Dólar fecha em alta
Agência Brasil
Dólar fecha em alta

O dólar fechou com forte alta ante o real, retornando ao patamar acima de R$ 4,70, e a Bolsa caiu nesta quarta-feira (6), refletindo a maior aversão ao risco no exterior. Os investidores repercutiram a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve, Banco Central americano, que reforçou a postura mais rígida da instituição sobre o aumento de juros no país.

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A moeda americana teve alta de 1,20%, negociada a R$ 4,7159, após atingir a máxima de R$ 4,7220. O dólar não fechava acima dos R$ 4,70 desde o pregão de 31 de março, quando terminou cotado em R$ 4,7592.

É o segundo dia consecutivo em que o dólar sobe mais de 1%. Ainda assim, o dólar tem queda acumulada de 15,41% no ano. O Ibovespa caiu 0,55%, aos 118.228 pontos.

Fed considerou alta maior de juros

O documento mostrou que "muitas" autoridades do banco teriam preferido aumentar as taxas em 0,50 ponto percentual, em vez da elevação de 0,25 ponto percentual, mas decidiram não fazê-lo devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Muitos participantes observaram que – com a inflação bem acima do objetivo do Comitê, riscos inflacionários para cima e a taxa de fundos federais bem abaixo das estimativas dos participantes de seu nível de longo prazo – eles teriam preferido um aumento de 50 pontos base na meta para a taxa de fundos federais nesta reunião", destaca a ata.

Com isso, os membros observaram que um ou mais aumentos de 0,50 ponto percentual no intervalo da meta poderiam ser apropriados em reuniões futuras, principalmente se as pressões inflacionárias permanecerem elevadas ou intensificadas.

A ata também sinaliza que os membros do Fed viram um redução de suas participações em títulos a um ritmo máximo de US$ 95 bilhões por mês, composto por US$ 60 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 35 bilhões em títulos lastreados em hipotecas.

Ao término da reunião realizada em março, a autoridade monetária não havia dado muitos detalhes sobre a redução do seu balanço. Segundo a ata, a expectativa é que a redução do balanço patrimonial seja aprovada na próxima reunião, realizada no início de maio.

"Os participantes concordaram que fizeram progressos substanciais no plano e que o Comitê estava bem posicionado para iniciar o processo de redução do tamanho do balanço patrimonial logo após a conclusão de sua próxima reunião em maio", mostrou a ata.

Após o início da pandemia, o banco iniciou a compra de títulos para arrefecer os impactos das restrições sanitárias à economia. A redução combinada com a alta nos juros implica em uma política monetária contrária aos estímulos.

"O mercado esperava que tivesse esse detalhamento da redução do balanço de ativos. É um pouco do que estava sendo previsto. Foi bastante importante eles darem essa orientação sobre como a redução será feita. Isso dá credibilidade para a comunicação do Fed", destaca o economista da Rio Bravo Investimentos, Luca Mercadante.

As medidas são uma tentativa de controlar a inflação americana, que vem renovando recordes de quatro décadas. E por falar nela, o anúncio de novas sanções contra a Rússia na semana aumentou os receios de que o quadro de aumento de preços e gargalos nas cadeias produtivas piorem, o que volta a pressionar os mercados globais.

Postura mais dura

O economista e sócio da Monte Bravo Investimentos, Luciano Costa, destaca que a ata pode ser considerada mais hawkish, favorável à retirada de estímulos, pela discussão sobre uma alta de 0,50 ponto percentual já ter sido feita na reunião de março e pelo fato do Fed ter perspectiva de uma inflação futura pressionada.

"Quando o Fed olha para a perspectiva de inflação, ele destaca três fatores de pressão. Ele fala da própria invasão da Ucrânia, e seus efeitos para os preços de commodities e energia, a questão da Covid-19 e os lockdowns na China, com as cadeias sendo desorganizadas. E aparece na ata a preocupação com a desancoragem das expectativas de longo prazo".

Costa acredita que o anúncio sobre a redução do balanço veio em linha com as expectativas. Ele ressalta que o processo deve ocorrer de forma mais rápida nesse ciclo de aperto, pois o tamanho relativo do balanço é maior.

O documento destaca que os dirigentes do banco concordaram que os indicadores de atividade econômica e emprego continuaram se fortalecendo, além do fato da inflação ter permanecido elevada, refletindo "desequilíbrios contínuos de oferta e demanda".

"Os membros concordaram que as implicações da guerra para a economia dos EUA eram altamente incertas, mas julgaram que, no curto prazo, a invasão e os eventos relacionados provavelmente criariam uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e pesariam sobre a atividade econômica", mostra a ata.

