. No Brasil, a expectativa é que Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic em 1 ponto percentual. Hoje, a taxa está em 11,75% ao ano.
Já nos EUA, espera-se que o Federal Reserve, Banco Central do país, eleve os juros em 0,50% ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1%.
Em ambos os casos, o que os investidores mais aguardam são as sinalizações sobre os próximos passos.
No caso brasileira, a questão é saber quando se dará o fim do ciclo de altas da Selic, que já dura mais de um ano. E no americano, restam dúvidas sobre a velocidade do ritmo de altas e de como se dará o processo de redução do balanço do Fed.
"O consenso do mercado aponta para uma elevação de 0,50 ponto percentual nos juros (americanos). Essa alta provoca o voo para a qualidade e saída de dólares do Brasil, com investidores buscando aplicações no exterior de menor risco. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano também esticaram, o que bota o dólar pra cima, desvalorizando o real", disse o estrategista da Senso Corretora, João Augusto Frota.
Frota destaca que o rendimento do título de 10 anos encostou na faixa dos 3%, algo que não ocorria desde 2018, após começar o ano próximo a 1,5%.
Commodities pressionam Ibovespa
As dúvidas sobre o crescimento chinês também pressionaram o preço de commodities e os papéis ligados a esses produtos na B3.
Na semana passada, sinalizações de estímulo à economia por parte de autoridades até deram algum ânimo para ativos do setor de siderurgia e mineração.
Mas como destaca o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, elas ainda não foram suficientes para tirar do radar os receios em relação ao crescimento econômico do país.
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"Não é suficiente, porque não temos garantia de quanto tempo, eles vão ficar em lockdown", disse Cruz.
Ele ainda destaca que a semana repleta de indicadores econômicos intensifica um sentimento mais defensivo nas bolsas, o que ajuda a intensificar as quedas.
Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) cederam 1,79%, e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 0,99%.
As ordinárias da PetroRio (PRIO3) cederam 5,81%, e as da 3RPetroleum (RRRP3), 5,10%.
As ordinárias da Vale (VALE3) caíram 0,44%, e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 1,79%.
As preferenciais da Usiminas (USIM5) caíram 0,97%
Os papéis de aéreas também cediam, impactados pela alta do dólar. As preferenciais da Gol (GOLL4) cederam 5,98%, e as da Azul (AZUL4), 7,19%.
No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tiveram quedas de 0,44% e 0,06%, respectivamente.
Nesta segunda, a B3 divulgou a nova carteira do índice Ibovespa que vai vigorar de 02 de maio de 2022 a 02 de setembro de 2022, com base no fechamento do pregão de 29 de abril de 2022.
A carteira registra a entrada da SLC Agrícola ON (SLCE3), totalizando 92 ativos de 89 empresas.
Os ativos ON da companhia subiram 1,24%.
'Prévia do PIB' sobe em fevereiro
O IBC-Br subiu 0,34% em fevereiro, na comparação dessazonalizada com janeiro, após queda revisada de 0,73% em janeiro.
Em relação a fevereiro do ano passado, houve alta de 0,66%. Em 12 meses, o IBC-Br subiu 4,82%.
O indicador tem metodologia distinta das contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para divulgar o Produto Interno Bruto (PIB).
De frequência mensal, o IBC-BR permite um acompanhamento mais frequente do estado da atividade econômica.
Boletim Focus: mais inflação
Na semana do Copom, o mercado elevou, pela 16ª semana consecutiva, as projeções para inflação ao término de 2022.
A taxa passou de 7,65% para 7,89%, número bem acima do teto da meta do BC, que é de 5%. Para o fim de 2023, houve elevação de 4% para 4,10%, 4ª elevação consecutiva.
A expectativa para o PIB subiu de 0,65% para 0,70% para o fim deste ano. Para o término de 2023, não houve alteração.
Sobre a Selic, foi mantida a previsão de 13,25% ao término de 2022. Para o fim de 2023, a estimativa subiu de 9% para 9,25%.
Petróleo sobe
Após um dia de volatilidade, os preços dos contratos futuros do petróleo fecharam em alta.
O movimento da commodity no dia refletiu as preocupações com o crescimento econômico chinês e a possibilidade do anúncio de novas sanções contra a Rússia.
O temor de que a oferta do produto fique prejudicada prevaleceu no fim do dia. Fontes diplomáticas disseram à agência de notícias Reuters que a União Europeia (UE) está inclinada a proibir as importações de petróleo russo até o final do ano, após conversas entre a Comissão Europeia e os estados membros do bloco no fim de semana.
O contrato para julho do petróleo tipo Brent subiu 0,41%, negociado a US$ 107,58, o barril.
Já o preço para o contrato para maio do petróleo tipo WTI avançou 0,46%, cotado a US$ 105,17, o barril.
Bolsas no exterior
As bolsas americanas fecharam com altas, após passarem boa parte do dia no terreno negativo. O índice Dow Jones subiu 0,28% e o S&P, 0,57%. Em Nasdaq, ocorreu alta de 1,63%.
Na Europa, as bolsas fecharan com baixas. A Bolsa de Frankfurt caiu 1,13% e a de Paris, 1,66%.
Em Londres, a Bolsa permaneceu fechada por causa de um feriado.
Na Ásia, o índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, teve baixa de 0,11%. O dia foi de menor liquidez nos mercados, devido a um feriado que deixou as bolsas da China e de Hong Kong fechadas.