Clientes indo às compras em loja de roupas
Reprodução: ACidade ON
Clientes indo às compras em loja de roupas

As vendas no varejo encerram o ano de 2021 com crescimento de 1,4%, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. É o quinto ano seguido de alta, mas o comportamento das vendas do segundo semestre mostra perda de fôlego do setor, com inflação alta e desemprego ainda elevado.

Para analistas, o ciclo de aumento dos juros — que deve se prolongar neste ano, tornando o crédito mais caro — e o elevado nível de endividamento podem ser travas para o avanço do setor em 2022.

Em dezembro, houve estabilidade nas vendas no varejo, com leve recuo de 0,1% na comparação com o mês anterior. Analistas esperavam queda de 0,5% no último mês do ano passado.

O comércio vinha registrando crescimento na primeira parte de 2021 (6,7%), mas teve uma sequência de quedas no segundo semestre, que acabou sendo encerrado com recuo de 3,0%. O comportamento foi inverso ao ano de 2020, que teve queda no primeiro semestre e alta na segunda metade do ano.

"Como o primeiro semestre de 2020 foi marcado pelo início da pandemia de Covid-19 no Brasil, com o fechamento do comércio durante vários meses em boa parte do país, a base de comparação para o primeiro semestre de 2021 era baixa e, portanto, o crescimento nesse período era esperado", explica o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

"Já a segunda metade de 2020 foi marcada pela retomada das atividades, enquanto que o mesmo período de 2021 não teve tanta força para o volume de vendas no varejo".

Inflação foi o principal freio do consumo

Nem mesmo as tradicionais vendas de Black Friday e Natal, em novembro e dezembro, conseguiram elevar o consumo na reta final de 2021.

Segundo o pesquisador, houve uma antecipação de compras por parte dos consumidores na pandemia, que resultou em um crescimento rápido seguido de queda.

Dentre os componentes que pressionaram o consumo nos últimos meses, Santos destaca que a inflação foi a principal.

"Outro fenômeno forte que influenciou a queda no varejo no fim do ano é a estabilização do crédito. Quando a taxa de juros sobe, o crédito acaba diminuindo para a pessoa física e as pessoas compram menos. Além disso, a renda média das famílias não vem crescendo e alguns setores, como informática, móveis e eletrodomésticos, foram afetados pela alta do dólar".

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Queda no setor de eletrodomésticos

Cinco setores fecharam o segundo semestre em queda, entre eles o de móveis e eletrodomésticos, que recuou 19,4% no período. Só no mês de dezembro, a queda neste segmento foi de 17,6%, na comparação com novembro.

No ano, móveis e eletrodomésticos recuaram 7%, reforçando que a queda mais acentuada foi de fato no segundo semestre.

As vendas no grupo Hiper e supermercados, alimentos e bebidas caíram 2,6% no ano. É um segmento bastante sensível à alta de preços. Por outro lado, o grupo Artigos farmacêuticos, médicos, de perfumaria e cosméticos subiram quase 10% em 2021.

Consumo menor em 2022

A variação mensal veio um pouco acima das expectativas da XP. Já a do ano, alinhada às projeções da corretora. Para o economista Rodolfo Margato, os próximos meses seguem sob os mesmos desafios que fizeram o varejo perder fôlego: inflação a dois dígitos, desaceleração da concessão de crédito e desemprego.

"O alta de juros, no entanto, é o grande fator a ser considerado como pressão para o consumo em 2022. A Selic já aumentou oito vezes e deve ter subir mais duas vezes, chegando a 12%", pontua Margato.

Por outro lado, o economista destaca pontos que podem mitigar estes impactos.

"Acreditamos na retomada do mercado de trabalho e que o novo programa de transferências do governo (Auxílio Brasil) permita algum crescimento, ainda que moderado, da massa de renda ampliada disponível às famílias este ano".

Na avaliação do estrategista-chefe do Modalmais, Felipe Sichel, o aperto da política monetária vai corroer não somente o poder de compra das famílias, que têm perda real na renda com a inflação, juros e desemprego, como impactar no dinamismo da atividade econômica. Pois este cenário, diz ele, afeta comerciantes e indústria também.

"Nossa leitura é que esta variação negativa no varejo restrito será intensificada em 2022", ressalta.

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