Por causa dos preços altos, consumo de carne é o menor em 16 anos

Brasileiro tem consumido 24,5 kg do alimento por ano, menor quantidade desde 2005

Novo estudo mostra que consumo de carne é o menor em 16 anos
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Novo estudo mostra que consumo de carne é o menor em 16 anos

Está cada vez mais díficil para os brasileiros incluírem a carne bovina em suas refeições por causa dos preços altos. Um levantamento realizado pelo especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA Cesar de Castro Alves para a  BBC News Brasil  revelou que cada pessoa tem consumindo 24,5 kg por ano — número próximo do registrado em 2005, 16 anos atrás.

Os dados são relativos ao chamado consumo aparente, isto é, à produção de carne bovina inspecionada, descontadas as exportações e somadas as importações. O número considera a produção de carne bovina de 7,4 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TECs), de exportações de 2,26 milhões de TECs e de importações de 73 mil TECs.

Em 2021, a carne bovina assistiu a um aumento expressivo em seus preços, especialmente no primeiro semestre. No acumulado dos últimos 12 meses até novembro, o produto já ficou 33% mais caro, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). E esse aumento tem pesado no bolso dos consumidores.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país,  já acumula uma alta de 9,26%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com isso, um brasileiro que ganha um salário mínimo (R$ 1.100) já perdeu R$ 101,90 em poder de compra. 

O que explica o aumento da carne?

Alta do dólar, a crise hídrica, o aumento nos preços do milho e da soja e a menor disponibilidade de bois são alguns dos motivos para que a carne bovina ficasse mais cara. O dólar alto e a escassez de chuvas ajudam a explicar a alta expressiva na cotação de commodities como o milho e a soja, que são usados como matéria-prima para a produção da ração dos animais.

A seca ainda diminuiu as áreas disponíveis para os pastos, fazendo com que as despesas com o gado ficassem cada vez maiores. Também há menos bois disponíveis para o abate, graças ao ciclo de reprodução das fêmeas. Todos esses custos acabam sendo repassados aos consumidores finais.

Embargo da China

Nem o embargo da China às importações de carne brasileira fez com o que o produto  ficasse mais barato aqui no nosso país. De fato, ele levou a uma queda na cotação do arroba do boi gordo. Mas mesmo assim, a carne bovina continuou em alta para os consumidores.

Em setembro, os chineses decidiram suspender a compra da carne após a confirmação de  dois casos atípicos de mal da vaca louca em frigoríficos do Mato Grosso e de Minas Gerais. Mesmo após a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)  afirmar que os casos não apresentavam risco à saúde humana, o país asiático resolveu manter o veto, que chegou ao fim nesta quarta-feira (15).

Um dos fatores que explicam o porquê o produto continuou caro no varejo é a diferença no modo de consumo. O mercado interno é abastecido por cortes traseiros (carnes de primeira), enquanto os dianteiros (carnes de segunda) normalmente são voltados para a exportação. É justamente esse último que viu seu preço cair.

Além disso, com a exportação para a China parada, os frigoríficos reduziram os abates e as compras de boi gordo. A menor oferta, por sua vez, levou a um aumento dos preços.