Não bastasse o preço de alimentos nas alturas — em abril, a alta acumulada em 12 meses do IPCA-15 é de 12,85% — o salto no preço do gás e da energia fizeram o brasileiro perder o parâmetro de como é mais barato preparar a comida: no fogão ou lançando mão de eletrodomésticos, como panelas de arroz e pressão elétrica ou as populares air fryer.
Com a variação de preço do gás de botijão de 32,45%, do gás encanado de 35,10% e da energia elétrica de 30,16%, em 12 meses, especialistas em eficiência energética convidados pelo GLOBO para fazer essa análise concluíram que, muitas vezes, usar eletricidade pode sair mais em conta do que o fogão tradicional, seja para fazer um simples arroz ou até mesmo pão de queijo.
Para preparar bife ou batata frita, no entanto, ainda vale mais a pena usar a boa e velha frigideira. E a alta do gás anunciada na sexta-feira, de 19%, em média, pode tornar o uso dos aparelhos elétricos ainda mais vantajoso.
"De maneira geral, o que percebi ao realizar esses cálculos é que, quando se fala de cocções no forno, o elétrico acaba sendo mais eficiente. Até por ser menor, ele geralmente concentra mais calor em menos espaço. Já quando comparamos a chama do fogão com esses aparelhos de cocção elétrica, a diferença é muito pequena", diz Paula Borges, pesquisadora do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ.
A pesquisadora destaca ainda que aparelhos elétricos que trabalham com potências maiores gastam menos tempo de cozimento e proporcionam mais economia.
"Com panelas, fornos e fritadeiras elétricas, acontece como no preparo da pipoca no micro-ondas: o tempo vai depender da potência do aparelho".
Os cálculos mostram ainda que o gás de botijão é mais econômico que o encanado.
Os especialistas ponderam, no entanto, que o uso adequado dos equipamentos e os hábitos de preparo de cada família podem fazer diferença na conta.
Rodolfo Gomes, diretor executivo do International Energy Initiative (IEI) Brasil, ressalta que algumas táticas podem reduzir o consumo de gás:
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"Se for uma comida que usa água fervendo, por exemplo, quando começa a ferver, pode-se passar para o fogo baixo, que consome menos gás, pois a fervura será mantida".
Surpresa no chuveiro
Outro bom hábito é tampar as panelas para reter calor, aconselha Paulo Cunha, consultor da FGV Energia. Ele pondera que, apesar de os cálculos mostrarem que cozinhar na air fryer é mais econômico que no forno a gás, o resultado pode ser diferente se forem observadas algumas práticas:
"O forno propicia o preparo de mais de uma receita simultaneamente, e ainda pode-se aproveitar o calor para um preparo seguido, reduzindo o consumo de gás, e usar o calor do forno, após desligado, para manter a comida aquecida. Nada disso entra na conta".
Para quem pensa em comprar algum produto que ajude a economizar nas contas mensais, Gomes, do IEI Brasil, aconselha investir em uma boa panela de pressão, seja elétrica ou convencional. Segundo ele, a principal vantagem é o cozimento mais rápido, o que permite economizar energia ou gás, de acordo com a escolha do consumidor.
Um resultado do levantamento que pode surpreender é o fato de o chuveiro a gás sair mais caro que o elétrico.
"A troca por um chuveiro eletrônico, por exemplo, pode significar uma economia ainda maior", destaca Marco Souto, diretor de operações da Max Eficiência Energética.
Pela conta de Paula, da Coppe, no Rio um banho de 15 minutos em um chuveiro eletrônico custa quase um terço do valor de um aquecido a gás: R$ 0,89, contra R$ 2,40.
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