"As falas que vimos ao longo do intervalo entre a reunião e a ata já davam um pouco esse tom. O mercado refletiu essa postura mais hawkish, com a ata reforçando uma atividade muito aquecida nos Estados Unidos", disse Mercadante.

Na última reunião, o Fed elevou os juros em 0,25 ponto percentual. Foi o primeiro aumento desde 2018 e já está claro que uma série deles virá nos próximos encontros. Entre as dúvidas dos agentes de mercado, está a velocidade dessas elevações.

Os investidores já precificam a possibilidade de mais de sete aumentos das taxas em 2022, à medida que as pressões inflacionárias se espalham.

Na véspera, a conselheira da autoridade monetária, Lael Brainard, se pronunciou dando suporte ao aumento da taxa de juros e pontuando que a redução do balanço do banco central americano poderá começar já em maio. Após as declarações, a queda dos ativos se intensificou.

Recessão?

E já há preocupações sobre o efeito do aperto monetário para a economia, como pôde ser visto pela inversão dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano de dois e dez anos nas últimas semanas.

Em cenários de estabilidade econômica, é esperado que os títulos de longo prazo rendam mais que os de curto prazo, uma vez que os riscos aumentam em períodos de tempo mais longo.

A inversão desse movimento costuma ser um indicador de receio dos investidores de que uma desaceleração econômica ocorra no futuro.

Em relatório, o Deutsche Bank já estima uma recessão nos EUA a partir de 2023. O banco alemão avalia que a autoridade monetária americana precisará adotar uma postura bastante agressivo para controlar a inflação, o que levará a um cenário de retração econômica.

Para o Deutsche, o Fed irá promover aumentos na casa de 0,50 ponto percentual nos juros  nas próximas três reuniões, chegando a uma taxa terminal de 3,6% em meados de 2023.

A perspectiva se deteriorou com a invasão da Ucrânia pela Rússia, que elevou os preços de energia e levou a mais interrupções nos principais mercados de commodities e cadeias de suprimentos.

"Com a inflação persistentemente acima da meta do Fed e o mercado de trabalho permanecendo historicamente apertado, o Fed empreenderá um ciclo de aperto muito mais agressivo. Em particular, a taxa de fundos do Fed provavelmente atingirá um pico de 3,6% no próximo ano [...] Esse aperto provavelmente levará a economia a uma recessão no final de 2023, ajudando a arrastar a inflação de volta à meta até o final de 2024", destacou o banco alemão em relatório divulgado nesta segunda-feira.

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"O desemprego está abaixo do que seria o necessário para gerar uma exceção da atividade, você tem uma inércia grande da economia. As condições financeiras, apesar do Fed estar aumentando juros, ainda estão expansionistas. Você precisa avançar mais no ciclo para ter esse efeito", disse Costa sobre a possibilidade de recessão.

E o Brasil?

Para o sócio da Monte Bravo, o Brasil ainda não deve sentir efeitos negativos do aperto americano no curto prazo, pois está em uma posição mais favorável devido ao nosso juro real elevado.

"O diferencial de juros elevado facilita a absorção do choque. Para o Fed fazer preço muito diferente nos ativos, precisaria de uma percepção que ele teria que fazer uma sequência longa de 0,50 ponto percentual".

Dessa forma, apesar da alta nos dois últimos pregões, o especialista ainda enxerga espaço para o real se apreciar. "Você ainda tem a continuidade do fluxo de estrangeiros. E há um ambiente favorável para a continuidade desse fluxo com o choque internacional de commodities, que traz um fluxo grande na margem de exportador", disse Costa.

Mercadante, da Rio Bravo, relembra que, historicamente, apertos monetários em países desenvolvidos tendem a ter efeitos negativos sobre economias emergentes, já que, em contextos de menor liquidez, os investidores preferem alocar seus recursos em mercados mais seguros. Mas o atual cenário possui peculiaridades.

"Como já estamos em momento de final de ciclo, isso deve proteger a economia brasileira. Além disso, temos um cenário diferente no mundo, com a guerra, com a nossa posição de exportador de commodities e gargalos na cadeia de suprimentos. Isso pode neutralizar os efeitos".

Indefinição na Petrobras

Na cena interna, segue a novela envolvendo a sucessão da Petrobras. Com dificuldades em realizar novas indicações, o governo estaria avaliando retirar da pauta da assembleia geral de acionistas da Petrobras, marcada para o dia 13, a votação de novos integrantes do Conselho de Administração.

