O reajuste nos preços da gasolina, diesel e GLP, anunciado nesta quinta-feira (10) pela Petrobras e que valerá nas distribuidoras a partir de sexta-feira (11), tem levado economistas a revisarem suas expectativas de inflação, tanto para os meses de março e abril, quanto para o ano.
Além disso, cresce no mercado a perspectiva de que o indicador poderá chegar a 8% neste ano caso o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongue.
André Braz, coordenador do Índice de Preços da FGV, diz que o aumento divulgado hoje terá um impacto de 1,5 ponto no IPCA em março e 0,47 ponto no indicador em abril. Ele explica que, como o anúncio foi feito em meados de março, dois terços do aumento será captado neste mês, e o restante do efeito em abril.
"Eu tinha 6,2% [de projeção para o IPCA em 2022], agora saltei para 7,5%, mas ainda to tímido frente aos outros [analistas]. A inflação vai mais na direção de 8% no ano. O cenário para a inflação esse ano piorou muito por conta do conflito geopolítico", afirma.
Ainda na quarta-feira, antes do anúncio do reajuste nos preços, bancos anunciaram revisaram projeções para a inflação. O BNP Paribas calcula agora que o indicador chegue a 7% este ano, ante alta de 6%.
O Credit Suisse passou de 6,2% para 7% a estimativa para o IPCA em 2022, vislumbrando preços mais pressionados para gasolina e alimentos.O banço suíço colocou viés de alta na projeção e disse que, caso haja um reajuste total nos preços dos combustíveis, cenário não esperado pela casa, a projeção de inflação passaria para 7,8% em 2022.
Efeito cascata
O aumento nos preços dos combustíveis também exerce uma pressão indireta sobre outros preços direcionados ao consumidor, que já lida com custos mais elevados em itens básicos - como energia elétrica, gás de cozinha e alimentos - há mais de um ano.
Braz explica que o diesel é um dos principais custos do transporte público urbano, e seu aumento pode gerar uma pressão adicional em ano eleitoral para aumento das tarifas de ônibus. Outro fator de pressão sobre os preços é o frete, já que o transporte de diversas mercadorias nas rodovias pelo país é feito por caminhões, que queimam diesel.
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"O efeito indireto do diesel é perverso porque ele espalha as pressões inflacionárias", diz André Braz.
Tatiana Nogueira, economista da XP, manteve a projeção de inflação para 6,2% no ano - dado que o reajuste anunciado pela Petrobras antecipa na exata magnitude as altas já previstas no cenário-base para o ano -, mas revisou as projeções para março (0,85% ante 0,71%) e abril (0,94% ante 0,78%).
Ela avalia que o reajuste de quase 19% nas refinarias deve refletir um ligeiro aumento nas bombas, passando o preço médio do litro da gasolina de R$ 6,5 para um valor acima de R$ 7 ao consumidor.
A economista acredita que o reajuste feito pela Petrobras deve pressionar o Congresso para uma aprovação mais rápida de um pacote que tente conter o avanço dos preços dos combustíveis, dado que ainda há uma defasagem de 6,5% para o diesel e 10% para a gasolina.
"O diesel e a gasolina já vem de aumentos superiores a 40% do preço final. Continuar essa alta, num momento em que a população já não aguenta pagar [esse valor], [acho que] o governo vai intervir sim".
Risco de inflação perto de 8%
A guerra entre Ucrânia e Rússia é um segundo fator de preocupação para os analistas. Isso porque os preços das commodities agrícolas dispararam no mercado internacional, o que pode afetar as produções brasileiras. Soja e milho mais caros tornam mais custosa a criação de suínos e bovinos. Já o trigo mais elevado impactam os preços dos produtos básicos como pão francês e farinha de trigo.
"A gente já elevou a projeção de 5,2% para 6,2% por conta do conflito. Mas há riscos. Além do aumento do petróleo, citaria alimentação (com a alta de commodities agrícolas pesam sobre os preços de alimentos) e a segunda quebra das cadeias globais, que tende a impactar preços de bens industrializados. Se os níveis de petróleo continuarem tão altos como vemos hoje, e se tivermos um prolongamento muito grande do conflito, a inflação pode ficar perto de 8% esse ano".