Faltando uma semana para a reunião, a União ainda não fechou proposta em torno de nomes de substitutos para as indicações de Rodolfo Landim, que desistiu da vaga de presidente do conselho, e Adriano Pires, que abriu mão do posto de presidente da petroleira. Nos dois casos, a mudança foi motivada por risco de conflito de interesses.

Se a articulação ocorrer, seriam necessários mais 30 dias para convocar uma nova assembleia e definir os nomes.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse ao GLOBO que o governo não trabalha com a possibilidade de adiamento.

As ações ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) subiram 0,32% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto) caíram 0,09%, em linha com a queda do petróleo no exterior.

Os papéis da estatal vêm conseguindo manter o nível de preço mesmo com as incertezas envolvendo a sucessão. Analistas têm ponderado que a empresa segue com o lado operacional forte, o que também favorece a perspectiva futura de pagamentos de dividendos. O ativo também é negociado com desconto na comparação com pares setoriais.

"O mercado está colocando como cenário base que os nomes que vão ser indicados para a Presidência e para o Conselho vão ser técnicos. Pessoas que saibam gerenciar a empresa, levando em conta questões técnicas. Isso está subentendido dada as últimas nomeações que foram feitas e, por isso, a Petrobras acaba oscilando mais em função do petróleo", disse o chefe de portfólio da Kilima Asset

As ordinárias da Vale (VALE3) subiram 1,51% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3) caíram 2,80%. As preferenciais da Usiminas (USIM5) cederam 1,02%.

No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tiveram quedas de 0,04% e 0,52%, respectivamente. Os ativos ON da Eletrobras (ELET3) subiram 3,76% e os PN (ELET6), 2,93%

Na ponta negativa, figuraram papéis mais sensíveis ao avanço dos juros futuros. As ordinárias da CVC (CVCB3) caíram 8,97% e as da Méliuz (CASH3), 8,33%. As units do Banco Inter (BIDI11) cederam 8,70%.

Petróleo cai mais de 5%

Após abrirem em alta diantes das preocupações com a oferta devido ao anúncio de novas sanções contra a Rússia, os preços dos contratos futuros do petróleo tiveram fortes quedas

Os EUA vão impor um bloqueio total do Sberbank, que detém um terço do total de ativos bancários da Rússia, e do Alfabank, maior banco privado russo. Por outro lado, a União Europeia (UE) não conseguiu alcançar o acordo que havia sido anunciado ontem e adiou a decisão de banir importações de carvão russo.

A reversão ocorreu depois do anúncio do aumento nos estoques de petróleo dos EUA e com notícias de que grandes países consumidores também liberariam petróleo de reservas em conjunto com os americanos para combater uma possível escassez de oferta.

Os estados membros da Agência Internacional de Energia (AIE) liberarão 120 milhões de barris de reservas estratégicas, incluindo 60 milhões dos EUA, segundo duas fontes familiarizadas com o assunto disseram à agência de notícias Reuters.

Nos EUA, os estoques subiram 2,421 milhões de barris na última semana, informou a Administração de Informações sobre Energia do país, enquanto os analistas esperavam uma queda. A produção também aumentou, atingindo 11,8 milhões de barris por dia.

A divulgação de uma ata mais dura por parte do Fed intensificou o movimento de baixa. O contrato para junho do petróleo tipo Brent caiu 5,2%, negociado a US$ 101,07, o barril. Já o contrato para maio do tipo WTI cedeu 5,6%, cotado a US$ 96,23, o barril.

Dados na China decepcionam

As bolsas americanas fecharam com quedas após a divulgação da ata do Fed. O índice Dow Jones cedeu 0,42% e o S&P, 0,97%. Em Nasdaq, ocorreu baixa de 2,22%.

Na Europa, as bolsas fecharam com baixas. A Bolsa de Londres cedeu 0,34%. Em Frankfurt e Paris, ocorreram quedas de 1,89% e 2,21%, respectivamente.

As bolsas asiáticas fecharam com direções contrárias, com os investidores avaliando dados do setor de serviços na China negativos.

O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caiu 1,58%. Em Hong Kong, houve queda de 1,87% e, na China, alta de 0,02%.

Na China, o índice gerentes de compras de serviços da Caixin de março ficou em 42 pontos ante os 50,2 registrados no mês anterior, enquanto que o índice composto de março, que inclui atividades de manufatura e serviços, caiu para 43,9 de 50,1 no mês anterior. O patamar de 50 pontos separa crescimento de retração em uma base mensal.

Os dados eram aguardados após as várias medidas restritivas adotadas por autoridades chinesas para conter o avanço da Covid-19.

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